Política monetária: Mudança de foco de Powell pressiona por ação do BCE

Insistência do BCE de que o aumento dos preços é transitório tem sido testada

Comandado por Christine Lagarde, Banco Central Europeu é pressionado a ajustar política
Por Craig Stirling - Jana Randow e Carolynn Look
01 de Dezembro, 2021 | 02:52 PM

Bloomberg — A insistência do Banco Central Europeu de que o aumento dos preços ao consumidor é transitório tem sido testada tão repetidamente que a inflação agora pode ofuscar uma reunião em duas semanas para renovar o estímulo à pandemia.

Essa decisão de política monetária tinha como objetivo facilitar o caminho para reduzir as compras de títulos de emergência, ao mesmo tempo em que tranquilizaria investidores de que o suporte não seria retirado de repente. No entanto, a presidente do BCE, Christine Lagarde, pode descobrir que o foco mudou e que a principal questão será determinar quando a instituição poderia apertar a política monetária, justo quando outros grandes bancos centrais sinalizam que precisarão agir para controlar a inflação.

Lagarde e autoridades do BCE insistem que a alta dos preços é impulsionada por fatores temporários, como os custos da energia, que logo começarão a diminuir. Em contraste, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sinalizou um giro ao aperto monetário na terça-feira, sugerindo que a palavra “transitória” não deveria mais ser usada para descrever a situação atual.

  dfd

Horas antes, a inflação da zona do euro superou todas as previsões e atingiu 4,9%. O núcleo do índice, que exclui componentes voláteis, também foi recorde para a era da moeda única. Com esse contexto, a variante ômicron levanta a possibilidade de novos gargalos de oferta, mesmo antes de os cientistas determinarem seus riscos à saúde.

PUBLICIDADE

“A insistência de Lagarde de que a inflação é um fenômeno temporário está sob forte pressão”, disse Steen Jakobsen, diretor de investimentos do Saxo Bank. “A pressão política sobre o BCE para agir é cada vez maior.”

Essa pressão é visível na Alemanha, a maior economia da região e provavelmente a mais avessa à inflação, onde o ritmo de alta dos preços está acima da região do euro. Se a inflação não se desacelerar como esperado, “temos que fazer algo”, disse o chanceler designado Olaf Scholz em entrevista à Bild TV,  sem especificar possíveis medidas.

Na esteira dos dados de preços esta semana, os mercados monetários aumentaram as apostas de aperto da política monetária do BCE, com previsão de que a taxa de depósito será elevada em 10 pontos-base até o fim de 2022, em comparação com 5 pontos na segunda-feira.

PUBLICIDADE

Embora o BCE reconheça que a inflação deva levar mais tempo do que o esperado originalmente para ficar abaixo da meta de 2%, a instituição afirma que nenhuma ação é necessária por enquanto e argumenta que a Europa está em uma posição diferente dos EUA.

“O BCE pode se dar ao luxo de esperar muito mais tempo do que o Fed para confirmar que estamos indo na mesma direção”, disse Anatoli Annenkov, economista do Société Générale, em Londres. “Devemos ver a inflação se acelerar de forma mais sustentável, com evidências reais de pressões salariais. É quando o BCE precisaria começar a se preocupar.”

As últimas rodadas de negociação de salários não oferecem motivo particular de preocupação. O segundo maior sindicato da Alemanha obteve aumento de 2,8% nesta semana em um acordo que cobrirá cerca de 3,5 milhões de pessoas.

  dfd

De fato, bancos centrais deveriam se acalmar enquanto assistem à desaceleração da recuperação econômica global e a uma onda de inflação elevada mais longa que o esperado, disse a OCDE na quarta-feira em relatório.

A ômicron, no entanto, pode trazer maior incerteza. Há temores de que possíveis surtos aumentem ainda mais as compras de bens e esfriem a demanda por serviços, o que poderia agravar problemas de oferta e elevar os preços.

Veja também

Bancos centrais devem ficar calmos diante da inflação, diz OCDE