Gestoras brasileiras iniciam o ano com otimismo e enfrentam ressaca após rali

Alguns dos principais fundos do mercado nacional se posicionam para captar o melhor cenário para ativos domésticos, segundo análise da Bloomberg News a partir das cartas de gestão

Região da Faria Lima, em São Paulo, setembro de 2022. Foto: Victor Moriyama/Bloomberg
Por Felipe Saturnino
12 de Janeiro, 2024 | 06:14 PM

Bloomberg — Gestores de recursos independentes do Brasil iniciaram 2024 na expectativa de continuidade do rali visto no fim do ano passado com apostas de uma mudança na política do Federal Reserve - uma perspectiva, até o momento, frustrada pela cautela externa.

Alguns dos principais fundos locais se posicionam para captar o melhor cenário para os ativos domésticos. A Adam Capital disse em carta a investidores referente a dezembro que elevou a aposta otimista no real contra o dólar, enquanto a Absolute Investimentos informou que a posição comprada na divisa brasileira é a maior no seu livro de moedas.

Gestoras como Bahia Asset e Ibiuna Investimentos têm entre suas apostas a queda das taxas de juros negociadas no mercado e a compra de bolsa. Genoa Capital e Legacy Capital projetam que a Selic deva cair ao menos até 8,5% ao ano em 2023.

O otimismo rendeu frutos em dezembro, mês em que a narrativa do “pivô” do Fed ganhou força. Mas o começo do ano trouxe uma espécie de ressaca do rali, com fortalecimento do dólar global e alta dos rendimentos dos Treasuries, conforme os operadores nos Estados Unidos reduziram as apostas em um corte pelo banco central dos EUA comandado por Jerome Powell ainda em março — o que também ajudou a frear o ímpeto dos ativos brasileiros.

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“No ano passado, Powell se tornou um pouco dovish e os mercados reagiram rapidamente”, disse Brendan McKenna, estrategista de câmbio do Wells Fargo. “Neste ano, as coisas estão voltando à realidade.”

“Os mercados talvez precifiquem um excesso de cortes na curva futura, e uma certa exuberância nos ativos de risco, temas que devem ditar o início do ano”, disse a Verde Asset em carta de gestão.

Em dezembro, o índice de hedge funds da Anbima, que captura o desempenho de uma cesta de fundos multimercado, avançou 2,65%, o maior ganho mensal desde março de 2022.

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Já a taxa de referência do CDI entregou retorno de 0,90% no período. O índice da Anbima fechou 2023 com alta de 9,31%, abaixo do avanço de 13,05% do CDI.

Nos primeiros poucos dias do ano, os fundos viram suas performances ficarem de estáveis a negativas, com o freio no rali global que guiou os ganhos em dezembro.

Veja o que gestoras independentes disseram em suas cartas mensais de dezembro:

Absolute Investimentos

A Absolute disse que a posição comprada (que ganha com a apreciação) em real contra o dólar é uma das suas principais no livro de moedas. Mantém apostas em queda nas taxas de juros (posição aplicada) no Brasil, no México e no Chile. O fundo disse que mantém elevada exposição comprada na bolsa americana, parte relevante via estrutura de opções.

  • Absolute Vertex FIC: +3,16% em dezembro
  • Taxa de referência do CDI: 0,90%

Adam Capital

A Adam Capital disse que aumentou a posição comprada em real contra o dólar e que segue com aposta (posição tomada) que ganha com a alta dos juros nominais no Brasil e nos EUA. O fundo também está aplicado em taxas reais domésticos, que se beneficia da baixa. A Adam montou uma “pequena posição comprada” em bolsa americana.

  • Adam Macro II FIC: +1,44%

Bahia Asset Management

O Bahia Asset disse que aplica juros nominais e está comprado em bolsa no Brasil. O fundo também detém posições vendidas (que ganha com a queda) em moedas europeias e no dólar americano contra o peso mexicano e o real.

  • Bahia AM Marau FIC: +1,85%

Genoa Capital

O fundo reduziu a posição aplicada em juros nominais e mantém apostas compradas no real contra o dólar americano e uma cesta de moedas. Está liquidamente comprado em ações no Brasil e nos EUA, país onde aposta também em aumento da inclinação da curva de juros.

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  • Genoa Capital Radar FIC FIM: +1,62%

Ibiuna Investimentos

A Ibiuna está aplicada em juros nominais e reais no Brasil e tem operações com viés vendido em dólar e comprado em moedas da América Latina, como o real. No exterior, o fundo mantém o risco alocado a posições aplicadas em países desenvolvidos e emergentes diante da perspectiva de antecipação do início ou intensificação de ciclo de queda de juros no primeiro semestre de 2024.

  • Ibiuna Hedge STH FIC: +4,54%

JGP Asset Management

Os principais ganhos dos fundos foram originados nas operações de juros aplicadas nos Estados Unidos, na compra de real contra dólar, nas posições compradas em ações na bolsa brasileira e no “trade ativo” de Ibovespa, disse a JGP.

  • JGP Strategy FIC: +0,82%

Kapitalo Investimentos

O fundo reduziu a posição aplicada em juros no Brasil e no México, e também as posições tomadas em juros no Japão. Aumentou posições compradas no real e de valor relativo em ações brasileiras, enquanto zerou posições vendidas em índices globais.

  • Kapitalo Kappa FIN: +1,7%

Legacy Capital

A Legacy Capital permanece com posições aplicadas em juros reais e nominais no Brasil. Também mantém posições que ganham com juros menores no México, e mais táticas nos EUA e na Europa. Está vendida em real contra o peso mexicano.

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  • Legacy Capital FIC: +2,05%

Verde Asset Management

A Verde reduziu marginalmente sua exposição em ações no Brasil, enquanto na parcela global alguns hedges maturaram e a posição voltou a ser liquidamente comprada. O fundo aumentou a posição no peso mexicano, com funding no euro e na moeda chinesa.

  • Verde FIC FIM: +3,3%

Vinland Capital

Vinland segue com posição aplicada na parte curta da curva de juros doméstica. O fundo também tem posição aplicada na parte intermediária da curva de juros no México. Detém posição líquida comprada em bolsa internacional.

  • Vinland Macro Plus FIC FIM +1,86%
  • Link para carta

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