Biogás da Amazônia pode gerar energia para 2 milhões de pessoas

Potencial estaria no lixo coletado e resíduos da piscicultura e da produção da farinha de mandioca

Por não investir em biogás, Brasil perde mais de 1TWh de eletricidade
08 de Agosto, 2021 | 08:30 AM

São Paulo — No momento em que o país enfrenta uma nova crise hídrica e de eletricidade, um estudo divulgado pelo Instituto Escolhas mostrou que os estados da região da Amazônia possuem grande potencial de produção de biogás, o que poderia abastecer centenas de milhares de famílias.

Intitulado “Biogás: energia limpa para a Amazônia”, o levantamento mostrou que nos estados da Amazônia é possível produzir de 537 milhões de metros cúbicos de biogás por ano, gerando 1,1 TWh (Terawatt-hora) de eletricidade. Esse volume seria suficiente para atender 556 mil residências e beneficiar 2,2 milhões de pessoas.

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O potencial estaria no aproveitamento do lixo coletado nos municípios e nos resíduos da piscicultura e da produção da farinha de mandioca, as quais são duas importantes atividades da bioeconomia da Amazônia.

“O biogás é uma solução para transformar o que hoje é jogado no lixo em energia limpa”, diz Larissa Rodrigues, gerente de Projetos e Produtos do Instituto Escolhas sobre o Biogás.

Segundo dados coletados durante o estudo, hoje, a Amazônia produz mais de 500 mil toneladas de farinha de mandioca (cerca de 40% de toda a produção nacional) e 160 mil toneladas de peixes anualmente. Com os resíduos das casas de farinha seria possível gerar 6 GWh (Gigawatt-hora) de energia elétrica e nos frigoríficos de abate de peixes outros 13 GWh de energia elétrica por ano, que poderiam suprir esses estabelecimentos.

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Parte significativa do potencial de geração de biogás na região têm origem os resíduos urbanos. Seu aproveitamento pode trazer não apenas a geração de energia, como também o tratamento adequado do lixo coletado pelas ruas das cidades.

Por isso, o uso do biogás é que ele poderia significar um incentivo para transformar os 243 lixões a céu aberto e os 51 aterros controlados que ainda existem na região. “Essas unidades já não deveriam existir e a energia limpa do biogás pode ser um componente importante para viabilizar os investimentos necessários para transformá-las em aterros sanitários, contribuindo para resolver um grave problema sanitário e ambiental”, diz.

Rodrigues salienta a necessidade de incentivos financeiros para o setor: “Para esse potencial todo se tornar uma realidade precisamos priorizar os investimentos, criando um Programa de Geração de Energia do Biogás”, comenta. “É preciso incentivar esses projetos, que além de gerar energia tem um enorme ganho social e ambiental.”

Igor Sodré

Jornalista com formação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, com experiência na cobertura de cultura e economia, tendo como foco mercado financeiro e companhias. Passou pela Bloomberg News e TradersClub.