DeFi podem ser aliadas dos serviços financeiros centralizados

Vistas eventualmente como concorrentes, DeFi e CeFi juntas permitem gerar produtos híbridos

Uso de um sistema financeiro descentralizado pode melhorar a criação de programas de crédito e sociais
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Por Gino Matos para Mercado Bitcoin

São Paulo — As finanças descentralizadas, conhecidas pela sigla em inglês DeFi, são por vezes vistas como concorrentes das centralizadas (CeFi, também na sigla em inglês). O potencial disruptivo da descentralização, em um primeiro momento, parece não dialogar com a estrutura engessada das instituições financeiras tradicionais. Contudo, não só é possível que as duas se comuniquem como mecanismos nessa direção já vêm sendo considerados.

Fabio Araújo, coordenador à frente do plano de implementação do Real Digital pelo Banco Central, afirmou recentemente que estudos avaliam a oferta de serviços inspirados nas DeFi usando a versão digital do Real como moeda nacional. Esse é apenas um dos muitos exemplos onde as finanças centralizadas poderiam se comunicar com as descentralizadas.

“A experiência do usuário em DeFi ainda não é muito clara por ser relativamente nova. Usar nas aplicações financeiras opções com as quais os usuários já estão familiarizados em razão do uso nas finanças centralizadas é uma possibilidade válida onde esses dois ambientes se comunicam”, diz Xochitl Cazador, chefe de crescimento de ecossistema da Fundação Celo, que está por trás do desenvolvimento da blockchain Celo.

Xochitl menciona também questões envolvendo o acesso ao dinheiro, mais precisamente no que diz respeito ao crédito, setor no qual as ferramentas comuns nas DeFi podem ajudar na criação de um sistema de crédito claro e de fácil entendimento. “Algo que eu tenho apreciado nos diferentes sandboxes regulatórios na América Latina é a busca por formas de inovar com foco na programabilidade do dinheiro”.

No caso do Real Digital, a executiva da Fundação Celo avalia que o uso de um sistema baseado em DeFi pode melhorar programas sociais do governo, como o auxílio emergencial distribuído durante a pandemia de Covid-19 no país. “Este é um exemplo, mas essa camada de finanças centralizadas situada sobre uma estrutura descentralizada está apenas no início, estamos só começando a ver casos de sua utilização. O potencial é grande e acredito que veremos muitas outras aplicações em breve”.

Setor privado avança

O setor privado também mostra exemplos onde descentralização e centralização podem conversar. “Se você imaginar a criação de um sistema de empréstimo descentralizado, é normal concluir que o serviço compete com o de crédito de um banco. Mas, com base nisso, esse mesmo banco pode escolher criar algo semelhante, oferecendo serviços financeiros como aqueles vistos em DeFi”, explica Lucas Pinsdorf, head de Business & Product da exchange Mercado Bitcoin. Seria uma hipótese similar à vista no caso da criação dos bancos virtuais, que levou as instituições financeiras tradicionais a oferecer também contas digitais.

Pinsdorf também menciona a possibilidade de empresas privadas comprarem tokens de protocolos descentralizados, sendo esta mais uma conexão entre o mundo descentralizado e o tradicional, ainda que de forma indireta. Outra opção consiste em diversificar a oferta de produtos de investimento com base nas finanças descentralizadas. O executivo da Mercado Bitcoin cita como exemplo o uso dos mecanismos de liquidez de plataformas descentralizadas, nas quais o usuário deposita tokens para dar liquidez ao protocolo e, em troca, recebe rendimentos sobre o valor depositado.

Embora seja um instrumento mais arriscado do que as ofertas de renda passiva comumente oferecidas pelos bancos, os retornos são mais significativos. “É uma forma de unir veículos centralizados e descentralizados para atender investidores com perfis de risco específicos”.

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