Mulher sem vestígios de HIV traz esperança de cura inexplicável

Paciente de 30 anos está com infecção indetectável há anos mesmo após suspensão do tratamento

Prueba de VIH
Por Jason Gale
17 de Novembro, 2021 | 11:13 AM

Bloomberg — Todos os sinais de HIV desapareceram em uma jovem que foi diagnosticada com o vírus que causa a AIDS, em 2013, confirmaram os pesquisadores, aumentando a esperança de que ela possa ser uma das poucas pessoas em todo o mundo que conseguiu superar a infecção permanentemente.

A paciente tem 30 anos, é mãe, e natural de Esperanza, na Argentina. Ela tem as características clínicas de uma “controladora de elite” do HIV, o que significa que sua infecção está indetectável há anos. Mesmo depois que ela parou de tomar drogas poderosas para tratar o HIV, o vírus não reapareceu, que é o que costuma acontecer após a suspensão do tratamento, informaram os pesquisadores em um estudo agendado para publicação na revista Annals of Internal Medicine.

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O vírus também não parece ter se integrado ao DNA dela, criando o que é conhecido como provírus, e testes extensivos não conseguiram detectá-lo em lugar nenhum. É possível que ela tenha experimentado o que é conhecido como “cura esterilizante”, o que significa que ela não carrega mais uma forma replicante do vírus, disseram eles.

Sem respostas

Como isso aconteceu é um mistério. Pelo menos dois outros pacientes com HIV também foram considerados curados, mas ambos foram submetidos a um extenso tratamento para leucemia, que envolveu transplantes de células-tronco. Os pesquisadores não ofereceram respostas sobre como a jovem mãe erradicou o vírus, mas sua existência sugere que é possível.

O vírus “não foi detectado em uma controlador de elite, apesar da análise de um grande número de células do sangue e de tecidos, sugerindo que esta paciente pode ter alcançado naturalmente a cura esterilizante da infecção por HIV-1″, explicaram os pesquisadores liderados por Xu Yu, do Instituto Ragon de Boston, e Natalia Laufer, do Instituto de Pesquisa Biomédica em Retrovírus e AIDS de Buenos Aires. “Essas observações levantam a possibilidade de que uma cura esterilizante pode ser um desfecho extremamente raro, mas possível, da infecção pelo HIV-1.”

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Os médicos tentaram, sem sucesso, durante décadas, erradicar o vírus nos pacientes. Embora as terapias medicamentosas combinadas possam suprimi-lo de forma que não seja mais detectável, a grande maioria dos pacientes ainda tem um reservatório que é reativado após a interrupção do tratamento. Encontrar outra pessoa livre do vírus aumenta a esperança de haver outras maneiras de eliminar o reservatório e curar mais pessoas.

É possível que a resposta imunológica inicial da paciente ao HIV tenha levado a uma infecção abortiva ou que seu sistema imunológico tenha desenvolvido maneiras eficazes de reconhecer a infecção e destruí-la ao longo do tempo, deixando apenas vestígios do HIV, disse a coautora do estudo, Sharon Lewin, diretora do Instituto Peter Doherty para infecção e imunidade, da Universidade de Melbourne.

“As pessoas estão entusiasmadas com isso porque é uma espécie de caminho alternativo para a cura”, disse Lewin em uma entrevista na quarta-feira (17). “É possível se livrar do vírus intacto num dado momento e restar apenas essas pegadas do vírus.”

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Cerca de 1% dos caucasianos que vivem com HIV desenvolvem controle sobre a infecção. É possível que um subconjunto possa ser curado, o que significa que eles não teriam mais nenhum HIV competente para a replicação, disse Lewin, que está estudando os detalhes genéticos do que constitui uma cura.

‘Paciente de Berlim’

Os pesquisadores disseram que a mulher argentina, cujo parceiro morreu de AIDS em julho de 2017, se parece com o “paciente de Berlim”. Esse homem, Timothy Brown, desenvolveu uma provável cura esterilizante do HIV após passar por um transplante de células-tronco para tratar a leucemia mieloide aguda, há quase 15 anos.

Desde o início da epidemia de AIDS, quase 80 milhões de pessoas foram infectadas com o HIV e 36,3 milhões de pessoas morreram de complicações da doença viral. Em todo o mundo, estima-se que 37,7 milhões de pessoas viviam com HIV em 2020.

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O progresso contra a AIDS nas últimas duas décadas inspirou um compromisso dos Estados membros das Nações Unidas para acabar com a epidemia até 2030. O número de pessoas infectadas pelo HIV caiu para 1,5 milhão em todo o mundo em 2020, de 3 milhões em 1997.

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