Positivo avança para diversificar fontes de receita e reduz peso do varejo

Fabricante de PCs, tablets e smartphones mira canais de venda direta em marketplaces e reforça prestação de serviço para clientes corporativos, diz o CFO, Caio Moraes, à Bloomberg Línea

Linha de produção da Positivo (Foto: Divulgação)
16 de Abril, 2024 | 05:10 AM

Bloomberg Línea — A Positivo Tecnologia (POSI3) tem buscado reduzir a dependência de suas receitas às vendas para grandes varejistas, como a Americanas (AMER3), que entrou em recuperação judicial em janeiro do ano passado e deixou uma dívida de R$ 50 milhões com a empresa.

A fabricante de PCs, tablets e smartphones agora direciona foco para contratos institucionais, do fornecimento de produtos de informática às secretarias de educação a urnas eletrônicas para eleições.

Além disso, há uma aposta maior na prestação de serviços de tecnologia para o setor corporativo, da manutenção de sistemas à locação de equipamentos, bem como para as maiores empresas de maquininhas de pagamento do país.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CFO da Positivo, Caio Gonçalves de Moraes, disse que a companhia paranaense tem mirado ainda a recuperação dos canais de venda direta online, com operação de sites próprios e também com lojas oficiais em 27 marketplaces, incluindo Mercado Livre (MELI), Magazine Luiza (MGLU3), Amazon (AMZN) e Casas Bahia (BAHI3).

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Em 2023, a Positivo se tornou o primeiro full commerce (modelo em que há a terceirização das operações de vendas digitais) do segmento dentro do Mercado Livre, algo que só foi possível após a integração do seu sistema ERP à plataforma do marketplace. Isso resultou, segundo a companhia, em entregas mais rápidas e menor custo de frete.

“Já diversificamos nossa base de clientes. No passado, o varejo respondia por mais de 60% da receita bruta. Hoje essa participação caiu para 24%”, disse Moraes.

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Varejistas menores, com atuação regional e melhor perfil de capitalização, também entraram na carteira de clientes da Positivo, segundo o executivo. Ele mencionou, por exemplo, a Havan e a Lojas Cem.

“Estamos vendendo mais para o Tier 2 [nível de médio porte]”, disse o CFO.

Para além do hardware

Para diversificar suas fontes de receita além do hardware, a companhia tem feito M&As. No mês passado, por exemplo, anunciou a aquisição da Algar TI Consultoria, uma empresa de serviços gerenciados de TI, por R$ 235 milhões. O negócio foi visto no mercado como um meio de acelerar a estratégia de diversificação da Positivo, aumentando a receita de serviços de TI de 8% para aproximadamente 18%.

Moraes apontou o deal como uma aposta da empresa em se consolidar como uma provedora de soluções integradas, incluindo a adoção de IA (Inteligência Artificial) em todo o Brasil e na América Latina.

Segundo ele, a Algar, com seus 160 clientes brasileiros, fortalece a unidade de negócios Positivo Tech Services, expandindo sua oferta de hardware, serviços e soluções.

Em relatório sobre a transação, a equipe de analistas da XP reiterou a recomendação de compra e preço-alvo de R$ 16 para POSI3 no final de 2024, após avaliar a aquisição como positiva, já que traz maior diversificação para outros negócios além do hardware, com um perfil de receita recorrente.

“A aquisição traz uma equipe de mais de 4.400 profissionais de TI com expertise em nuvem, IA e cibersegurança, proporcionando acesso ao mercado corporativo no Brasil e expandindo para México, Colômbia e Argentina”, destacaram os analistas no relatório da XP.

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Até a última sexta-feira (12), o papel acumulava ganho perto de 50% neste ano, cotado a R$ 9,74, ante um Ibovespa negativo da ordem de 5% no período. Essa valorização acompanha o movimento positivo do setor de tecnologia, segundo o analista da Toro Investimentos Lucas Serra.

