Bloomberg Línea — A Seleção Mexicana de Futebol tem como patrocinadores oficiais uma dupla de unicórnios – empresas recém-criadas que superam o valuation de US$ 1 bilhão – que a acompanharão em sua busca por um lugar na Copa do Mundo do Catar.
A revendedora de carros usados Kavak e a exchange de criptomoedas Bitso entraram para a lista de patrocinadores da seleção, dividindo um lugar com grandes empresas como Coca-Cola (KO) AT&T (T), Adidas e o Grupo Financiero Banorte (GFNORTEO).
A participação cada vez maior de startups com capital, empresas de tecnologias e que oferecem produtos como criptoativos ou NFTs não é surpresa para especialistas do setor de patrocínios esportivos.
“Novas categorias e áreas estão surgindo, como acontece na vida e na própria economia”, disse Carlos Cantó, CEO da SPSG Consulting, consultoria de patrocínio esportivo com sede na Espanha, que inclui clientes como Banco Santander e Enel, em entrevista à Bloomberg Línea.
Em nível internacional, as plataformas de criptomoedas ganharam espaço no mundo dos patrocínios. A Crypto.com é parceira patrocinadora global da Fórmula 1 desde junho de 2021. O alcance da empresa também chegou à NBA, gerando até a mudança do nome do ginásio onde joga o Los Angeles Lakers, anteriormente conhecido como Staples Center.
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Outra empresa do setor, a Binance, optou por patrocinar a seleção argentina.
Na América Latina, empresas como o Nubank, que abriu capital na bolsa no final do ano, ou a Rappi também fazem parte dessa onda de startups com capital que entraram no mundo dos patrocínios esportivos pela porta da frente.
A primeira é patrocinadora regional da Copa do Mundo, ao passo que a empresa colombiana apoia sua seleção nacional, bem como a McLaren Racing da Fórmula 1.
Cantó lembrou que anos atrás os patrocínios para Fórmula 1 vinham de empresas de tabaco e álcool, e aos poucos seus lugares foram ocupados por outros tipos de empresas, como bancos.
A Kavak, fundada em 2016 e que em sua mais recente rodada de investimentos levantou US$ 700 milhões, entrou no mundo dos patrocínios justamente na Fórmula 1, vinculando sua marca à do piloto mexicano Sergio ‘Checo’ Pérez.
Em 2021, intensificou suas atividades relacionadas ao esporte. O goleiro Guillermo Ochoa se tornou acionista no meio do ano. A empresa tornou-se patrocinadora do Club de Fútbol América, do Grupo Televisa antes de passar para a seleção nacional em novembro.
“Um dos nossos principais objetivos é apoiar o crescimento do país onde pudermos contribuir”, disse Alejandro Guerra, diretor geral da Kavak México, no comunicado de divulgação da associação.
Guerra destacou que a motivação por trás de seus investimentos esportivos é a inspiração dos atletas talentosos para “milhões de mexicanos”.
Segundo Cantó, da SPSG Consulting, as empresas optam por alocar recursos em patrocínios esportivos pois estes oferecem vantagens em relação a outros tipos de estratégias de marketing e promoção.
Por um lado, não são intrusivos; ou seja, há uma disposição do público em receber e digerir as mensagens.
Além disso, podem atingir diversos objetivos além da visibilidade da marca. É possível obter receita, captar novos clientes, ganhar reputação ou até mesmo fomentar o orgulho dos funcionários por pertencer à empresa.
Esse tipo de patrocínio também permite que vários públicos sejam alcançados ao mesmo tempo, não apenas torcedores ou clientes em potencial, o que abre o leque para investidores ou outros grupos de interesse.
“Por isso o patrocínio esportivo só cresce”, destacou Cantó.
Todos saem ganhando

Clubes, atletas, eventos – conhecidos como properties no setor – oferecem direitos de patrocínio por tempo limitado.
As empresas tornam-se patrocinadoras por meio de compensação financeira ou em espécie; embora na maioria dos casos a compensação seja mista.
“É vantajoso para as duas partes do acordo”, acrescentou Cantó.
Quando a Bitso anunciou em novembro o patrocínio do Tigres Club da Universidad Autónoma de Nuevo León por três anos, ficou claro que a colaboração entre as duas instituições foi além da vinculação de marcas.
A aliança contempla a possibilidade de os torcedores efetuarem pagamentos por meio de criptomoedas ao visitarem os estádios e comprarem na loja virtual do time, abrindo a possibilidade de emissão de fan tokens e NFTs.
Além disso, também analisa a possibilidade de usar criptomoedas para pagar parte do salário dos jogadores e a de usá-las em transações de transferência de jogadores.
“Essas alianças nos permitem ser agentes de mudança que ajudam a transformar o setor”, disse Mauricio Culebro, presidente da Tigres, na conferência sobre o anúncio do patrocínio.
Em 31 de janeiro, a Tigres Femenil fez a primeira transferência internacional com uso de criptomoedas por meio do patrocinador. Por meio dos criptoativos, a jogadora Stefany Ferrer foi transferida para o Angel City FC, time da Liga Nacional de Futebol Feminino.
A Bitso, que levantou US$ 250 milhões em sua última rodada de investimentos, tem uma estratégia de crescimento com foco em outros mercados latino-americanos, como o Brasil, o gigante econômico da região, e também assinou acordos de patrocínio com o clube São Paulo.
Há algumas semanas, ele anunciou sua incorporação como patrocinador da seleção mexicana.
Ter a Bitso na família oferece aos “torcedores, por meio das criptomoedas, uma nova maneira de se relacionar com a seleção”, disse Yon de Luisa, presidente da Federação Mexicana de Futebol, em comunicado.
Investimento em dobro
Um dos desafios enfrentados pelas empresas que decidem entrar no ramo de patrocínios esportivos tem a ver com os investimentos vinculados para aproveitar essas alianças.
“Quando uma marca investe em patrocínio, tem que investir em dobro”
Carlos Cantó, CEO da SPSG Consulting
O especialista destacou que algumas marcas consomem todo o orçamento de patrocínio para adquirir direitos de patrocínio e depois ficam sem recursos para executar o patrocínio. Por outro lado, um patrocínio bem administrado pode ser uma aposta lucrativa e mensurável com base em objetivos.
“As marcas veem com cada vez mais clareza que este é um investimento de longo prazo”, acrescentou o CEO da SPSG Consulting.
--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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