Zé Delivery entrega mais cerveja por moto e ajuda Ambev a faturar mais

Aplicativo aumenta área de abrangência e tem ganhos de eficiência em 2021, destacou CEO da cervejaria

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São Paulo — O Zé Delivery virou a galinha dos ovos de ouro da Ambev (ABEV3). O app de entrega de bebidas bombou durante o fechamento dos bares e restaurantes na pandemia da covid e acabou se transformando numa máquina de fazer dinheiro. Para 2022, a companhia aposta ainda mais no serviço para faturar mais. A ideia é potencializar os ganhos de eficiência, com o motoqueiro do app fazendo duas entregas por viagem. Nesta quinta-feira (24), o CEO da Ambev, Jean Jereissati, falou com entusiasmo sobre o Zé Delivery, durante teleconferência com analistas de bancos para comentar o balanço de 2021.

“Em 2021, o Zé chegou a 300 cidades, entregou 61 milhões de pedidos e começamos 2022 com 4 milhões de usuários ativos mensalmente”, disse o executivo, exemplificando a importância da inovação digital, distribuição e logística para elevar o lucro operacional em ano de Copa do Mundo de Futebol e de eleições presidenciais.

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Já o CFO da Ambev, Lucas Lira, destacou os ganhos de eficiência com a operação do app. “O Zé Delivery é maior já, já começamos a ver ganhos de eficiência à medida em que a gente chega à última milha de maneira mais eficiente. Estamos cada vez mais fazendo duas entregas usando a mesma motocicleta. Estamos administrando a receita melhor de modo geral. O negócio está crescendo e ficando mais eficiente. Esse é outro componente que ajuda muito no crescimento”, comentou Lira.

A ômicron e o clima chuvoso não ajudaram nas vendas de cerveja no quarto trimestre. “As ocasiões de se encontrar fora de casa com amigos, reuniões, isso é um pouco volátil, está melhorando, piorou, acho que vai melhorar de novo. Essas ocasiões e encontros estão retornando. Ao longo do ano, isso vai ter um cenário um pouco mais positivo com relação ao ano passado”, afirmou o CFO, expressando confiança de que as celebrações do Carnaval fora do calendário tradicional no Brasil e a Copa do Mundo vão manter aquecida a demanda por cerveja.

Spaten, Corona e Cusqueña

As cervejas mais caras estão ganhando mais espaço no portfólio da Ambev, uma estratégia que seu balanço prova como acertada. Em 2021, a Ambev lucrou R$ 13,4 bilhões, um crescimento de 11%, sendo um lucro de R$ 7 bilhões no quarto trimestre.

Alcançamos um desempenho recorde de nosssa receita com volume anual em um nível totalmente novo: 180 milhões de hectolitos, 14 milhões a mais do que no ano anterior”, disse Jereissati, pontuando ainda que o Ebitda o grupo voltou ao crescimento de duplo dígito, acima do nível pré-pandemia, apesar do aumento de custos “sem precedentes”.

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Ao falar sobre marcas do segmento premium, o CEO da Ambev destacou, por exemplo, a cerveja alemã Spaten. “Depois do sucesso do lançamento de Brahma Duplo Malte, a Spaten chega com muita força no Brasil. Esse segmento é uma grande oportunidade em todos os país”, afirmou o executivo.

Fora do Brasil, ele também destacou outras marcas no mercado da América do Sul. “Andes Origen liderando na argentina, Cusqueña indo muito bem no Chile. E Skol surpreendendo no Paraguai”.

A América Central e o Caribe também estão entregando resultados satisfatórios para a Ambev, segundo o CEO. A cerveja Corona tem performado bem nessas regiões da América Latina, além do Canadá.

A América Latina Sul foi o nosso motor de crescimento, com volumes crescendo quase 9% e receita líquida por hectolitro crescendo 31%. Temos tido sólido desempenho na América Central e no Caribe com volume crescendo 2,5% e receita por hectolitro crescendo 16%. No Canadá, houve crescimento de quase 4% em volume e receita”, informou Jereissati.

Preço e concorrência

Após sair o balanço, o Bradesco BBI e a Ágora Investimentos mantiveram a recomendação de compra para a ação da Ambev com preço-alvo de R$ 21. Hoje o papel oscilou bastante, como quase a totalidade das ações do Ibovespa devido ao aumento do risco geopolítico com o ataque da Rússia à Ucrânia, mas fechou a R$ 14,84, alta de 0,20%.

“As ações da Ambev tiveram desempenho inferior ao Ibovespa em 11 pontos percentuais no acumulado do ano, uma vez que os investidores ficaram preocupados que a fraqueza nos volumes de cerveja brasileira nos últimos meses possa persistir em 2022 devido a desafios macro (por exemplo, declínio na renda disponível), apesar da Ambev continuar ganhando participação no 4T21 (os volumes de cerveja caíram 3% em base anual, enquanto a produção de bebidas alcoólicas do IBGE caiu 8,5% no período)”, escreveram os analistas Leandro Fontanesi (Bradesco BBI) Ricardo França (Ágora Investimentos), em nota.

Eles citaram ainda que, em fevereiro, a maior concorrente da Ambev no Brasil (a holandesa Heineken, dona das marcas Heineken, Eisebahn, Devassa, Amstel e Tiger) aumentou os preços de seus produtos. Para os analistas, isso pode beneficiar os volumes e a receita da Ambev no primeiro e segundo trimestre deste ano. “A Petrópolis pode continuar enfrentando desafios para recuperar a lucratividade, proporcionando um ambiente competitivo favorável para a Ambev em 2022″, observaram os analistas.

O impacto da “inflação das commodities” é um ponto de atenção para acompanhar o desempenho da Ambev neste ano. A cotação internacional do milho, um dos seus principais insumos, tem registrado um rali. A alta do milho é impulsionada pelo conflito entre Rússia, grande produtora do cereal, e Ucrânia, além da estiagem no sul do Brasil.

“Há risco de queda em nossas estimativas de margem no primeiro semestre de 2023 devido à crise Rússia-Ucrânia, dado que o atual rali das commodities os preços geralmente levam 12 meses para serem refletidos nos resultados. Vemos as ações da Ambev sendo negociadas a um P/L 2022e de 17,4x, abaixo da média histórica de 23,0x”, mencionou a nota do Bradesco BBI e da Ágora Investimentos.

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