Por Gino Matos para Mercado Bitcoin
São Paulo — Petrópolis, 15 de fevereiro de 2022. A cidade, localizada na região serrana do Rio de Janeiro, se viu, novamente, em meio à tragédia dos deslizamentos de terra após fortes chuvas, que deixaram mais de 200 mortos e quase 900 desabrigados. Diante da situação de vulnerabilidade das centenas de moradores que perderam suas casas, mais uma vez o mundo cripto se uniu para prestar solidariedade por meio da ajuda financeira.
Segundo a organização filantrópica americana The Giving Block, o uso de moedas digitais como doações a causas humanitárias avança. Cresceu 1.559% entre os anos de 2020 e 2021, segundo levantamento publicado em fevereiro último. O valor médio das contribuições feitas em criptoativos também registrou um salto considerável, passando de US$ 128 para US$ 10.455 no período.
Para a Giving Block, esse aumento significativo pode ser atribuído à praticidade da doação em criptomoedas, feita de forma menos burocrática, com “menos papelada”, por serem negociadas em um ambiente descentralizado.
Exemplos recentes internacionais puderam ser vistos nas últimas semanas. Após a invasão russa, a Ucrânia passou a aceitar doações em Bitcoin e outras quatro criptomoedas, visando prestar auxílio aos ucranianos que não conseguiram deixar o país e se encontram em meio à guerra. Até a última quinta-feira as doações recebidas em moedas digitais ultrapassavam US$ 50 milhões.
Ajuda a Petrópolis
No Brasil, onde estima-se que mais de R$ 250 bilhões em criptomoedas estejam nas mãos de investidores pessoa física, a campanha de solidariedade iniciada pela Procuradora da Fazenda Nacional, Ana Paula Bez Batti, batizada de “Solidariedade a Petrópolis”, recebeu o apoio de 10 representantes do mercado cripto, de exchanges a sites voltados à cobertura desse segmento financeiro. Entre eles, o Mercado Bitcoin, maior corretora de criptomoedas da América Latina.
Os valores recebidos em moedas digitais serão direcionados ao Centro Educacional Terra Santa, instituição de Petrópolis voltada à assistência social. “Uma campanha de arrecadação de recursos em criptoativos permite que qualquer pessoa, bancarizada ou desbancarizada, de qualquer lugar do mundo, participe”, diz Ana Paula.
Ela ressalta que a transparência das blockchains do Bitcoin e do Ethereum, duas moedas aceitas nas doações, permitem a realização de uma auditoria pública de forma confiável. As stablecoins USDC e USDT também podem ser usadas na campanha.
‘Jojo vai para a Rússia’
A solidariedade do mercado de criptoativos também chega em causas individuais. Joana Gusson, de 6 anos, recebeu ajuda para se tratar fora do Brasil após a campanha, deflagrada em abril de 2021, intitulada “Jojo vai para a Rússia” arrecadar o valor de R$ 250 mil necessário para custear as despesas com o tratamento.
Jojo nasceu com uma mutação genética que gerou um quadro de epilepsia de difícil controle e autismo. Devido às frequentes crises decorrentes do problema, ela desenvolveu paralisia cerebral. Um tratamento experimental com foco em paralisia cerebral infantil, envolvendo células-tronco, foi desenvolvido na Rússia.
“Usando cripto, a captação do valor ficou muito mais transparente e permitiu que pessoas de todo o mundo, inclusive o Don Tapscott [autor do famoso livro Blockchain Revolution], pudessem ajudar na campanha”, conta o pai de Jojo, o jornalista Cassio Gusson, especializado no mercado de criptomoedas.
Gusson ressalta que uma das vantagens das doações em criptoativos é a não restrição geográfica, possibilitando que interessados do mundo inteiro contribuam com diferentes causas de forma simples e rápida. No caso de sua filha, a campanha teve até mesmo doações em NFTs desenvolvidos por artistas brasileiros, cujos valores foram convertidos. Jojo teve avanço positivo em seu quadro de saúde, conta Gusson.
NFTs para os Falcões
O artista Gabriel Wickbold e a BMW organizaram um evento beneficente, em dezembro de 2021, em prol da organização sem fins lucrativos (ONG) Gerando Falcões, voltada a moradores de favelas. Cinco NFTs com imagens exclusivas de carros da montadora alemã foram leiloados, com o valor arrecadado destinado à ONG.
“A ideia foi criar uma série de NFTs com carros personalizados para a BMW e então surgiu a intenção de converter as criações em algo maior, que resultou no leilão das obras”, conta Wickbold.
Um dos NFTs, intitulado “I am Light”, foi comprado pela incorporadora Lumy por R$ 150 mil e o token acabou incorporado ao patrimônio da empresa. Vitor Del Santo, CEO da Lumy, diz que a blockchain é uma alternativa que permite o acesso de qualquer pessoa aos investimentos, algo semelhante à proposta da incorporadora. “A aquisição do NFT é um símbolo dessa nossa proposta”.