Sucessão na Vale: o interesse do governo Lula para emplacar Mantega como CEO

Governo avalia que empresa poderia ajudá-lo a impulsionar a economia; ao mesmo tempo, há a avaliação de que a Vale também se beneficiaria da ajuda de Brasília para expandir operações

A sucessão na Vale ganha a atenção do governo Lula, que busca emplacar um nome de seu interesse (Foto: Cole Burston/Bloomberg)
Por Mariana Durao, Rachel Gamarski e Daniel Carvalho
21 de Janeiro, 2024 | 02:00 PM

Bloomberg — A corrida pela sucessão na Vale (VALE3), a segunda maior produtora de minério de ferro do mundo, pode ser determinada tanto por lobby político quanto por manobras no conselho de administração.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deseja que seu fiel aliado, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, assuma o cargo quando o mandato do CEO Eduardo Bartolomeo acabar em maio, segundo pessoas a par do assunto. Lula pode até apoiar Bartolomeo para um mandato mais curto, se isso facilitar a nomeação de Mantega para o conselho da Vale, de preferência como presidente, disseram as fontes, pedindo anonimato.

No final, a palavra final cabe a um conselho que deve tomar uma decisão até o final deste mês. Embora a Vale tenha sido privatizada em 1997, a disputa pela sucessão destaca a influência do governo no setor de mineração.

A empresa pode desempenhar um papel estratégico nos esforços de Lula para reativar a economia do Brasil, ao mesmo tempo em que a empresa também gostaria de contar com o consentimento do governo para superar burocracias que prejudicam suas ambições.

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O governo federal não respondeu a um pedido de comentário. A Vale preferiu não comentar.

Mantega, de 74 anos, é filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e foi o ministro da Fazenda que mais tempo permaneceu no cargo no Brasil, durante os governos de Lula e Dilma Rousseff.

Acusações feitas em 2018 por procuradores federais contra Mantega — de improbidade administrativa devido a uma manobra contábil realizada pelo governo para atender às metas fiscais — foram retiradas por um tribunal regional cinco anos depois.

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Em termos de influência direta, o governo federal tem ações especiais com direitos de veto limitados. Além disso, a Previ — o fundo de pensão de funcionários do Banco do Brasil (BBAS3), controlado pelo Estado — ainda é a maior acionista individual da Vale, com uma participação de 8,7%. Mas isso está longe de dar a Lula o controle da empresa.

Na verdade, os estatutos da companhia visam protegê-la contra interferências políticas diretas, o que no passado levou à saída do CEO da Vale, Roger Agnelli, em uma disputa sobre estratégia e investimentos.

A nomeação do CEO é um teste para a terceira empresa mais valiosa da América Latina, segundo o especialista em governança corporativa Alexandre Di Miceli.

“O conselho deve levar em consideração os melhores interesses da empresa, concentrando-se no perfil desejado e evitando um nome que busque executar a agenda de um acionista individual, seja estatal ou privado”, disse Di Miceli, fundador da Virtuous Company. “O CEO precisa ter experiência de liderança em uma empresa privada. Ninguém pode ser catapultado para uma posição dessas.”

No entanto as fortunas da Vale e do estado estão intimamente ligadas. O setor de mineração representa 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, sendo o minério de ferro um dos principais produtos de exportação do país. A Vale também é uma grande produtora de metais de transição para a energia.

Bartolomeo assumiu o comando da Vale após o colapso da barragem de rejeitos de Brumadinho em 2019. A empresa continua sob investigação, além de negociar um acordo final em relação a outro desastre ambiental na Samarco, uma joint venture de minério de ferro da Vale com a BHP Group.

O apoio de Lula pode ajudar a encerrar esse passivo legal e financeiro, além de acelerar a obtenção de licenças ambientais que reviveriam a produção de minério de ferro. A necessidade de flexibilizar as regras que dificultam a exploração de depósitos na Amazônia e manter a renovação de concessões para uma ferrovia que atende a região de Carajás também sustenta o argumento de melhores relações com o governo.

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Corrida pela sucessão

A candidatura de Mantega, que também foi ministro do Planejamento, pode ser uma maneira de levar Lula à mesa de negociações, mas, até agora, essas conversas não chegaram ao conselho da Vale, segundo as pessoas a par.

Outros acionistas minoritários — como BlackRock (BLK), Capital Group, Mitsui & Co., Bradesco (BBDC4) e Cosan (CSAN3) — também podem exercer influência, especialmente se coordenarem seus esforços.

Caso nem Bartolomeo nem Mantega sejam escolhidos, o ex-CEO da Cosan e membro do conselho da Vale, Luis Henrique Guimarães, é apontado como outro candidato em potencial para assumir o cargo ou ser nomeado para o conselho executivo da empresa, segundo as fontes.

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