Volatilidade do Bitcoin afetou desempenho do S&P 500, diz estudo do FMI

Análise de pesquisadores concluiu que desempenho da criptomoeda está cada vez mais parecido com ativos tradicionais

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Bloomberg Línea — Nos últimos 13 anos, tornou-se cada vez mais comum ouvir sobre o Bitcoin (BTC) nos mercados financeiros, a ponto de já existirem empresas de criptomoedas listadas e até ETFs que replicam o comportamento dos futuros em Wall Street.

Durante boa parte de sua vida, o ativo foi considerado alheio ao desempenho de valores, como ações tradicionais. Mas esse não é mais o caso, de acordo com uma análise de pesquisadores do Fundo Monetário Internacional publicada esta semana.

As contas, elaboradas por Tobias Adrian, Tara Iyer e Mahvash S. Qureshi, membros do Departamento de Mercado Monetário e de Capitais da organização, indicam que os retornos desta criptomoeda são cada vez mais semelhantes aos de indicadores como o S&P 500 (SPX), um dos principais índices dos Estados Unidos. A semelhança aumentou ainda mais depois das medidas tomadas pelo Federal Reserve para controlar a crise econômica proveniente da pandemia.

Os autores concluíram que, entre 2017 e 2019, os retornos da maior criptomoeda por capitalização de mercado não apresentaram relação direta com o S&P 500. Seu coeficiente de correlação, medida que mostra a dependência entre duas variáveis, foi de apenas 0,01 quando seus movimentos diários foram analisados. No entanto, entre 2020 e 2021, o número subiu para 0,36. Em outras palavras, a possibilidade de ambos os ativos subirem ou descerem ao mesmo tempo aumentou.

A análise também constatou que essa associação é muito mais evidente em mercados emergentes: a correlação entre os retornos do Bitcoin e o índice de mercados emergentes MSCI (EMEG11) cresceu 17 vezes entre 2020 e 2021 em relação aos anos anteriores.

Esse comportamento mostra não apenas que o desempenho do Bitcoin é cada vez mais semelhante ao dos ativos tradicionais, mas que a sensação de risco está mais relacionada aos mercados de ações, a ponto de causar sua queda.

Uma forte queda nos preços do Bitcoin pode aumentar a aversão ao risco dos investidores e gerar uma queda nos investimentos nos mercados de valores. Os efeitos indiretos na direção inversa, ou seja, do S&P 500 para o Bitcoin, são em média de magnitude semelhante, sugerindo que o sentimento de um mercado é transmitido ao outro de maneira não trivial”, escreveram os autores.

Essa relação é demonstrada pelo fato de a volatilidade do Bitcoin explicar cerca de um sexto da volatilidade do S&P 500 durante a pandemia e cerca de um décimo da variação nos retornos desse indicador.

“Nossa análise mostra que os efeitos indiretos entre mercados de criptomoedas e de ações tendem a aumentar durante episódios de volatilidade do mercado financeiro, como na turbulência do mercado de março de 2020, ou com oscilações bruscas nos preços do Bitcoin, como observado no início de 2021″, acrescentaram os pesquisadores.

Para eles, é sinal de que os criptoativos não estão mais às margens do sistema financeiro. Não apenas porque seu valor de mercado já bate os US$ 2 bilhões – quase quadruplicando seu valor desde 2017 – mas também porque aumenta o risco de contágio de e para ativos tradicionais.

“Dada sua volatilidade e valuations relativamente altos, sua nova ação conjunta pode em breve representar riscos para a estabilidade financeira, principalmente em países com ampla adoção de criptomoedas”, acrescentaram.

Para controlar isso, os autores sugeriram a adoção de um marco regulatório global que inclua requisitos claros para as instituições financeiras quanto à sua exposição; o monitoramento do ecossistema criptográfico e das violações de dados criadas pelo anonimato desses ativos, entre outras medidas.

-- Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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