Agosto começa com alta de juros, agenda de reformas, balanços e emprego nos EUA

Profissionais do mercado voltam a ficar atentos às movimentações em Brasília e aos resultados dos bancos

Decisão do colegiado do Banco Central sobre a taxa Selic é a principal agenda da semana no mercado doméstico, que deve travar negócios por cautela até sair o anúncio da noite de quarta
01 de Agosto, 2021 | 07:42 PM

São Paulo — A primeira semana de agosto começa com os investidores em compasso de espera pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sobre a Selic, taxa básica de juros da economia, a ser anunciada em comunicado na noite da próxima quarta, após dois dias de encontro do colegiado.

O Relatório Focus, a ser divulgado na manhã desta segunda, pode indicar uma maior aposta dos bancos de que o Brasil feche 2021 com uma taxa acima de 7% ao ano, diante das pressões inflacionárias, potencializadas por reajustes principalmente na cadeia de insumos, energia e alimentos, além dos riscos políticos de um ano pré-eleitoral e do suspense sobre os rumos da política monetária nos EUA, que podem começar a retirar os estímulos e elevar juros antes do esperado (2023).

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A Selic está hoje em 4,25% ao ano, após um ciclo de três altas consecutivas de 0,75 ponto percentual (março, maio e junho). Desde julho de 2015, a taxa não subia. Os juros básicos estavam, desde agosto de 2020, no menor patamar (2% ao ano) da série histórica, iniciada em 1996. Há uma crescente ala no mercado, hoje praticamente consensual, prevendo uma dose maior na próxima quarta, com um aumento da Selic na magnitude de 1 ponto percentual, vista no Brasil em fevereiro de 2003, no primeiro ano do governo Lula.

O volume de negócios na B3 e no mercado de câmbio deve permanecer minguado nos próximos dias, com a tradicional cautela dos players na definição de suas estratégias de realocação de recursos e de carteiras para o oitavo mês do ano, enquanto aguardam sinalizações mais claras da autoridade monetária sobre a extensão do aumentos nos juros.

Volta do recesso

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Além da decisão do Copom, os profissionais do mercado voltam a ficar atentos às movimentações em Brasília. O recesso parlamentar encerrou no fim de julho, e o Congresso volta a virar um palco de articulações políticas sobre as propostas para as reformas tributária (PL 2337/21), política (PEC 125/11) e administrativa (PEC 32/20). O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), inclui ainda na agenda legislativa a privatização dos serviços postais (PL 591/21).

Os ruídos políticos tendem a ser amplificados nas próximas semanas, em meio às negociações entre parlamentares e o setor produtivo e à proximidade do fim do ano, quando há a expectativa de que os partidos consolidem suas apostas e lancem nomes para a disputa presidencial e regional em outubro de 2022. O presidente Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição, ainda está sem uma legenda para filiação. Com o fim do recesso parlamentar, ele deverá discutir o assunto com seus aliados no Congresso.

O principal desafio do ministro Paulo Guedes (Economia) nesta primeira semana é tranquilizar os investidores sobre os reais riscos de um estouro do teto de gastos com as promessas de Bolsonaro de aumentar as despesas com programas sociais, como o Bolsa-Família e o Auxílio Emergencial, que requerem recursos extras além dos previstos pelo Orçamento, um assunto que estressa principalmente os investidores estrangeiros, críticos à falta de previsibilidade do Brasil quanto à piora da situação fiscal.

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Emprego nos EUA

Nos EUA, os investidores vão aguardar a divulgação do relatório de julho sobre a criação de postos de trabalho, prevista para a próxima sexta-feira, um importante indicador para balizar o ritmo de recuperação de vagas após o avanço da vacinação contra a Covid-19 e o início da temporada de férias de verão no hemisfério norte. As variações dos rendimentos (yields) de longo prazo dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) vão continuar ditando o tamanho da aversão global ao risco dos ativos de mercados emergentes, como o Brasil e outros países da América Latina.

Nesta segunda, sai o PMI industrial de julho, índice que mede a atividade da indústria americana, e na próxima quarta, sai o indicador do setor de serviços. Esses dados vão ser analisados com lupa pelos analistas, em busca de pistas sobre a tendência da inflação e do grau de aquecimento da maior economia do mundo. Falas de autoridades do Federal Reserve (Fed) em eventos previstos para esta semana também devem catalisar as atenções dos investidores.

A atual safra de balanços do segundo trimestre avança com previsões de divulgações de resultados de companhias importantes, como HSBC (dia 2, segunda), Eli Lilly (3) e General Motors (4). Na B3, aguardam-se os números de companhias como Itaú Unibanco (dia 2, segunda), Bradesco (3) , Petrobras (4), Banco do Brasil (4) e M. Dias Branco (6).

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.