Produção de café do Brasil fica aquém do esperado

Geada na fase inicial e baixa disponibilidade de água durante o desenvolvimento devem comprometer oferta no maior produtor mundial

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Bloomberg Línea — O Brasil vai produzir em 2022 cerca de 55,7 milhões de sacas de café. A primeira estimativa realizada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a colheita deste ano prevê um volume 16,8% maior do que a produção do ano passado. Contudo, o número aparentemente positivo pode esconder uma armadilha para os mais desavisados. Esse crescimento ocorre sobre a base negativa do ciclo de produção de café.

O café é uma cultura perene, ou seja, não é necessário fazer o plantio de uma nova lavoura todos os anos como ocorre com a soja e o milho, por exemplo. Com isso, um mesmo pé de café pode ficar em produção por muitos anos, permitindo uma colheita por ano. Porém, após atingir seu ápice produtivo, no ano seguinte a planta naturalmente produz um volume menor, de forma a se preservar para no ano seguinte alcançar novamente um pico de produção. Essa oscilação entre uma safra maior seguida por uma menor é chamada de bienalidade do café.

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Em 2022, a bienalidade das lavouras é de alta, ou seja, é esperada que a produção seja superior à do ano passado, quando o ciclo foi de baixa. Em comparação a 2020, último ano de ciclo positivo, no entanto, a oferta deste ano representará uma queda de 12%. As geadas que atingiram algumas das principais regiões produtoras ainda no ano passado, comprometendo o desenvolvimento da florada e produtividade. Em comparação ao ano passado, o rendimento das cafezais irá crescer 16%, porém, será 9% inferior a 2020.

As condições climáticas estão oscilantes e não estão favoráveis à cultura em algumas regiões produtoras, especialmente no aspecto pluviométrico, registrando períodos de estiagem em fases importantes para o desenvolvimento do café, além de incidência de geadas nas fases iniciais do ciclo em certas localidades”, disse a Conab em seu relatório.

O Estado de Minas Gerais resume um pouco do que deve ser a produção deste ano. No maior Estado produtor do Brasil, a maior parte das lavouras está em fase de floração e formação de frutos, porém com potencial produtivo aquém do esperado, principalmente pelos problemas enfrentados com chuvas em níveis menores, de forma irregular, temperaturas médias elevadas e até incidência de geadas em algumas regiões, que impactaram o desenvolvimento de muitas dessas plantas.

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A produção do Espírito Santo, segundo no ranking nacional, colheu no ano passado um volume recorde de pouco mais de 14 milhões de sacas, mesmo no ciclo de baixa. Neste ano, a expectativa é de uma oferta de 15,85 milhões, 12% a mais do que 2021 e 14% acima da produção de 2020.