Por Gino Matos para Mercado Bitcoin
São Paulo - O Real Digital terá como apoio a atual infraestrutura composta por Pix e Open Banking para oferecer serviços potencialmente inspirados nas finanças descentralizadas (DeFi). A moeda, que ainda não tem data para ser lançada, deve promover inovação em termos de tecnologia e modelos de negócios, diz o Banco Central. Para Fabio Araújo, coordenador dos trabalhos sobre o Real Digital no BC, o foco é buscar “modelos que possam ir além do que é oferecido” hoje pelo Pix e pelo Open Banking e que sejam “potencialmente inspirados na indústria de DeFi”, trazendo “ganhos de eficiência e de inclusão no provimento de serviços financeiros”.
O ramo de DeFi permite a implementação de serviços como empréstimo e poupança de forma automatizada por meio de contratos inteligentes. O Pix é o sistema de pagamentos instantâneos do BC lançado em novembro de 2020, enquanto o Open Banking permite conectar dados de instituições financeiras visando facilitar procedimentos bancários, como análise de crédito.
O comentário de Araújo complementa a fala do presidente do BC, Roberto Campos Neto, em um recente evento online realizado pelo Conselho das Américas. Na ocasião, Campos Neto afirmou que o grupo de trabalho da moeda digital está resolvendo problemas que, na apresentação do Real Digital em maio deste ano, estavam ainda sem solução.
Araújo explica que a equipe técnica por trás do projeto realiza reuniões a cada duas semanas em conjunto com a Diretoria Colegiada do BC. O objetivo é discutir conceitos e avaliar alternativas de desenho para uma moeda digital emitida pelo Banco Central, também conhecida pela sigla em inglês CBDC - Central Bank Digital Currency.
“Em paralelo a isso, estão sendo feitas conversas com participantes do mercado e provedores de soluções tecnológicas para compreender melhor as necessidades da sociedade que poderiam ser atendidas por uma CBDC brasileira. Com intuito similar, já se iniciou a série de webinars ‘O Real Digital’, na qual já foram realizados os dois primeiros encontros”, complementa Araújo.
Os estudos e desenvolvimentos com o Real Digital ocorrem em meio a um movimento global no mesmo sentido. Na quinta-feira (2), o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) anunciou o Projeto Dunbar. Trata-se de uma iniciativa que consiste na criação de uma plataforma para permitir liquidações internacionais com CBDCs. Austrália, Malásia, Singapura e África do Sul participarão da fase inicial do projeto.
Desafios
Para Araújo, o maior desafio à implantação do Real Digital é a própria modernidade do sistema de pagamentos brasileiros, que oferece “boas soluções” tanto no atacado quanto no varejo. Entre essas soluções, ele cita o Pix. “É um sucesso de adesão e tem ajudado a mudar a maneira como pequenos negócios fazem suas transações”.
Um estudo publicado em junho pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) em parceria com a Deloitte aponta que o crescimento médio mensal de usuários do Pix é de 18%, enquanto o aumento mensal no número de transações usando o sistema é de 62%. O estudo utiliza dados do BC. Nesse cenário, Araújo explica que é preciso “fomentar o desenvolvimento de novas funcionalidades” que complementem os serviços oferecidos pelo atual sistema de pagamentos do BC. Ademais, o economista salienta que o mercado brasileiro ainda não está completamente maduro para esses novos modelos esboçados em reuniões, embora defenda que a transformação digital está em aceleração.

Segundo ele, a rápida transformação pode representar também um problema, uma vez que novas tecnologias precisam ser testadas para se verificar a viabilidade de aplicação. “As tecnologias envolvidas na implantação de moedas digitais de bancos centrais estão amadurecendo rapidamente, mas vários testes ainda serão necessários para estabelecer os níveis de eficiência, segurança e privacidade dessas soluções tecnológicas”, finaliza Araújo.