Soja ocupa 1 a cada 7 hectares desmatados no Cerrado

Bioma perdeu 29,13 milhões de hectares nos últimos 20 anos, dos quais 4,2 milhões foram plantados com o grão na safra passada

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Bloomberg Línea — Estudo encomendado pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) indica que o Cerrado do Brasil perdeu pouco mais de 29 milhões de hectares ao longo das últimas duas décadas. Nesse mesmo período, a produção de soja no bioma cresceu 170% e passou a ocupar 20 milhões de hectares na safra 2020/21, o equivalente a 10% de todo o Cerrado do país.

Contudo, nem todo desmatamento realizado ao longo dos últimos 20 anos foi convertido em soja. Os dados indicam que dos 29 milhões de hectares de Cerrado desmatados no período, 4,2 milhões se transformaram em lavouras do grão, o que corresponde a 14,4% do que foi derrubado. Na prática, de cada sete hectares de Cerrado derrubados, apenas um foi ocupado com soja. Os outros seis foram destinados a outros usos.

O principal fator para essa realidade é o econômico. É mais interessante ocupar áreas de pecuária, pastos degradados ou abandonados do que abrir áreas de Cerrado, onde é preciso fazer correções no solo e só atingir uma produtividade depois de três anos”, disse Bernardo Pires, gerente de sustentabilidade da Abiove.

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Pela análise da Abiove, a expansão das áreas plantadas com soja sobre o Cerrado desmatado tem caído. De todo o avanço do plantio de soja ocorrido no bioma entre 2001 e 2007, apenas 13% ocorreu sobre áreas desmatadas. Esse percentual caiu para 9% entre 2007 e 2014 e foi de apenas 3% entre 2014 e 2021.

A preocupação com o desmatamento não é por acaso. A União Europeia está discutindo uma legislação para vetar a entrada de produtos no bloco econômico que sejam provenientes de áreas desmatadas. A proposta europeia é praticamente banir a importação de produtos considerados de “alto risco” de estarem relacionados ao desmatamento, o que englobaria soja, carne, café e outros. Entrariam na regra o desmatamento legal e ilegal.

A Europa está introduzindo um novo conceito de risco, que é muito ruim para os produtores. Isso nos preocupa porque a indústria fechará seus contratos de venda conforme o que for demandado pela Europa”, afirma André Nassar, presidente da Abiove. Ele lembra que a discussão sobre o tema deve durar ainda de seis a 12 meses, o que garante um certo tempo de adaptação, mas, ainda assim, mantém o país em uma situação preocupante.