Por Matheus Mans para Mercado Bitcoin
São Paulo - Entre os discos de vinil e os serviços de streaming, há uma clara mudança na forma como a indústria musical trabalha. Músicas agora são armazenadas na nuvem, enquanto a distribuição se dá em tempo real nas plataformas. Reações e até mesmo acessos em uma única música podem ser entendidos em questão de minutos. No entanto, outra revolução está em andamento nessa indústria: o uso da tecnologia de blockchain.
Geralmente associado ao mercado de criptomoedas, o blockchain tem potencial de mudar as burocracias da indústria musical, tudo aquilo que não vemos. Com a tecnologia, a relação entre artistas, gravadoras, plataformas e ouvintes se torna mais linear, mais compreensível. Um artista, por exemplo, pode saber onde, quando e como sua música está sendo consumida, facilitando o processo de cobrança e checagem dos direitos autorais.
Além disso, há um ganho que causa rugas de preocupação em executivos de gravadoras: a possibilidade de artistas venderem diretamente para consumidores, tendo apenas as plataformas como intermediários. Com o blockchain, afinal, não é preciso mais ter alguma empresa intermediando essa distribuição, ainda que seja interessante, para artistas maiores, continuar com gravadoras. São apenas menos lombadas no meio dessa jornada.
“A ideia é excelente: um sistema financeiro para o mercado musical que pode amparar fluxos de receita em tempo real e potencialmente entregar muito mais poder para o artista, promovendo um mercado mais democrático e acessível”, diz Arthur Deucher Figueiredo Santos, advogado especialista em direito e política da mídia, entretenimento e tecnologia do escritório Matten Law de Los Angeles “Imagine um portal [automatizado] que atualiza todos os fluxos de receita de um artista: turnê, merchandising, licenciamento, royalties derivados de plataformas de streaming, etc”.
Artistas experimentam a transformação
Atualmente, algumas plataformas já começam a trazer essa tecnologia para dentro de suas operações. A Audius, por exemplo, segue esse caminho. “Por meio do blockchain, os artistas podem fazer upload de suas músicas com segurança e ter um registro imutável de propriedade desse conteúdo. Se o conteúdo for mal utilizado, os artistas podem facilmente provar a propriedade da obra e tomar as medidas adequadas para impedir que essa seja usada sem sua autorização. A plataforma também dá aos músicos mais controle sobre como monetizar seu trabalho”, explica o advogado Arthur Deucher.
O compositor de música eletrônica techwipe, dos Estados Unidos, encontrou uma forma de divulgar seu trabalho. “Coloquei minha música no Audius porque é grátis, é novo e é diferente. Você não precisa pagar por espaço de armazenamento extra. Além disso, gostei da ideia de fazer parte de algo que está sendo desenvolvido”, conta techwipe, autor de 43 músicas no Audius, em entrevista por e-mail. “É bom ter controle sobre sua própria arte”.
Hoje, techwipe acredita que o Audius e plataformas semelhantes, como Emanate e Musicoin, sejam formados majoritariamente por artistas, enquanto ouvintes convencionais ainda estão desbravando esse espaço. Mas há confiança no futuro. “É algo que vejo crescer na área de podcasts, principalmente os que aceitam doações por meio de criptomoedas”, diz. “Quanto à música, acredito que os artistas não passarão totalmente para a criptografia até que a compreendam melhor. É confuso mesmo para pessoas experientes em tecnologia. Trabalho com tecnologia há 16 anos e até eu mal entendo”.
Já Arthur Deucher tem uma previsão otimista. “A tendência é aumentar o número de usuários na medida em que cresce uma cultura de uso de redes descentralizadas e criptomoedas”, diz. “No Brasil, a estimativa é de que o 5G chegará em dois a quatro anos, o que certamente ajudará na proliferação de redes descentralizadas. Essa proliferação proporcionará suas próprias oportunidades de empoderar os artistas”.