Enfrentando investigações, Bolsonaro faz manobra para manter apoio no Congresso

A mais recente tática do presidente visa garantir apoio parlamentar

Bolsonaro busca apoio no centrão
Por Simone Iglesias e Andrew Rosati
22 de Julho, 2021 | 08:51 PM

Bloomberg — O presidente Jair Bolsonaro convocou um parlamentar de centro de fora de seu círculo íntimo para supervisionar seu gabinete, sua última manobra para manter o apoio no Congresso em meio a investigações da polícia e do Senado sobre como o governo está lidando com a pandemia.

O senador Ciro Nogueira, líder do poderoso bloco conhecido como “centrão”, será o novo chefe da Casa Civil de Bolsonaro com a missão de manter boas relações com o legislativo, anunciou o presidente na quinta-feira.

“Isso melhora o diálogo com o Congresso e poderemos prosseguir normalmente, liderando o destino da nação”, afirmou em transmissão ao vivo do Palácio da Alvorada, em Brasília.

Sob fogo pela resposta errática de seu governo à pandemia, Bolsonaro aprofundou sua aliança com o centrão nos últimos meses. A coalizão, composta por cerca de 200 legisladores de 10 partidos políticos, apoiou todos os presidentes brasileiros nas últimas décadas em troca de influência e empregos na administração. Mais recentemente, foi crucial no bloqueio de mais de 100 pedidos de impeachment contra Bolsonaro.

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A chegada de Nogueira, outrora apoiador dos governos de esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, reduziu a influência de antigos aliados de Bolsonaro: os militares e o ministro da Economia, Paulo Guedes. O general Luiz Eduardo Ramos, ex-chefe de gabinete, foi rebaixado a uma função administrativa, enquanto Guedes viu as atribuições de seu ministério serem cortadas para dar lugar a outro aliado do presidente.

Ramos foi criticado por parlamentares centristas por manter rígido controle sobre as negociações orçamentárias com o Congresso, segundo quatro pessoas familiarizadas com o assunto que pediram anonimato. Seu rebaixamento, acrescentaram, foi uma decisão pragmática de Bolsonaro, que ainda não tem partido para levar sua agenda ao Congresso, mesmo com as eleições presidenciais a pouco mais de um ano.

“Ele se tornou dependente” de partidos de centro, afirma Carlos Melo, professor de ciências políticas do Insper. “Quanto mais fraco fica, piores são seus números nas pesquisas, quanto mais gente sai às ruas, mais poder ele terá de ceder.”

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A popularidade de Bolsonaro atingiu baixa histórica enquanto o Senado examina os erros do governo que contribuíram para a morte de quase 550.000 brasileiros devido à Covid-19. No início deste mês, o inquérito encontrou indícios de propinas na compra de vacinas, beneficiando funcionários do ministério da saúde e um legislador aliado do governo.

Um juiz da Suprema Corte autorizou uma investigação da Polícia Federal para determinar se Bolsonaro tinha conhecimento de delitos. Ele afirma que não.

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