Quem é o CEO brasileiro que busca criar um ‘campeão nacional’ do aço nos EUA

Lourenço Gonçalves, da Cleveland-Cliffs, lidera plano para comprar siderúrgica rival US Steel, um ícone da indústria americana; em entrevista à Bloomberg News, diz estar confiante no negócio

Fábrica da US Steel na Pensilvânia
Por Joe Deaux
15 de Agosto, 2023 | 02:30 PM
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Bloomberg — Ele uma vez encerrou uma teleconferência de resultados com uma provocação, chamando um analista do Goldman Sachs pelo nome e dizendo: “Você pode correr, mas não pode se esconder.” Três anos depois, ele afirmou que outro analista da Goldman estava “E-R-R-A-D-O errado.” Outros alvos foram chamados de “cegos”, “horríveis” e vergonhas para seus pais. Lourenço Gonçalves há muito tempo é famoso no mundo dos metais por seu estilo combativo. Agora, o CEO da Cleveland-Cliffs (CLF), que é nascido no Brasil, pode ter iniciado sua maior briga ao enfrentar um ícone da indústria americana.

A produtora de aço e minério de ferro sediada em Ohio passou a tarde de domingo (13) em uma guerra de palavras com a rival US Steel (X), depois de tornar pública uma oferta de aquisição em dinheiro e ações que avaliou a outra empresa em cerca de US$ 7,3 bilhões com base no fechamento de sexta-feira (11), um prêmio de 43%.

O acordo proposto, que a US Steel rejeitou, criaria uma das maiores siderúrgicas do mundo, remodelaria a indústria doméstica e - crucialmente - daria à Cliffs e a Gonçalves uma posição dominante no fornecimento de aço para montadoras americanas.

Em uma entrevista na segunda-feira (14), Gonçalves disse que está liderando a oferta pessoalmente e demonstrou confiança em seus planos de criar um novo “campeão nacional” do aço.

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“Vamos chegar ao lugar certo, não importa o que seja”, disse ele em entrevista à Bloomberg Television. Ao ser questionado sobre os benefícios potenciais da união das empresas, Gonçalves respondeu que “tenho um histórico de superação”.

Quem é Lourenço Gonçalves

O CEO - conhecido na indústria simplesmente como “Lourenço” - já foi o trader mais ativo no setor siderúrgico americano nos últimos anos. Quando ingressou na Cliffs em 2014, o principal negócio da empresa era a extração de minério de ferro do solo. Hoje, ela está entre as quatro maiores produtoras de aço dos EUA e é a maior fornecedora de aço automotivo do país, o que já torna Gonçalves um dos fornecedores mais importantes para empresas como a General Motors (GM) e a Ford (F).

O estilo colorido e ousado do carismático empresário de 65 anos o torna um palestrante imperdível em conferências do setor, atraindo multidões maiores do que os líderes de algumas rivais maiores.

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Uma figura imponente com óculos de aro preto, ele tem a reputação de ser amigável com os sindicatos - o poderoso grupo United Steelworkers deu seu apoio à oferta pela US Steel - e rigoroso com os clientes em Detroit. Seu diretor financeiro é seu filho.

Na segunda-feira, a processadora de aço americana Esmark fez uma oferta rival pela US Steel, com uma proposta no valor de US$ 7,8 bilhões. As ações da US Steel dispararam com a notícia, subindo até 43%.

Nos comunicados de imprensa do domingo, a tensão ficou palpável depois que a Cliffs anunciou sua oferta de aquisição e disse que a US Steel levou duas semanas para finalmente rejeitá-la.

Em resposta, a US Steel disse que as duas empresas haviam discutido um acordo de não-divulgação - um NDA, ou non-disclosure agreement - para abrir seus registros e avaliar o valor do acordo. Mas a Cliffs queria que a US Steel concordasse com os termos econômicos da aquisição antes de assinar um acordo de confidencialidade, e tudo desmoronou.

Segundo a US Steel, a Cliffs estava sendo irracional. A US Steel, que remonta a 1901, quando J. Pierpont Morgan fundiu um conjunto de ativos com a Carnegie Steel, de Andrew Carnegie, iniciou uma análise de suas opções estratégicas, nas quais diz que a Cliffs pode participar, enquanto Gonçalves diz que ainda está interessado em fechar o acordo e pronto para conversar a qualquer momento.

Segundo a Cliffs, a consolidação criaria um fabricante de aço dos EUA mais competitivo, poderia gerar economias de cerca de US$ 500 milhões e permitiria que as empresas reduzissem suas emissões ao trabalhar juntas.

O último ponto pode levantar algumas sobrancelhas, pois Gonçalves insistiu firmemente que a Cliffs não se expandiria para fornos de arco elétricos, as máquinas menos poluidoras e modernas que derretem sucata para produzir aço, em vez de produzi-lo a partir de minério de ferro em altos-fornos tradicionais. Uma das principais diferenças entre as duas empresas é que a US Steel tem direcionado seus investimentos para os tipos mais modernos de plantas nos últimos anos.

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Uma combinação bem-sucedida também daria a Gonçalves uma posição de negociação mais poderosa com seus maiores clientes: as montadoras de Detroit.

No entanto a consolidação a ser criada pelo acordo também pode levantar questões regulatórias. Em sua carta à Cliffs rejeitando o acordo, a US Steel mencionou “riscos antitruste” como uma das questões-chave que desejava avaliar mais a fundo.

A empresa combinada teria uma posição poderosa como principal fornecedora para a indústria automobilística dos EUA, bem como a propriedade de 100% das reservas domésticas de minério de ferro.

Uma pergunta crucial já foi resolvida, de acordo com a Cliffs, com o apoio do sindicato USW. O grupo tem o direito de intervir segundo seu acordo de negociação coletiva com a US Steel, mas endossou a proposta da Cliffs e afirmou que não apoiará nenhuma oferta concorrente, de acordo com uma carta pública.

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“Ele é um empresário duro”, disse o presidente da USW, Tom Conway, em uma entrevista por telefone. “Acho que ele entende bem a indústria do aço e pode elaborar um bom plano que faz sentido.”

Na entrevista de segunda-feira, Goncalves disse que está confiante de que o acordo terá sucesso, especialmente devido ao apoio do USW.

“Temos isso garantido e deve dar certo.”

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