Bloomberg — O tão aguardado relatório de resultados trimestrais da Apple não conseguiu acalmar as preocupações de investidores sobre seus maiores desafios, o que inclui a escalada dos custos tarifários e a desaceleração na China.
As ações da empresa caíram até 4,2% nas negociações de after hours do pregão desta quinta-feira (1 de maio), depois que a Apple divulgou os resultados do segundo trimestre, que incluíram vendas piores do que o esperado na China.
A fabricante do iPhone também alertou que as tarifas aumentarão os custos neste trimestre, um sinal de que as tensões geopolíticas já cobram um preço cada vez maior da empresa mais valiosa do mundo.
A Apple (AAPL) espera um aumento de US$ 900 milhões em custos decorrentes de tarifas no período atual, disse o CEO Tim Cook durante uma teleconferência com analistas e investidores.
Leia mais: Apple planeja produzir maioria dos iPhones na Índia para reduzir dependência da China
A receita aumentará em um percentual de um dígito baixo a médio no trimestre, em comparação com uma estimativa média de 5% dos analistas.
A empresa não ofereceu nenhum guidance (projeção) sobre o impacto das tarifas além do período atual que se encerra em junho.
“Administraremos a empresa da maneira que sempre fizemos, com decisões ponderadas e deliberadas, com foco no investimento a longo prazo”, disse Cook durante a teleconferência.
As vendas da China, por sua vez, caíram 2,3%, para US$ 16 bilhões, no segundo trimestre, encerrado em 29 de março. Os analistas haviam previsto US$ 16,83 bilhões. Essa queda é um sinal ameaçador para o que já foi um mercado em crescimento.
A Apple perdeu terreno para as marcas de telefones locais, como Huawei, Xiaomi e Oppo, e o governo do país proibiu a entrada de tecnologia de fabricação estrangeira em alguns locais de trabalho.
A produção da Apple centrada na China também a torna especialmente vulnerável às tarifas anunciadas pelo governo Trump.
A empresa também segue com dificuldades com o desenvolvimento de IA (Inteligência Artificial), especialmente na China, onde sua plataforma Apple Intelligence ainda não está disponível.
E a marca é cada vez mais vista como atrasada pelos consumidores na China, onde os concorrentes já lançaram smartphones dobráveis.
Leia mais: De Nike a Apple: como as tarifas de Trump desafiam a cadeia produtiva na Ásia
A Apple se prepara para lançar seus serviços de IA na China nos próximos meses - contando com os parceiros Alibaba Group Holding e Baidu - e um iPhone dobrável deve ser lançado no próximo ano.
Como parte do relatório trimestral, a empresa anunciou planos para aumentar seu programa de recompra de ações em US$ 100 bilhões e aumentar o dividendo trimestral em 4%, para 26 centavos de dólar por ação.
As ações da Apple haviam caído 15% neste ano até o fechamento de quinta-feira.
As vendas totais aumentaram 5%, para US$ 95,4 bilhões, no último trimestre, acima da estimativa média de US$ 94,6 bilhões.
A Apple havia projetado um crescimento percentual de um dígito baixo a um dígito médio. Os lucros chegaram a US$ 1,65 por ação no segundo trimestre, em comparação com uma estimativa média de US$ 1,62.
A Apple vendeu iPhones no valor equivalente a US$ 46,8 bilhões no período, superando as estimativas de US$ 45,9 bilhões.
Ainda assim, isso representa um aumento de menos de 2% em relação aos US$ 46 bilhões do trimestre anterior e se compara de maneira inferior aos US$ 51,3 bilhões do mesmo período de dois anos atrás.
Os iPhones mais recentes não são muito diferentes dos modelos anteriores e, em sua maioria, oferecem os mesmos recursos de IA que o iPhone 15 Pro de 2023. Isso deu aos consumidores menos motivos para fazer o upgrade.
A empresa lançou o iPhone 16e durante o trimestre, substituindo seu modelo SE de baixo custo de US$ 429. O preço de US$ 599 desse telefone, no entanto, é mais alto do que as ofertas dos concorrentes - algo que pode ter dissuadido alguns consumidores.
No fim deste ano, a empresa planeja lançar atualizações mais significativas para o iPhone, incluindo um design mais fino.
