Bloomberg — Há uma classe de especialistas em Wall Street cujo único trabalho, ao que parece, é criticar investidores de ações por atribuir valores irracionais às empresas. Raramente os comentários desse grupo ganharam tanto destaque como no segundo trimestre de 2020, quando a economia entrou em colapso por causa da pandemia e os índices acionários de repente começaram a subir, e nada parecia fazer sentido.
No final das contas, esses especialistas estavam certos. Os preços das ações estavam totalmente fora da curva. Mas da maneira oposta. Os lucros corporativos cresceram de forma tão espetacular que os chamados valuations - quando analisados em comparação com os lucros reais registrados um ano depois - estavam quase 20% abaixo do que analistas projetavam quando investidores começaram a apostar em empresas do S&P 500 em abril de 2020.
Em outras palavras, aquela fase foi inequivocamente uma das maiores oportunidades de comprar ações baratas em décadas. E todos os ganhos que se seguiram desde o segundo trimestre de 2020 foram, na verdade, uma tentativa racional dos investidores - por mais improvável que isso possa ter parecido na época - de trazer os preços das ações para mais perto de onde deveriam estar.
Claro, poderia não ter ocorrido dessa maneira. Havia uma série de cenários em que os resultados teriam levado muito mais tempo para se recuperar e o rali rapidamente teria se mostrado exagerado.
Mas como o S&P 500 hoje bate recorde após recorde, colocando o índice perto de uma valorização de 100% a partir da mínima de março de 2020, a análise atual serve como um importante lembrete para os que mais uma vez insistem que o mercado acionário está formando uma bolha prestes a estourar. Negociado a 21 vezes o lucro estimado, o S&P 500 de fato está perto do maior múltiplo desde a era pontocom. Mas e se essas estimativas de lucro também forem muito baixas desta vez?
“Isso realmente atinge o cerne de todo o debate em termos de como o mercado, especificamente algumas dessas partes de maior crescimento do mercado, deve ser avaliado”, disse Mark Freeman, diretor de investimentos da Socorro Asset Management. “O mercado ao longo do tempo acompanha os resultados corporativos. Às vezes, se adianta, às vezes fica para trás. Mas não está se comportando irracionalmente.”
Apesar de uma série de resultados robustos, analistas não elevaram as previsões de forma significativa. Desde o fim de junho, as projeções de lucro aumentaram cerca de 3% neste trimestre e no próximo, segundo dados compilados pela Bloomberg Intelligence. Nos próximos dois anos, o ritmo de previsões é ainda mais lento.
Analistas podem ser perdoados pela cautela. As estimativas das empresas foram moderadas nas últimas temporadas de balanços e, de acordo com dados monitorados pelo Bank of America, as menções dos termos “otimista” ou “otimismo” nas teleconferências caíram para o nível mais baixo desde o primeiro trimestre de 2020.
Não é difícil ver por que a cautela persiste. O aumento de casos de Covid-19 leva empresas a atrasarem os planos de retorno aos escritórios. E os aumentos de impostos propostos pelo presidente dos EUA, Joe Biden, se aproximam.
Para Mike Wilson, estrategista-chefe de ações para EUA do Morgan Stanley, projeções de lucro de US$ 216 por ação em 2022 são otimistas demais. Sua previsão é US$ 5 mais baixa.
“As estimativas de lucro de consenso para o próximo ano foram baseadas em suposições de margem irrealistas” no contexto de custos e impostos mais altos, escreveu Wilson em relatório na semana passada.
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