Bloomberg Línea — Fundada há 55 anos em Londrina, interior do Paraná, a incorporadora Plaenge tem uma trajetória de crescimento considerada pouco ortodoxa entre os maiores players do mercado imobiliário brasileiro.
A maior construtora da região Sul não teve interesse, por exemplo, em aderir à onda de abertura de capital na bolsa brasileira que atraiu muitas empresas do setor em pelo menos duas janelas mais duradouras, de 2006 a 2008 e em 2020 e 2021. E mantém a posição desde então.
“Respeitamos as empresas que fizeram IPO. Mas, em nossa visão, o modelo de capital aberto não é compatível com o jeito como trabalhamos na Plaenge”, afirmou o sócio-diretor da construtora, Alexandre Fabian, em entrevista à Bloomberg Línea.
O executivo disse avaliar que a listagem é ideal para companhias de consumo, que têm um modelo de negócios adaptável ao formato trimestral, diferentemente de construtoras, que, em geral, operam em ciclos longos, de três a cinco anos.
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“O modelo foi feito para a indústria de consumo americana, com um ciclo de compra de matéria-prima, produção, embalagem, distribuição, vendas e faturamento. E isso é feito de forma cada vez mais rápida, enquanto o nosso ciclo de produção e construção é de 36 meses”, explicou o executivo.
“O peso do relatório trimestral tem um impacto muito menor [para nós] porque depende muito da fase do ciclo em que estamos.”
A ausência do cheque de investidores da bolsa, no entanto, não impediu a Plaenge de crescer ao longo dos últimos anos.
A incorporadora paranaense está entre as cinco maiores do segmento de médio e alto padrão do Brasil em valor geral de vendas (VGV), segundo levantamento da Brain realizado a pedido da Bloomberg Línea.
Entre as cinco maiores, três são listadas em bolsa: as paulistanas Cyrela (1º) e Lavvi (3º) e a pernambucana Moura Dubeux (4º), maior incorporadora do Nordeste.
A paulistana Diálogo (2º) é a única não listada no grupo além da Plaenge, que é a quinta colocada da lista e a líder na região Sul.
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A Plaenge teve um crescimento de 54% em seu volume geral de vendas (VGV) em 2024, totalizando R$ 4,55 bilhões.
Para este ano, a previsão é a de negócios da mesma ordem: são 32 lançamentos planejados, com expectativa de R$ 4,04 bilhões em VGV, com a ressalva de que não é guidance: o planejamento pode mudar a depender das condições de mercado.
Essa flexibilidade não é por acaso: segundo Fabian, isso foi um diferencial importante da Plaenge em dois momentos críticos dos últimos anos: a pandemia de covid-19, em 2020, e as enchentes na região Sul em 2024.
A incorporadora optou por não desacelerar no início da pandemia e conseguiu acompanhar a demanda que veio represada logo na sequência.
Também manteve os lançamentos para Porto Alegre mesmo quando os investidores olhavam com desconfiança para o mercado imobiliário da capital gaúcha.
“É um dos motivos pelos quais Porto Alegre tem tido boa performance [entre as praças de atuação]”, afirmou. “É forte dizer isso, mas não precisamos explicar nada a ninguém e, portanto, conseguimos fazer o que precisa ser feito.”
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Do interior para os grandes centros
Um dos motores do crescimento do último ano foi o aumento da escala - em número de projetos - da Plaenge nas quatro cidades mais recentes em seu portfólio: São Paulo, Campinas e Porto Alegre, no Brasil, além de Santiago, no Chile.
Apesar de estar há 15 anos nas cidades de Villarrica e Temuco, no sul do Chile, a Plaenge realizou seu primeiro lançamento na capital Santiago apenas em 2024.
A expansão no país andino seguiu os moldes observados no Brasil, onde a Plaenge buscou amadurecer primeiro a sua atuação em mercados em cidades do interior e em capitais de menor porte.
É outra característica que diferencia a Plaenge de pares que estão entre os maiores do país, com atuação concentrada em São Paulo ou em regiões do país.
A entrada no maior mercado imobiliário da América Latina só ocorreu em 2023.
“Nossa empresa nasceu no interior do país e se desenvolveu em regiões predominantemente do agronegócio. E, para todas as regiões em que nós atuamos no Brasil, a metrópole é São Paulo. Portanto, chegar à capital paulista foi um movimento natural de expansão”, disse o empresário.
Londrina, Curitiba, Maringá, Campo Grande e Cuiabá são os mercados mais consolidados para a Plaenge no Brasil, em que ela estima ter entre 30% e 50% de market share no segmento de alto padrão.
Em São Paulo, onde a competição é mais acirrada, a Plaenge não abre em números o tamanho do apetite, mas Fabian ressaltou que a busca pelo crescimento será gradual, sem pressa.
Um de seus empreendimentos mais recentes é um projeto de alto padrão na rua Doutor Melo Alves, no Jardim Paulista.
“Queremos nos tornar um player relevante na cidade nos próximos 10 ou 12 anos”, afirmou Fernando Motta, diretor regional da empresa em São Paulo, na mesma entrevista.
“A construção é muitas vezes vista como commodity: tudo é preço e metro quadrado. Mas acreditamos que é possível oferecer diferenciais de qualidade no alto padrão mesmo em um mercado competitivo como o paulistano”, disse Motta.
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