Mercado vê BCE mais flexível na retirada de estímulos da crise

Autoridade monetária prepara uma grande revisão em suas políticas que acontecerá na última reunião do ano, quando novas projeções econômicas darão à equipe uma visão melhor sobre as necessidades futuras de estímulo

Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu
Por Carolynn Look e Harumi Ichikura
22 de Outubro, 2021 | 01:36 PM

Bloomberg — O Banco Central Europeu vai turbinar o programa regular de compra de títulos antes do encerramento das compras associadas à pandemia, em março, segundo economistas consultados pela Bloomberg.

As autoridades vão acelerar o ritmo da ferramenta padrão no próximo ano, deixando-a mais flexível para tratar melhor situações de estresse do mercado, afirmaram os entrevistados. Eles também preveem que o BCE começará a desmontar gradualmente o plano de emergência em dezembro. Um em quatro participantes da sondagem acha que esse movimento pode ser seguido por um novo programa.

Nenhuma mudança é esperada após a reunião do Conselho Geral na semana que vem.

O BCE prepara uma grande revisão em suas políticas que acontecerá na última reunião do ano, quando novas projeções econômicas darão à equipe uma visão melhor sobre as necessidades futuras de estímulo.

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Economistas preveem que o banco central apresentará uma trajetória para o programa emergencial de compras da pandemia (conhecido pela sigla PEPP) que não esgotará o pacote de 1,85 trilhão de euros (US$ 2,2 trilhões).

Na próxima quinta-feira, o foco será na mensagem da presidente Christine Lagarde aos investidores que apostam em aumento mais rápido das taxas de juros em meio ao aumento global da inflação e ao aperto da política monetária por outros bancos centrais. Para economistas, os juros ficarão estáveis até pelo menos 2023.

“Eles estarão em busca de pistas sobre o que o BCE pretende fazer com o PEPP”, disse Claus Vistesen, da Pantheon Macroeconomics. Eles também vão “procurar evidências de reação contra a clara mudança nas expectativas do mercado, que atualmente precificam elevação de juros até 2023”.

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Autoridades alertaram que agora não é hora de apertar a política monetária. Embora a inflação na Zona do Euro esteja no pico — bem acima de 3% em 12 meses — e o arrefecimento da crise sanitária possa reforçar argumentos para reduzir o suporte, a expectativa ampla é de moderação nas pressões inflacionárias. Além disso, gargalos de abastecimento ameaçam prejudicar a recuperação econômica.

O que diz David Powell, economista sênior para a Zona do Euro da Bloomberg Economics:

“O Conselho Geral vai debater até que ponto a atual disparada da inflação é transitória, mas Lagarde deve manter sua opinião de que resultados acima da meta dificilmente persistirão. Isso permitirá que ela deixe a porta aberta para acelerar o ritmo de compra mensal de títulos por meio do programa convencional APP em março, quando o PEPP termina.”

Declarações públicas feitas recentemente deram indicações sobre os próximos debates em torno do futuro da política monetária.

À medida que as condições melhoram, membros mais conservadores do Conselho Geral — como Madis Muller, da Estônia, e Klaas Knot, da Holanda — manifestaram alguma relutância em preservar a extraordinária flexibilidade do estímulo implementado contra a crise.

Outros, incluindo o italiano Ignazio Visco, defendem a manutenção de alguma forma de flexibilidade. Já o francês François Villeroy de Galhau prefere ter uma “opção contingente” que poderia ser acionada durante períodos de turbulência no mercado.

Tal ferramenta já está sendo estudada no BCE, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

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A maioria dos economistas prevê que o BCE se comprometerá a gastar o quanto for necessário no programa convencional APP a fim de manter condições de financiamento favoráveis.

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