Itaú avalia pagamento de dividendo extraordinário perto do final do ano, diz CEO

Milton Maluhy Filho diz que excesso de capital no primeiro trimestre se deve à disciplina da gestão com incertezas no cenário regulatório que será “calibrada” com eventual provento extra

Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú Unibanco
07 de Maio, 2024 | 03:12 PM

Bloomberg Línea — O Itaú Unibanco (ITUB4) avalia a possibilidade de realizar um novo pagamento de dividendo extraordinário no segundo semestre deste ano, segundo o CEO Milton Maluhy Filho, em conversa com jornalistas sobre o resultado do primeiro trimestre.

No primeiro trimestre, o conglomerado financeiro reportou um índice de capital de 14,5%, acima do piso de 11,5%. O executivo reconheceu que o banco vem operando com “algum excesso” de capital e atribuiu o fato à disciplina da gestão com incertezas sobre o impacto de mudanças regulatórias esperadas para o setor.

“Mais próximo do final do ano, vamos calibrar bem o excesso de capital para eventualmente fazer um dividendo extraordinário novamente”, disse Maluhy Filho.

No ano passado, o pagamento de dividendo extraordinário fez a Itaúsa (ITSA4), holding de investimentos do grupo, registrar o maior lucro de sua história (R$ 14,1 bilhões) devido à participação (37%) no banco.

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O Itaú lucrou R$ 35,6 bilhões e pagou R$ 11 bilhões em dividendo extraordinário.

As ações do Itaú registraram uma alta de 2,07% nesta terça-feira.

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O CEO do Itaú disse que o banco não trabalha com uma meta de pagamento de dividendos e, portanto, evitou precisar um número para a possível distribuição extraordinária.

“Tendo sobra e excesso [de capital], a ideia é fazer um novo dividendo extraordinário”, reforçou.

Entre janeiro e março, o banco lucrou R$ 9,771 bilhões, alta de 15,8% e de 3,9% nos comparativos trimestral e anual, respectivamente.

A rentabilidade medida pelo ROE (retorno sobre patrimônio líquido) subiu para 21,9%, superando o do quarto trimestre (21,2%) e de igual período do ano passado (20,7%).

Sobre o ritmo de crescimento da carteira de crédito, o executivo reafirmou a projeção (guidance) para 2024, que aponta um intervalo de crescimento entre 6,5% e 9,5%. No primeiro trimestre, a carteira totalizou cerca de R$ 1,2 trilhão, um incremento de 0,7% e 2,8% nos comparativos trimestral e anual, respectivamente.

“O primeiro trimestre teve alguns impactos com a variação cambial na operação da América Latina. Observando só a carteira Brasil, houve crescimento de 16%. Desconsiderando o efeito cambial, a carteira cresceu 5,6%. Acredito que conseguimos crescer acima do piso do guidance”, afirmou Maluhy Filho.

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Tendência de estabilidade na inadimplência

O CEO do Itaú disse esperar uma “certa estabilidade” no comportamento dos indicadores de inadimplência, cuja dinâmica nos próximos trimestres dependerá do mix de produtos principalmente para os clientes pessoas físicas.

“Reduzimos os produtos para os canais do mar aberto [principalmente a emissão de cartão de crédito para não correntistas em canais digitais]. Fizemos ajustes nos níveis de renda menos resilientes. A média e alta renda continua sendo uma fortaleza”, avaliou o executivo.

Maluhy Filho considerou que o Itaú está “confortável” e que os patamares atuais de inadimplência são “adequados” após os ajustes realizados no portfólio.

“O pior da crise ficou para trás”, resumiu.

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Para 2024, o Itaú planeja melhorar sua oferta de produtos para o segmento massificado de clientes, segundo o CEO. Já começaram os testes da reformulação do “iti”, que será uma plataforma digital internamente chamada de “One Itaú”.

Maluhy Filho vê oportunidades de crescimento em diversos segmentos, além da baixa renda, com o lançamento (ainda sem data) para o seu “super app”.

“Estamos apostando todas as nossas fichas nessa plataforma. É o projeto mais relevante que temos para 2024″, afirmou.

Expectativa de aceleração do crédito

Analistas concordam com a leitura feita pelo CEO do Itaú sobre a tendência de melhora da qualidade de crédito nos próximos meses. É o caso de Rafael Reis, analista do BB Investimentos, para quem o cenário já indica uma “inflexão da inadimplência de maneira mais pronunciada” no setor.

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“É provável que vejamos o banco com mais confiança para voltar a crescer de forma mais pujante, compensando com volumetria o enfraquecimento de margem que devemos ver nos trimestres vindouros, dado o ambiente de juros em queda”, escreveu Reis, em relatório.

Ele elevou de R$ 35,20 para R$ 40 o preço-alvo da ação do Itaú, mantendo a recomendação de compra após a divulgação do balanço e prevendo um ritmo maior na concessão de empréstimos.

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“O fraco crescimento de carteira de crédito no comparativo anual [2,8%], em nossa visão, reflexo ainda do momento de seletividade visto ao longo dos últimos trimestres, deve deixar de ser a tônica ao longo de 2024″, avaliou Reis.

Já a equipe de research do BTG Pactual (BPAC11) observou que, sob a orientação de Maluhy Filho, o Itaú acelerou sua estratégia de transformação digital “indo além de simplesmente migrar para a nuvem e reescrever o código”, desafiando a percepção de longa data do setor de que “os banqueiros sabem tudo”.

“Com o projeto One Itaú, o banco fez a transição de defesa para o modo de ataque. O Itaú continua sendo nosso Top Pick entre os bancos latino-americanos”, considerou o relatório do BTG, assinado pelos analistas Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura.

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O BTG tem recomendação de compra para ITUB4 com preço-alvo de R$ 42.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.