Bloomberg — Todos os sinais de HIV desapareceram em uma jovem que foi diagnosticada com o vírus que causa a AIDS, em 2013, confirmaram os pesquisadores, aumentando a esperança de que ela possa ser uma das poucas pessoas em todo o mundo que conseguiu superar a infecção permanentemente.
A paciente tem 30 anos, é mãe, e natural de Esperanza, na Argentina. Ela tem as características clínicas de uma “controladora de elite” do HIV, o que significa que sua infecção está indetectável há anos. Mesmo depois que ela parou de tomar drogas poderosas para tratar o HIV, o vírus não reapareceu, que é o que costuma acontecer após a suspensão do tratamento, informaram os pesquisadores em um estudo agendado para publicação na revista Annals of Internal Medicine.
O vírus também não parece ter se integrado ao DNA dela, criando o que é conhecido como provírus, e testes extensivos não conseguiram detectá-lo em lugar nenhum. É possível que ela tenha experimentado o que é conhecido como “cura esterilizante”, o que significa que ela não carrega mais uma forma replicante do vírus, disseram eles.
Sem respostas
Como isso aconteceu é um mistério. Pelo menos dois outros pacientes com HIV também foram considerados curados, mas ambos foram submetidos a um extenso tratamento para leucemia, que envolveu transplantes de células-tronco. Os pesquisadores não ofereceram respostas sobre como a jovem mãe erradicou o vírus, mas sua existência sugere que é possível.
O vírus “não foi detectado em uma controlador de elite, apesar da análise de um grande número de células do sangue e de tecidos, sugerindo que esta paciente pode ter alcançado naturalmente a cura esterilizante da infecção por HIV-1″, explicaram os pesquisadores liderados por Xu Yu, do Instituto Ragon de Boston, e Natalia Laufer, do Instituto de Pesquisa Biomédica em Retrovírus e AIDS de Buenos Aires. “Essas observações levantam a possibilidade de que uma cura esterilizante pode ser um desfecho extremamente raro, mas possível, da infecção pelo HIV-1.”
Os médicos tentaram, sem sucesso, durante décadas, erradicar o vírus nos pacientes. Embora as terapias medicamentosas combinadas possam suprimi-lo de forma que não seja mais detectável, a grande maioria dos pacientes ainda tem um reservatório que é reativado após a interrupção do tratamento. Encontrar outra pessoa livre do vírus aumenta a esperança de haver outras maneiras de eliminar o reservatório e curar mais pessoas.
É possível que a resposta imunológica inicial da paciente ao HIV tenha levado a uma infecção abortiva ou que seu sistema imunológico tenha desenvolvido maneiras eficazes de reconhecer a infecção e destruí-la ao longo do tempo, deixando apenas vestígios do HIV, disse a coautora do estudo, Sharon Lewin, diretora do Instituto Peter Doherty para infecção e imunidade, da Universidade de Melbourne.
“As pessoas estão entusiasmadas com isso porque é uma espécie de caminho alternativo para a cura”, disse Lewin em uma entrevista na quarta-feira (17). “É possível se livrar do vírus intacto num dado momento e restar apenas essas pegadas do vírus.”
Cerca de 1% dos caucasianos que vivem com HIV desenvolvem controle sobre a infecção. É possível que um subconjunto possa ser curado, o que significa que eles não teriam mais nenhum HIV competente para a replicação, disse Lewin, que está estudando os detalhes genéticos do que constitui uma cura.
‘Paciente de Berlim’
Os pesquisadores disseram que a mulher argentina, cujo parceiro morreu de AIDS em julho de 2017, se parece com o “paciente de Berlim”. Esse homem, Timothy Brown, desenvolveu uma provável cura esterilizante do HIV após passar por um transplante de células-tronco para tratar a leucemia mieloide aguda, há quase 15 anos.
Desde o início da epidemia de AIDS, quase 80 milhões de pessoas foram infectadas com o HIV e 36,3 milhões de pessoas morreram de complicações da doença viral. Em todo o mundo, estima-se que 37,7 milhões de pessoas viviam com HIV em 2020.
O progresso contra a AIDS nas últimas duas décadas inspirou um compromisso dos Estados membros das Nações Unidas para acabar com a epidemia até 2030. O número de pessoas infectadas pelo HIV caiu para 1,5 milhão em todo o mundo em 2020, de 3 milhões em 1997.
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