(Bloomberg) – Um grande número de novas e menos conhecidas taxas referenciais estão reivindicando sua parte no cenário pós-Libor, ao mesmo tempo em que as perspectivas de crescimento desse universo parecem cada vez mais fragmentadas.
Antes em grande parte consideradas secundárias na corrida pela substituição da taxa do mercado interbancário de Londres, um grupo de desafiantes surgidas do nada, que vão da Ameribor e BSBY ao Bank Yield Index da ICE, vem ganhando tração, ou pelo menos recebendo mais atenção, nas últimas semanas. Sua ascensão se dá com tomadores e banqueiros questionando cada vez mais se a substituta preferida de longa data do Federal Reserve, a Secured Overnight Financial Rate (SOFR) é mesmo a melhor opção para a massa de mercados que precisa se livrar até o fim do ano da Libor, manchada por escândalos.
No centro da questão estão duas falhas que há muito perseguem a SOFR: uma falta de curva de visão de futuro e a ausência de um componente de crédito – ambas características importantes da Libor que todas as taxas mais novas oferecem. Wall Street, por sua vez, já começou a sinalizar algum apoio às alternativas menos conhecidas. Múltiplas taxas poderiam ajudar a atender as necessidades de várias linhas de negócios, mas correm o risco de tornar uma transição complexa ainda mais difícil, podendo também desacelerar o acúmulo de liquidez em qualquer um dos referenciais.
“Há um grande esforço para tentar transformar a SOFR num monólito, mas o mercado parece ter outros pontos de vista sobre o tipo de referencial que gostaria de ter para transações muito específicas”, diz Mark Cabana, diretor de estratégia de juros do Bank of America Corp. para os EUA. “Será que a SOFR acabará sendo a principal taxa de empréstimo do futuro? Não sei. Acho que há dúvidas reais sobre isso.”
Empréstimos sindicalizados
Em nenhum lugar a corrida pela sucessão da Libor está mais patente do que nos mercados de empréstimos sindicalizados, que movimentam muitos trilhões de dólares.
Quase metade dos participantes de uma pesquisa da TD Securities divulgada em 14 de maio responderam “empréstimos”, quando perguntados onde eles esperam ver a maior adoção das chamadas taxas sensíveis ao crédito, com outros 19% optando pelos produtos “cash” e outros 22% escolhendo “cash” e os mercados de derivativos.
Um dos principais problemas que atrapalham a adoção ampla da SOFR continua sendo a falta de uma estrutura a termo prospectiva, segundo Meredith Coffey, vice-presidente executivo de pesquisa & políticas públicas da Loan Syndications e Trading Association. Ainda assim a situação é mais complicada do que um único obstáculo. Tomadores, emprestadores e investidores têm necessidades diferentes que podem ser melhor atendidas por taxas diferentes, afirma Coffey, que também é membro do Alternative Reference Rates Committee, o grupo apoiado pelo Fed que orienta da transição da Libor nos EUA.
Crédito rotativo
Os bancos que estão oferecendo linhas de crédito rotativo, por exemplo, estão expostos a riscos de financiamento e desse modo podem estar mais propensos a fazer uma transação baseada em uma taxa sensível ao crédito, enquanto certos tomadores podem preferir a SOFR, principalmente depois que uma taxa a termo de prospecção apoiada por negócios com derivativos robustos puder ser estabelecida.
“A coisa importante é que estaremos em um ambiente multitaxas”, diz Coffey. “Já vimos isso. Esperávamos isso e não é uma tragédia.”
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Na semana passada, a Duluth Holdings Inc. tornou-se a primeira companhia não financeira a conseguir um empréstimo sindicalizado corporativo atrelado ao Bloomberg Short Term Bank Yield Index, depois do primeiro negócio com swaps e o primeiro bônus bancário atrelados ao índice em abril.
A SME Group Inc., que lançou futuros de SOFR há mais de três anos, disse na segunda-feira que pretende introduzir futuros baseados na BSBY em algum momento do terceiro trimestre, com a compensação de swaps no mercado de balcão estreando no quarto trimestre, dependendo das análises reguladoras. A bolsa de futuros CBOE lançou os contratos futuros de Ameribor em agosto de 2019. A BSBY é administrada pela Bloomberg Index Services Limited, uma subsidiária da Bloomberg LP, controladora da Bloomberg News.
“Gostamos do fato de ela ter uma correlação muito alta com a Libor e de podermos ter estabelecido algumas parcelas a termo nela, o que sob o arranjo da SOFR seria um pouco mais complicado”, disse em uma entrevista o diretor financeiro da Duluth, Dave Loretta.
No mês passado, a LSTA incluiu a Ameribor, supervisionada pela American Financial Exchange, como uma opção de retirada para as suas disposições contratuais sugeridas, cujo propósito é ajudar na transferência de empréstimos para taxas alternativas quando a Libor for descontinuada.
O Bank Yield Index ainda não foi lançado, mas assim como a BSBY e a Ameribor, ele vai olhar para o futuro e se concentrará no crédito. Ele é supervisionado pela ICE Benchmark Administration, a mesma companhia que atualmente supervisiona a Libor.
Preocupações com a liquidez
Mesmo assim, nem todo mundo está convencido de que ter mais opções é uma coisa boa. “Nossa preocupação é de que isso possa fragmentar os mercados ou reduzir a liquidez do mercado de derivativos”, escreveu Priya Misra da TD Securities em uma nota a clientes recente. Num relatório separado, ela disse que “não está claro como as taxas sensíveis ao crédito vão se comportar num evento de crédito”.
Andrew Bailey, o presidente do Banco da Inglaterra, foi mais enfático este mês, dizendo em um simpósio organizado pela ARRC que uma miríade de alternativas sensíveis ao crédito não é uma opção viável.
“Essas taxas podem oferecer conveniência como uma substituição de curto prazo, mas elas apresentam uma série de riscos complexos no longo prazo”, disse Bailey durante um painel com o presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams. “Embora elas possam acabar com a dependência do parecer de peritos, elas encobrem os desafios fundamentais de mercados pequenos e incompletos pela extrapolação de dados.”
A ARRC encoraja a todos a entender os referenciais que eles escolhem como alternativas à Libor, para que eles possam evitar ter de passar novamente por uma transição custosa e arriscada, disse por email o presidente do grupo, Tom Wipf. Ele acrescentou que a SOFR é uma taxa robusta que atenderá muitas das necessidades dos participantes do mercado.
No final das contas, poucos estão afirmando que a SOFR não terá uma função importante no cenário pós-Libor nos próximos anos, e muitos ainda a veem como o provável referencial a ser adotado para a maior parte das transações futuras.
Os fundos de pensão a usarão para fazer hedge de risco de juros, enquanto os bancos imobiliários a usarão para fazer hedge de risco de pré-pagamento. O mesmo farão aqueles que quiserem apostar sobre a direção da política monetária dos EUA.
Na verdade, 60% dos participantes da pesquisa da TD Survey disseram acreditar que o mercado de derivativos vai se apoiar em alguma variação da taxa enquanto ele se afasta da Libor.
Outros não estão tão certos. “Qual será a taxa dominante daqui cinco ou dez anos? É onde tenho mais dúvidas sobre a SOFR por causa da adoção morna dela pelos mercados hoje”, diz Cabana do Bank of America. “Há um outro capítulo na transição da Libor que ainda não foi escrito e que envolverá as taxas sensíveis ao crédito.”