Transtornos podem atrapalhar seus planos de viajar em agosto

Os obstáculos da pandemia ainda se mostram presentes na retomada das viagens aéreas

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(Bloomberg) Após sua despedida de solteira em Austin, Texas, no último fim de semana, Corey Bradley estava se preparando para retornar à cidade de Nova York quando recebeu um alerta da JetBlue anunciando o cancelamento de seu voo. Ela recorreu ao site da operadora para efetuar uma nova reserva, mas foi recebida com uma mensagem de erro. Quando ligou para o atendimento ao cliente, uma gravação disse que ela teria de esperar - por seis horas.

“O voo foi mais curto do que isso”, disse Bradley.

A médica de 31 anos sofreu para encontrar uma passagem para o mesmo dia, mas recusou a tarifa de US$ 1.800. Acabou usando o voucher do hotel de sua irmã para ficar mais uma noite e desembolsou mais de US$ 450 para uma viagem de volta para casa em 19 de julho do dia seguinte. Bradley afirmou que ainda não sabe se recuperará o custo do voo cancelado da JetBlue.

Se você planeja sair de férias durante a alta temporada tradicional, o pesadelo de Bradley pode se tornar o seu. Milhares de passageiros ficaram cara a cara com problemas semelhantes ao decolarem após um ano ou mais de permanência perto de casa. Por várias razões, agosto pode ser ainda pior.

Restrições de capacidade em algumas companhias aéreas, falta de mão de obra em todo o setor de hospitalidade, além do aumento da demanda e condições climáticas nunca antes vistas estão pesando nos planos para as férias. Coloque nessa conta a variante delta do coronavírus e sua desastrosa disseminação global, e os americanos têm pela frente uma temporada frustrante.

A Southwest Airlines Co. e a American Airlines Group Inc. cancelaram cerca de 3% de seus voos nos primeiros seis dias de julho, enquanto mais de 33% sofreram atrasos, aponta a empresa de dados de aviação FlightAware. A média anual do setor em 2019 oscilou em torno de 1,8% para cancelamentos e 18,7% para atrasos, segundo o Bureau of Transportation Statistics dos EUA.

“Esses trancos e barrancos tornam a temporada de viagens de verão um pouco mais difícil”, disse o analista sênior de companhias aéreas da Bloomberg Intelligence George Ferguson. “Não é uma experiência terrível, mas não é uma experiência bonita.”

Muitos nos EUA podem simplesmente respirar fundo e tentar fugir de qualquer maneira, dado o grande número de casamentos, férias e reuniões familiares que a Covid-19 impediu. Dados da Administração de Segurança de Transporte mostram que as multidões nos pontos de controle de segurança dos aeroportos aumentaram constantemente este ano, com mais de 2,2 milhões de pessoas passando apenas em 18 de julho, um número quase adequado para tempos normais.

As aeronaves estavam em média com 88,8% de lotação nos sete dias antes de 18 de julho, contra 89,8% no mesmo período de 2019, de acordo com o grupo do setor Airlines for America. No entanto, a manutenção necessária em aeronaves estacionadas durante a pandemia mostrou que algumas operadoras não tinham aviões suficientes para atender a demanda no início da normalização.

Além disso, calor sem precedentes, incêndios florestais e tempestades atingiram grandes áreas do país, tornando o voo mais imprevisível. Derek Dombrowski, porta-voz da JetBlue, disse que o clima tem sido a principal causa dos problemas operacionais, e um porta-voz da Southwest, Brian Parrish, também atribuiu atrasos e cancelamentos recentes aos elementos. Em 19 de julho, a fumaça de grandes incêndios no oeste atrasou as chegadas ao Aeroporto Internacional de Denver, o quinto mais movimentado do país.

Sophie Vigeland, residente em Nova York, e seu namorado, Griffin Donnelly, viajaram para Atenas no início de julho, visitando também as brancas aldeias de Santorini e o célebre Fórum de Roma. O retorno estava previsto para um domingo, mas a United Airlines cancelou o voo e eles só conseguiram assentos dois dias depois, disse.