Cook elogiou o chip de modem C1 desenvolvido internamente pela empresa, que faz parte do 16e, dizendo que o novo componente é o início de uma “jornada”.
A empresa enfrenta uma série de desafios - além das tarifas iminentes.
Nas últimas semanas, a Apple mudou o comando do desenvolvimento de IA e está sob crescente pressão regulatória na União Europeia e em seu país de origem.
Na quarta-feira (30), um juiz federal exigiu que a empresa abrisse sua App Store para opções de pagamento de terceiros e parasse de cobrar comissões sobre compras externas.
As receitas com serviços, que incluem a App Store e a Apple TV+, cresceram 12%, para US$ 26,7 bilhões no último trimestre - em linha com as estimativas. No entanto, esse negócio está sob ameaça em algumas áreas.
Leia mais: Apple perde espaço para chinesas como Xiaomi e vendas globais de iPhone recuam 5%
A decisão desta semana sobre a App Store pode prejudicar a receita da plataforma. E o governo dos EUA está tentando romper o lucrativo acordo de buscas da Apple com o Google, da Alphabet.
Sem guidance para serviços
A empresa não forneceu orientação sobre o crescimento futuro dos serviços devido à “incerteza”.
A divisão do Mac, que lançou novos modelos MacBook Air e Mac Studio durante o trimestre, gerou US$ 7,95 bilhões em receita. Isso superou as estimativas de quase US$ 7,8 bilhões.
O iPad foi responsável por vendas de US$ 6,4 bilhões, superando as projeções de cerca de US$ 6,1 bilhões.
Em março, a empresa lançou um iPad de baixo custo atualizado, bem como modelos do iPad Air com processadores M3 mais rápidos.
A Bloomberg News informou que a empresa planeja lançar um novo iPad Pro com um chip M5 já no final deste ano.
A categoria de Wearables, Home and Accessories da empresa, que tem enfrentado dificuldades nos últimos trimestres, gerou US$ 7,52 bilhões em vendas. Isso não correspondeu a uma estimativa média de US$ 8,05 bilhões.
As tarifas continuam sendo um dos maiores pontos de interrogação.
Embora seja provável que a Apple evite a taxa de 145% sobre a China que o governo Trump propôs originalmente, novas tarifas sobre produtos eletrônicos ainda estão por vir. A turbulência ameaça prejudicar a cadeia de suprimentos da empresa e, potencialmente, forçá-la a aumentar os preços.
Cook disse durante a call que não tinha nada a anunciar sobre possíveis aumentos de preços.
A Apple já está à procura de fabricar mais de seus iPhones destinados aos EUA na Índia, em vez de na China. Esse país agora atende à metade da demanda dos EUA, disse Cook.
O CEO disse que a maior parte da produção de Apple Watches, AirPods, iPads e Macs vendidos nos EUA será feita no Vietnã, que tem um nível de tarifa mais baixo do que a China.
Antecipação de compras
Destacando a preocupação com as tarifas, a Apple citou “disputas comerciais e outras internacionais” na lista de riscos e incertezas em seu relatório trimestral. Isso é algo que a empresa normalmente menciona em seus relatórios anuais.
Mas a empresa com sede em Cupertino, na Califórnia, recebeu um impulso das ameaças tarifárias no trimestre corrente: os clientes invadiram as lojas de varejo da Apple para comprar novos iPhones e outros produtos, com medo de que os aumentos de preços estivessem chegando.
Essas vendas vão aparecer no trimestre encerrado em junho. Cook, por outro lado, disse que as tarifas não criaram demanda extra no trimestre de março e que ele não tem certeza do impacto exato no período atual.
O CEO da Apple se esquivou de perguntas sobre a possibilidade de trazer mais fábricas para os EUA. Mas ele destacou que a empresa usará dezenas de milhões de processadores de dispositivos fabricados nos EUA neste ano.
Cook também defendeu a estratégia de IA da empresa.
Ele foi questionado sobre atrasos em uma nova versão do assistente de voz Siri e disse que a tech precisava de mais tempo para trabalhar nos recursos para que eles atendessem à “barra de alta qualidade” da Apple.
“Estamos progredindo”, disse ele. “E estamos ansiosos para colocar esses recursos nas mãos dos clientes.”
Veja mais em bloomberg.com
©2025 Bloomberg L.P.