“As companhias desse setor geralmente possuem fluxos de caixa mais longínquos, o que as faz mais sensíveis às taxas de juros. Com o fechamento das curvas [queda de juros futuros], com destaque para os vértices mais longos, as empresas de tecnologia se beneficiam de forma significativa”, explicou o analista em comentário enviado aos clientes da corretora digital do Santander Brasil (SANB11).

O mercado de serviços de tecnologia é estimado em mais de US$ 45 bilhões no Brasil e em US$ 115 bilhões na América Latina, segundo a Positivo, citando dados da Abes (Associação Brasileira das Empresas de Software).

Esse mercado apresenta um crescimento anual superior a 27,6%, acrescentou a companhia, atribuindo a informação a um estudo da consultoria Gran View Research.

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Quanto às vendas de PCs, o CFO da Positivo disse que esse mercado está em ritmo de recuperação das vendas, o que favorece seu resultado financeiro. “As linhas novas de produto estão indo bem”, avaliou.

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No quarto trimestre de 2023, a companhia reportou um aumento de 28% na receita líquida na comparação anual, totalizando R$ 1,5 bilhão. O lucro líquido acumulado entre outubro e dezembro chegou a R$ 190 milhões, alta de 40% em 12 meses.

A receita bruta trimestral avançou 4%, em meio a um cenário macro desafiador no varejo e uma crise de crédito que levou as redes a reduzir seus dias de estoque. O desempenho positivo foi impulsionado pela linha Infinix e pelos novos tablets Positivo e Vaio, que superaram as expectativas da empresa.

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A alavanca principal da receita tem sido a área de projetos especiais, que registrou uma receita de R$ 778 milhões no quarto trimestre, totalizando R$ 1,151 bilhão em 2023. Entre eles está o contrato de entrega de urnas eletrônicas para as eleições municipais de 2024, no valor de R$ 1,4 bilhão, sendo que cerca de R$ 250 milhões ainda serão faturados em 2024.

Dívida de R$ 50 mi da Americanas

Na lista dos quase 10.000 credores da Americanas, a Positivo, um fornecedor relevante de celulares e produtos de informática, decidiu no mês passado manter sua relação comercial com a varejista, incluindo a concessão de prazos e crédito, em troca de receber cerca de R$ 50 milhões devidos.

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“Vamos receber o valor integral, de cerca de R$ 50 milhões, sem correção monetária, até o fim deste primeiro semestre. Aderimos à opção de fornecedor colaborador prevista no PRJ [Plano de Recuperação Judicial]. Vamos manter o cliente, mesmo que ela não consiga mais ter a importância nas vendas que teve no passado”, disse o CFO da Positivo.

Ele não quis fornecer com precisão a data ou o trimestre da entrada desse dinheiro no caixa da companhia, cujas vendas totais no ano chegam a quase R$ 5 bilhões.

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Segundo o executivo, o fornecimento de PCs, tablets e smartphones para a Americanas já tinha sido reduzido desde o início do ano passado, quando foi revelada uma fraude contábil na varejista, que tem como acionistas de referência o trio de bilionários do 3G Capital, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.

Moraes disse que a Americanas não definiu ainda o volume de suas próximas encomendas. Além da marca própria de celular, a Positivo tem o licenciamento do Infinix, marca premium da chinesa Transsion, e também vende produtos da Vaio, marca japonesa de notebooks, e da americana Compaq.

A estratégia de mudança de mix de produtos nas lojas da Americanas seguiu os ajustes operacionais adotadas pela companhia varejista para enfrentar as negociações com fornecedores diante das incertezas sobre o pagamento da dívida.

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Após ser aprovado em dezembro pelos credores, o plano de recuperação judicial só foi homologado pela Justiça no final do mês passado. Desde o início de sua crise financeira em janeiro de 2023, a Americanas pagava os fornecedores à vista ou de forma antecipada.

No último dia 20 de março, a Americanas informou que a categoria de “credores fornecedores colaboradores” (aqueles dispostos a voltar a conceder crédito para a companhia), em que se encaixou a Positivo, teve cerca de 500 adesões e que o pagamento jcomeçou no dia 14 do mês passado. Esses fornecedores representaram mais de 70% das vendas em lojas em 2023, segundo a varejista.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.