Bloomberg — Um míssil acidental disparado pela Índia na semana passada levou o Paquistão a preparar um ataque de retaliação, segundo informaram fontes familiarizadas com o assunto, mostrando o quanto os vizinhos com armas nucleares chegaram perto de um erro potencialmente desastroso.
O Paquistão se preparou para lançar um míssil semelhante para atacar a Índia, mas se conteve porque uma avaliação inicial indicou que algo estava errado, disseram as fontes familiarizadas com o assunto. O míssil indiano acabou danificando algumas propriedades residenciais, mas não causou vítimas.
A Força Aérea Indiana disparou o míssil de cruzeiro de médio alcance, BrahMos, em 9 de março, da cidade de guarnição Ambala, cerca de 200 quilômetros ao norte da capital Nova Deli, segundo fontes familiarizadas com o assunto na Índia. O acidente ocorreu devido a erros humanos e técnicos durante um exercício de rotina para verificar sistemas capazes de realizar ações ofensivas na guerra, explicaram as fontes.
Ainda assim, após o lançamento, a Índia não usou a linha direta entre os principais comandantes do exército de ambos os lados para informar o Paquistão, segundo as fontes, que pediram para não serem identificadas devido à sensibilidade da informação. Em vez disso, oficiais da Força Aérea decidiram desligar os sistemas de mísseis para evitar novos lançamentos, disseram elas.
O Paquistão realizou um briefing para divulgar o incidente um dia depois, depois de não ouvir uma explicação da Índia, disseram as fontes. A Índia finalmente ofereceu uma resposta na sexta-feira (11) após o protesto paquistanês sobre o lançamento.
A Força Aérea do Paquistão disse que rastreou a trajetória de voo do míssil da cidade indiana de Sirsa até seu local de pouso na cidade de Mian Channu, na província paquistanesa de Punjab, disse o porta-voz militar, major-general Babar Iftikhar, a repórteres em Rawalpindi, sede do quartel-general militar.
Embora todos os mísseis de cruzeiro tenham alvos designados, o que foi disparado não se armou porque não conseguiu chegar ao destino pretendido, disseram as fontes. A Força Aérea Indiana está atualmente revisando o que deu errado, bem como quaisquer mudanças nos procedimentos operacionais padrão para lançamentos de mísseis, disseram as fontes.
A Força Aérea Indiana, o Exército Indiano e o Ministério da Defesa Indiano não responderam aos pedidos de comentários. O Exército do Paquistão e o Ministério das Relações Exteriores também não responderam imediatamente às perguntas.
Falando no parlamento na terça-feira (15) o ministro da Defesa indiano, Rajnath Singh, informou que um inquérito revelaria as razões exatas que levaram ao lançamento acidental. “A Índia dá prioridade máxima à segurança de seus sistemas de mísseis e qualquer lacuna revelada pela investigação será abordada”, disse ele.
‘Muito sério’
Em um comunicado no fim de semana, o Paquistão pediu à comunidade internacional “que tome nota deste grave incidente em um ambiente nuclearizado”.
“Imagine se a Força Aérea do Paquistão não procurasse a Índia para saber que havia sido acidente, quais seriam as implicações e consequências disso”, disse o ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Shah Mahmood Qureshi, em um briefing em Islamabad na terça-feira (15). “Isso é muito sério.”
As ogivas nucleares e os mecanismos de lançamento da Índia são sempre mantidos separados em tempos de paz. Os mísseis com armas nucleares do país estão sob o Comando de Forças Estratégicas liderado pelo primeiro-ministro, e várias camadas de permissões são necessárias antes que possam ser movidos.
As relações entre a Índia dominante hindu e o Paquistão, de maioria muçulmana, têm sido hostis desde que ambos conquistaram a independência do domínio britânico em 1947. As tensões se concentraram na região fronteiriça da Caxemira, uma área no Himalaia reivindicada integralmente - e governada em parte - por ambos os países. Eles lutaram duas de suas três guerras pelo controle da região.
As tensões aumentaram desde 2019, quando um homem-bomba matou 40 policiais paramilitares indianos na Caxemira controlada pela Índia. O governo do primeiro-ministro Narendra Modi respondeu com os primeiros ataques aéreos da Índia em solo paquistanês desde 1971, o que levou a um combate aéreo.
Os países têm um acordo em vigor para notificar uns aos outros antes de realizarem testes de voo de mísseis balísticos e exercícios militares. Esse acordo não se estende a testes de mísseis de cruzeiro.
“Qualquer voo de míssil de cruzeiro, especialmente para um míssil de cruzeiro mais rápido que a média, como o BrahMos, ocorre muito rapidamente”, disse Christopher Clary, membro não residente do programa do Sul da Ásia do Stimson Center. “Mesmo que os radares de defesa aérea paquistaneses tivessem observado o míssil, o que não está claro se ocorreu, teria havido apenas alguns minutos ou mesmo alguns segundos para coordenar uma resposta à intrusão.”
– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.
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