China adverte EUA contra formação de uma Otan no Pacífico e apoio a Taiwan

Várias nações asiáticas buscaram laços mais estreitos com os EUA para evitar serem dominados pelo maior player da região

Coletiva de imprensa do Ministro de Relações Exteriores chinês
Por Bloomberg News
07 de Março, 2022 | 11:19 AM

Bloomberg — A China alertou os Estados Unidos contra a tentativa de construir o que o país chamou de uma versão da Otan para o Pacífico, ao mesmo tempo em que declarou que as disputas em torno da segurança relativas a Taiwan e à Ucrânia “não são nada comparáveis”.

O ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, disse em sua coletiva de imprensa anual na segunda-feira (7) que o “objetivo real” da estratégia americana do Indo-Pacífico era criar uma resposta asiática à Organização do Tratado do Atlântico Norte. A China costuma acusar os Estados Unidos de tentar formar blocos para suprimir seu crescimento, uma queixa que provavelmente atrairá mais atenção depois que o presidente Vladimir Putin citou queixas semelhantes antes de sua invasão da Ucrânia.

“As ações perversas vão contra a aspiração comum da região por paz, desenvolvimento, cooperação e resultados em que todos ganham”, acrescentou Wang. “Elas estão fadados ao fracasso.”

Reclamações sobre os esforços dos EUA para fortalecer sua rede de alianças na Ásia estavam entre vários pontos de discórdia levantados por Wang no briefing de quase duas horas, paralelamente ao Congresso Nacional do Povo em Pequim. O diplomata sênior repetidamente aludiu aos EUA como a fonte de problemas com países ao redor do mundo e emitiu alguns dos alertas mais contundentes da China contra pedidos para expandir os laços dos EUA com Taiwan.

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“Isso não apenas empurraria Taiwan para uma situação precária, mas também traria consequências insuportáveis para o lado dos EUA”, disse Wang nos bastidores do Congresso Nacional do Povo em Pequim, acrescentando mais tarde: “Taiwan acabará voltando aos braços de sua pátria”.

Várias nações asiáticas - como suas contrapartes na fronteira europeia da Rússia - buscaram laços de segurança mais estreitos com os EUA para evitar serem dominados pelo maior player da região. A China tem disputas fronteiriças ativas com vizinhos como Japão, Índia e Vietnã e intensificou a pressão militar, diplomática e econômica sobre Taiwan, enviando aviões de guerra em cerca de 960 incursões pela zona de identificação de defesa aérea da ilha no ano passado.

O governo Biden delineou esforços para combater a crescente influência chinesa em sua estratégia para o Indo-Pacífico divulgada no mês passado. Os EUA procuraram construir uma coalizão de democracias em todo o mundo, incluindo parceiros de tratados tradicionais, como o Japão, e novos agrupamentos, como o Quad, incluindo também Austrália e Índia.

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O ataque da Rússia à Ucrânia minou a confiança de que as potências mundiais seriam capazes de evitar uma crise semelhante em Taiwan, uma ilha governada democraticamente com mais de 23 milhões de habitantes e importante fonte global de semicondutores. Wang rejeitou as comparações, argumentando que Taiwan faz parte do território chinês - uma alegação que a presidente Tsai Ing-wen, em Taipei, rejeitou.

“Alguns, enquanto falam sobre o princípio da soberania na questão ucraniana, continuam minando a soberania e a integridade territorial da China na questão de Taiwan – este é um exemplo muito óbvio de dois pesos e duas medidas”, disse Wang.

A Rússia lançou sua ação na Ucrânia semanas depois que o presidente Xi Jinping recebeu Putin em Pequim, e declarou publicamente que sua amizade “não tinha limites”. A China procurou evitar tomar uma posição no conflito, pois tenta equilibrar o apoio aos esforços russos para desafiar o domínio dos EUA com seu interesse de ser considerada uma grande potência responsável.

‘Sólido com uma rocha’

Wang perdeu outra oportunidade de criticar a ação militar da Rússia ou chamá-la de “invasão”, dizendo que os laços entre os dois países permanecem “sólidos como uma rocha”. A Rússia está cada vez mais dependente do apoio chinês à medida que enfrenta uma enxurrada de sanções lideradas pelos EUA por causa do derramamento de sangue na Ucrânia.

“Não importa quão precária e desafiadora seja a situação internacional, a China e a Rússia manterão um foco estratégico e avançarão constantemente em nossa parceria e coordenação estratégica abrangente”, disse ele.

Wang disse que a China em breve oferecerá assistência humanitária à Ucrânia. O briefing ocorre no momento em que as forças russas continuam bombardeando cidades ucranianas, aumentando o medo de baixas em massa e uma crise humanitária mais ampla.

“A China está preparada para continuar desempenhando um papel construtivo para facilitar o diálogo pela paz e trabalhar ao lado da comunidade internacional quando necessário para realizar a mediação necessária”, disse Wang, deixando de esclarecer se Pequim mediaria diálogos entre Kiev e Moscou.

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– Com a colaboração de Jing Li e Philip Glamann.

– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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