Retração do mercado de criptomoedas está só começando

Baixos volumes de negociação e medidas de controle de inflação fortalecem sinais de que o Bitcoin e outros ativos digitais podem passar por turbulência

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Bloomberg Opinion — Preços astronômicos para meme coins. Celebridades em comerciais de plataformas de trading. Um frenesi por tokens não fungíveis que atraiu nomes famosos, incluindo a ex-primeira dama dos Estados Unidos Melania Trump. Mesmo depois de uma retração no mês passado, o mercado de criptomoedas continua imprevisível.

No entanto, ultimamente, há sinais de que os criptoativos podem estar caminhando para uma liquidação acentuada. E a guinada hawkish do Federal Reserve na quarta-feira (15) pode acelerar o processo.

Um sinal revelador é que os volumes de negociação de criptomoedas e NFTs estão diminuindo após picos exagerados. Nos últimos trimestres, a Block, focada em criptomoedas e anteriormente conhecida como Square, e a Coinbase Global relataram receita de trading de moedas digitas significativamente abaixo das expectativas do mercado com a desaceleração das transações em suas plataformas. Enquanto isso, o valor agregado dos NFTs negociados nos mercados caiu desde as máximas de agosto.

A teoria do “mais tolo” sugere que não há problema em comprar ativos supervalorizados, desde que seja possível vendê-los por um preço ainda mais alto. Mas a diminuição do trading sugere que as criptomoedas estão ficando sem tolos. Como a grande maioria das criptomoedas e NFTs não é útil no mundo real e esses ativos são usados principalmente para trading especulativo, a perda de confiança entre os investidores pode rapidamente ganhar força.

Fed troca de lado

O governo dos EUA e o Fed injetaram trilhões de dólares na economia durante a pandemia de Covid-19 por meio de estímulos de política monetária e fiscal. Parte dos recursos acabou fluindo para ativos alternativos de risco, como criptomoedas e NFTs. Mas como o Fed reduziu os estímulos econômicos, os criptoativos provavelmente serão os primeiros a serem afetados.

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Os preços ao consumidor dos EUA tiveram os maiores aumentos mensais em décadas recentemente. Os dados de inflação de outubro, divulgados em 10 de novembro, desencadearam uma onda de vendas de Bitcoin, pois os comerciantes começaram a prever que o Fed diminuiria o ritmo para desacelerar a inflação. A criptomoeda original já desvalorizou cerca de 30% em relação ao pico do início de novembro. O Bitcoin continuou despencando na quinta-feira, depois que o Fed anunciou que encerraria seu programa de compra de ativos antes do previsto e que espera aumentar as taxas de juros no próximo ano.

A maldição do estádio

Pode não haver melhor sinal de problemas no horizonte que quando as empresas pagam grandes quantias pelos direitos de nomear estádios.

Há mais de duas décadas, a Enron anunciou um acordo de 30 anos e US$ 100 milhões para ter seu nome vinculado ao parque Houston Astros. Logo depois, o conglomerado de internet CMGI assinou um acordo de US$ 114 milhões para nomear o estádio do New England Patriots. Ambas as empresas logo implodiram.

E mesmo assim, cá estamos: no mês passado, a Crypto.com, uma plataforma de trading criada há cinco anos, assinou um acordo de 20 anos para ter seu nome adornando o Staples Center em Los Angeles por cerca de US$ 700 milhões. No início do ano, a FTX, outra empresa de criptomoedas jovem e de rápido crescimento, adquiriu os direitos para nomear a arena do time de basquete Miami Heat.

A atual mania de criptoativos e NFTs provavelmente parecerá tão bizarra quando nos lembrarmos disso no futuro quanto os negócios de nomeação de estádios do passado. Alguns ficam tentados a ver o mercado de criptoativos como uma diversão, mas não é nada engraçado. Quando acabar a diversão, alguns poucos terão ganhado muito dinheiro, enquanto muitos outros investidores verão seus investimentos em criptoativos virar poeira. Depois não diga que não avisei.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Tae Kim é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre tecnologia. Ele já desempenhou esta função na Barron’s, depois de uma breve carreira como analista de mercado.

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