China corta pela metade importação de carne suína do Brasil

Volume exportado pelos frigoríficos brasileiros em novembro foi o menor desde agosto de 2019 e preço médio pago pelos chineses foi 17% menor que o do ano passado

Com aumento da produção local, China reduz importação de carne suína do Brasil
10 de Dezembro, 2021 | 06:31 PM

Bloomberg Línea — A China reduziu drasticamente suas compras de carne suína brasileira. Responsável por comprar praticamente metade de tudo o que o país exporta, as importações do país asiático em novembro recuaram para o menor patamar em mais de dois anos e somaram 21,94 mil toneladas.

O desempenho do mês passado representou uma redução de 52% em comparação ao mesmo período de 2020. Esse foi o segundo mês consecutivo de queda nos embarques para a China. Em outubro, o volume exportado já havia recuado 20% em relação ao mesmo período do ano passado.

Maiores produtores e consumidores de carne suína do mundo, os chineses também estão pagando menos pelo produto brasileiro. Em novembro do ano passado, o preço médio da tonelada de carne suína exportada para a China foi de US$ 2.572. No mês passado, o valor foi de US$ 2.146 por tonelada, ou seja, 17% inferior ao praticado no mesmo período de 2020.

Assim como a queda na demanda, os importadores chineses também estão pressionando para baixo o preço pago aos frigoríficos brasileiros. Desde agosto, as cotações já foram reduzidas em 12% e o atual patamar é o mais baixo desde julho do ano passado. Com isso, a China que pagava de 7% a 9% a mais do que a média dos outros países, passou a pagar 1% a menos desde o mês passado.

PUBLICIDADE

Veja mais: China quer inspecionar exportadores de carne suína de SC

O motivo para uma mudança tão drástica no cenário é o aumento da produção local. Dados oficiais do governo indicam que a produção de carne suína na China atingiu no terceiro trimestre de 2021 seu maior patamar dos últimos três anos, como consequência dos amplos investimentos realizados no processo de recuperação do rebanho após o surto de peste suína em 2018. Entre julho e setembro foram produzidas pouco mais de 12 milhões de toneladas, volume 43% maior que o mesmo período do ano anterior.

Esse forte crescimento na oferta, no entanto, teve como consequência uma queda de aproximadamente 60% nos preços praticados no mercado interno ao longo deste ano. Esse cenário levou muitos produtores a liquidarem rebanhos inteiros e ao descarte de matrizes menos produtivas.

PUBLICIDADE

Apesar da recente queda na demanda, a China será novamente o principal destino da carne suína exportada pelo Brasil em 2021. Das 1,03 milhão de toneladas embarcadas entre janeiro e novembro pelas empresas brasileiras, 49% tiveram o mercado chinês como destino. Contudo, já existem sinais de mudança nesse cenário. Até setembro, a China importava praticamente metade do que o Brasil exportava, mas essa participação caiu para 38% em outubro e para 28% em novembro. Essa é a menor fatia que os chineses têm nas vendas externas de carne suína do Brasil desde março de 2019.

Veja mais: Brasil se aproxima de 100 dias sem exportar carne para China

No acumulado de janeiro a novembro, as exportações de carne suína do Brasil já superaram o resultado consolidado do ano passado. As 1,03 milhões de toneladas embarcadas até o mês passado representam um volume 11% maior que as vendas de janeiro a novembro de 2020 e estão acima das 1,01 milhões de toneladas no acumulado do ano passado.

“Em onze meses, as exportações de carne suína já embarcaram volume que é recorde setorial para um ano inteiro. As médias mensais deste ano são cerca de 10 mil toneladas superiores ao que realizamos em 2020, até aqui, o melhor ano no histórico das exportações de carne suína. São números que dão um indicativo do expressivo desempenho da presença internacional brasileira neste ano de adversidades”, avalia Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.