Bloomberg — Martins Kazaks, membro do Conselho do Banco Central Europeu, manda um recado aos investidores: não esperem um sinal da instituição sobre o futuro das compras de títulos da pandemia em setembro.
Com quase 600 bilhões de euros (US$ 713 bilhões) restantes para gastar pelo menos até o fim de março, prazo para o fim do programa, seria muito cedo para tomar uma decisão sobre estender ou descontinuar as compras, disse Kazaks em entrevista. Os casos de Covid-19 voltaram a subir em grande parte da região, ameaçando novas restrições que poderiam prejudicar a recuperação.
“Devido à incerteza, ao tempo restante, não há necessidade de decidir sobre isso”, disse Kazaks, que também é presidente do banco central da Letônia. “Vamos discutir isso, mas, no momento, ainda seria prematuro.”
Autoridades do BCE definiram a reunião de setembro - quando novas previsões estarão disponíveis - como uma sessão crucial para examinar a economia da zona do euro e as perspectivas e começar a debater o estímulo monetário pós-pandemia.
Kazaks recomendou paciência aos investidores quanto aos resultados sobre quando ou como o apoio emergencial será retirado. A próxima oportunidade para uma decisão sobre o assunto depois de setembro seria a reunião do BCE em 28 de outubro.
“É muito improvável que, no final de março de 2022, digamos: ‘é isso, fizemos nosso trabalho e o encerramos’”, disse Kazaks. “Gostaríamos de alertar os mercados com antecedência, mas apenas o quanto for razoavelmente possível.”
Os riscos para as perspectivas econômicas aumentaram recentemente. Empresas do setor de serviços estão particularmente preocupadas com o fato de que a propagação da variante delta, que é mais contagiosa, possa levar a novas restrições. A atividade no setor cresceu em ritmo mais lento do que o inicialmente divulgado em julho, segundo pesquisa com gerentes de compras.
Depois de uma revisão de 18 meses, o BCE está em processo de implementação de uma nova estratégia para elevar a inflação. No mês passado, a instituição se comprometeu a não elevar os juros até que a nova meta de 2% para a alta dos preços ao consumidor apareça de forma sustentável nas projeções do banco central, uma mudança de tom que, com base nas previsões atuais, adia ainda mais um aperto monetário.
A meta ligeiramente mais alta - anteriormente o BCE tinha como alvo inflação abaixo, mas próxima de 2% - e a orientação atualizada geraram expectativas entre economistas se a instituição iria intensificar o estímulo para alcançar o objetivo.
Kazaks sugeriu que, caso haja alguma mudança, esta será refletida no prazo, não no ritmo do apoio.
“Se demorar mais para que a inflação chegue a 2% de forma sustentável, então sim, isso significa que os aumentos virão mais tarde”, afirmou.
Ao mesmo tempo, o compromisso do BCE com as taxas ajudará os mercados financeiros a entender e prever melhor a política monetária futura, disse. “E é muito provável que a maior clareza possa de fato empurrar a inflação para 2% mais cedo e, assim, reduzir a necessidade de apoio de políticas.”
Kazaks rebateu críticas de outros membros do BCE, como Jens Weidmann e Pierre Wunsch, de que o compromisso da instituição com os juros cobre um período muito longo.
“Nosso forward guidance (orientação futura) atual sobre as taxas é uma visão equilibrada sobre como podemos reagir quando vemos a inflação se aproximando de 2%. Isso é atar muito nossas mãos e muito a longo prazo? Acho que não”, disse Kazaks. “Se acharmos que isso não é apropriado para a situação econômica, podemos ajustar nossa orientação futura.”
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