Doria contraria Bolsonaro e quer passaporte da vacina em SP

Governador de São Paulo se opõe à posição do presidente Jair Bolsonaro, defensor da dispensa do documento

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São Paulo — O Estado de São Paulo exigirá a apresentação de passaporte vacinal dos viajantes que chegam do exterior, informou o governador João Doria (PSDB), nesta quarta-feira (8), contrariando posicionamento do presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Caso não seja implantado [sic] pelo Governo Federal a obrigatoriedade do passaporte vacinal para entrada de viajantes no Brasil até 15 de novembro, São Paulo adotará para todo Estado”, tuitou o tucano.

Em outra postagem, o chefe do Executivo estadual informou que o governo de São Paulo solicitou hoje ao governo federal a implantação imediata do passaporte vacinal para a entrada de viajantes no Brasil. “Essa exigência é uma recomendação da Anvisa. O maior aeroporto e porto do país estão em São Paulo e precisamos proteger a população”, escreveu.

Os aeroportos paulistas (Cumbica, Viracopos e Congonhas), responsáveis por dois terços do total de voos internacionais no país, e o Porto de Santos estão subordinados à administração federal.

A manifestação de Doria ocorre um dia após o governo federal anunciar que vai exigir quarentena de cinco dias para viajantes não vacinados contra a Covid-19 que desembarcarem no Brasil. A exigência de um certificado de vacinação para viajantes que queiram entrar no país foi descartada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Ontem, durante um discurso no Palácio do Planalto, Bolsonaro usou a palavra “coleira” para se referir ao passaporte de vacina, adotado em outros países e recomendado por cientistas e autoridades de saúde.

“Nós vemos uma briga enorme aqui agora sobre passaporte vacinal. Quem é favorável, não se esqueça: amanhã alguém pode impor algo para você que você não seja favorável. E a gente pergunta: quem toma vacina pode contrair o vírus? Pode e contrai. Pode transmitir? Sim e transmite. Pode morrer? Sim, pode, como tem morrido muita gente, infelizmente. A gente pergunta: por que o passaporte vacinal? Por que essa coleira que querem colocar no povo brasileiro? “, indagou o presidente, segundo relato do portal G1.

Ômicron

A adoção de medidas mais rígidas de controle da entrada e saída de viajantes acontece após a descoberta da variante ômicron pelos cientistas, que é mais transmissível e já foi detectada em mais de 50 países. As festas de fim de ano, o início da alta temporada do turismo, das férias e da maior mobilidade entre cidadãos de diferentes nacionalidades, após um ano de campanha de vacinação contra a Covid-19, fazem as autoridades redobrarem a cautela com receio de uma nova onda de casos e de mortes pelo novo coronavírus descoberto na China no fim de 2019.

Após o decreto da pandemia pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 11 de março do ano passado, algumas nações, como o Brasil e os EUA, demoraram a reforçar a vigilância sanitária em aeroportos, portos, estações rodoviárias e ferroviárias, o que acabou provocando uma disseminação planetária do vírus e embates ideológicos e políticos entre autoridades adeptas do negacionismo, que minimizavam a gravidade da Covid-19, e dos defensores do rigor das medidas de isolamento e distanciamento social, com ordens de “lockdown” (confinamento da população e interrupção das atividades econômicas não essenciais).

Até ontem, o Brasil registrava 22.157.726 casos de Covid-19 e 616.180 óbitos, segundo o site do Ministério da Saúde. O Estado de São Paulo, o mais populoso do país, lidera as estatísticas com 4.445.942 pacientes infectados e 154.480 mortes desde o início da contagem. Especialistas independentes sempre alertam que esses números não refletem a realidade, pois a subnotificação é elevada devido às deficiências da gestão do sistema de saúde.

Pelo menos 77% da população brasileira já recebeu pelo menos uma dose de vacina contra a Covid-19, enquanto 64,5% completaram o primeiro ciclo vacinal (dose única ou segunda dose), e 8,8% já receberam dose de reforço.