Isso significou mais US$ 1.000 gastos para cobrir noites extras de hotel, refeições e testes Covid-19, dado o requisito do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA de que todos os passageiros aéreos que entram nos EUA apresentem resultados com no máximo 72 horas.

Embora Vigeland tenha dito que se sente sortuda por ter viajado, ficou frustrada por não ter recebido nenhuma garantia da United de que se recuperaria com despesas adicionais. Em um comunicado enviado por e-mail, Leigh Schramm, porta-voz da United, disse que o voo foi cancelado devido a mau tempo no destino, o Aeroporto Internacional Newark Liberty, em Nova Jersey, algo fora do alcance da transportadora. As acomodações são fornecidas na maioria dos casos para clientes que enfrentam atrasos controláveis, acrescentou a empresa.

Ainda assim, o atraso significou mais estresse financeiro. “Economizamos para as férias”, disse Vigeland. Mas “planejamos 10 dias - não 13”.

Enquanto isso, o déficit de trabalhadores causado pela pandemia aumenta o transtorno para viajantes. O setor de aviação civil empregou 12,6% menos pessoas em maio em comparação com 2019, de acordo com os últimos dados do governo dos EUA. Em junho, a American Airlines cancelou 950 voos nas duas primeiras semanas de julho, citando más condições climáticas e falta de mão de obra, dizendo que em alguns casos atrasos devido a tempestades exauriram seu grupo de pilotos de reserva.

Sarah Jantz, porta-voz da transportadora, afirmou em 19 de julho que as mudanças representaram menos de 1% dos voos e que a taxa de conclusão de viagens melhorou.

As companhias aéreas estão trabalhando para retomar os treinamentos de pilotos que não cumpriram suas certificações enquanto os aviões estavam no solo, e convocaram comissários de bordo em licença voluntária. Mas muitos de seus contratados estão tendo dificuldade em recrutar, segundo Laura Moran, porta-voz do Service Employees International Union, que representa o pessoal do aeroporto responsável por, entre outras coisas, limpeza, segurança e bagagem.

Para Moran, tudo se resume a pagar. trabalhadores como faxineiros de cabines e agentes de cadeiras de rodas geralmente ganham cerca de US$ 12 por hora e nem sempre têm benefícios, segundo pesquisa SEIU 2016. Moran disse que as taxas para muitos permanecem em torno desses níveis, embora trabalhadores em aeroportos como o San Francisco International e o John F. Kennedy de Nova York tenham sofrido reduções salariais.

“Todas essas pequenas frustrações não ocorreram porque os trabalhadores não querem trabalhar”, afirmou Moran, diretor de comunicação de uma campanha para organizar a equipe do aeroporto. “As pessoas querem trabalhar quando são recompensadas de forma justa.”

Além disso, há a ameaça contínua do coronavírus. Em pesquisa da Deloitte LLP publicada em maio, 95% dos viajantes classificaram os preços das tarifas como prioridade ao reservar voos, mas 91% também disseram que escolheram com base em protocolos de segurança. As preocupações com a Covid estão levando as pessoas a escolher voos sem escalas em vez daqueles com paradas, bem como mais flexibilidade nas viagens, afirmou Ramya Murali, diretor da empresa.

Ao contrário do verão passado, quando o Sul e Oeste dos EUA foram atingidos pela segunda onda de infecção no país, as preocupações com o vírus provavelmente não são suficientes para fazer turistas desistirem de seus planos, diz Helane Becker, analista de pesquisa sênior da Cowen Inc. No entanto, pode ocorrer um declínio maior do que o normal nas viagens após o feriado americano do Dia do Trabalho em 6 de setembro, disse.

Além disso, com a variante delta dominando o que agora é o início de uma quinta onda de infecção, aqueles que ainda não fizeram planos para o próximo mês podem pensar duas vezes, dependendo das próximas semanas.

Bradley já tomou sua decisão, e não por causa da variante. Ela e seu futuro marido, Michael Murn, se casarão em setembro e estão pensando em voar para algum lugar no verão. Mas após o desastre que foi sua despedida de solteira, eles provavelmente farão uma viagem de carro para Nova Jersey.

Mesmo se enfrentarem trânsito, ela diz: “não precisamos nos preocupar com esse tipo de caos”.

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