Ouro se torna ‘desinteressante’ e tem pior ano desde 2015

Investidores perdem interesse no metal e fundos do tipo ETF que seguem commodity perdem apelo

Ouro tem pior ano desde 2015
Por Eddie Spence
31 de Dezembro, 2021 | 01:27 PM

Bloomberg — O ouro está prestes a terminar 2021 da mesma forma que passou grande parte do ano: pouco oscilando e cambaleando em torno de US$ 1.800 a onça.

Após um início tumultuado da pandemia que levou o ouro a níveis recordes em 2020, o metal, famoso por ser um hedge contra o aumento dos preços, não conseguiu capitalizar sobre a inflação escaldante deste ano. Os traders parecem ter perdido neste ano o interesse no metal, deixando as negociações em faixas estreitas por semanas a fio, enquanto os fundos do tipo ETF referenciados em ouro perdem seu apelo entre os investidores.

O ouro à vista caiu cerca de 4% este ano, e segue no caminho de sua maior desvalorização anual desde 2015.

Um dólar americano mais forte e a ameaça de uma retração nos estímulos pelos principais bancos centrais do mundo dissuadiram muitos investidores no interesse pelo metal, vendo melhores oportunidades de ganhos no mercado de ações.

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Os empolgantes booms e do Bitcoin - frequentemente apresentado como um equivalente digital do ouro - também chamaram a atenção.

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O ouro começou o ano pressionado, caindo 10% no primeiro trimestre. O sucesso das vacinas gerou esperanças de uma recuperação rápida da pandemia, enquanto os senadores democratas ligados ao presidente Joe Biden abriram a porta para programas de infraestrutura pró-crescimento, além de mais ajuda fiscal.

Mais tarde, os preços se recuperaram após o surgimento de novas variantes do vírus e do impasse político nos EUA. Mas então o ouro ficou preso na estagnação.

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Falta de interesse do mercado

Um fator-chave tem sido a falta de interesse dos investidores financeiros, que são cruciais para impulsionar as altas do ouro. As participações em fundos negociados em bolsa caíram quase 9% ao longo do ano, enquanto os fundos de hedge que negociam futuros de Comex mantiveram suas apostas em ouro silenciadas.

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Embora a perspectiva de aperto monetário tenha prejudicado o apelo do ouro, os preços foram apoiados pela forte demanda dos consumidores asiáticos de joias e pelas compras feitas pelos bancos centrais.

Os investidores deixaram o ouro pairando quase que magneticamente em torno da marca de US$ 1.800 a onça. Embora seja um preço historicamente alto, será decepcionante para aqueles que desfrutaram do aumento recorde dos demais ativos em 2020.

No entanto, o equilíbrio entre compradores e vendedores do metal pode não se manter por muito tempo. Mais ganhos do dólar podem significar perdas para commodities. Por outro lado, sinais de inflação galopante e persistente podem finalmente fornecer a centelha necessária para uma alta sustentável do ouro.

Evy Hambro, da BlackRock Inc., disse no início deste mês que o ouro poderia subir em 2022, impulsionado por uma combinação de taxas de juros reais, desempenho do dólar americano e demanda por ativos portos. No entanto, analistas do JPMorgan Chase & Co. veem o ouro ficando sob mais pressão à medida que a recuperação econômica global continua, prevendo um preço médio de US$ 1.631 a onça para o próximo ano.

No último dia de 2021, o ouro subia 0,5% para US$ 1.822,76 a onça às 11h17 em Nova York (13h17 em Brasília). A prata também ganhou, enquanto a platina e o paládio recuavam. O Bloomberg Dollar Spot Index caia 0,2%.

--Com a ajuda de Yvonne Yue Li.

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