Além de Nvidia e Microsoft: gestora aponta impacto amplo da revolução da IA

Empresas como Broadcom e Salesforce já se beneficiam da demanda ou de aplicações a partir da tecnologia, avalia a WHG em carta aos investidores

Indústria de semicondutores é uma das mais demandadas com a nova onda da IA generativa, segundo especialistas
21 de Agosto, 2023 | 03:11 PM

Bloomberg Línea — O salto de 200% no valor das ações da Nvidia (NVDA) neste ano chamou a atenção de investidores para o potencial de ganhos associados ao boom da Inteligência Artificial (IA). Mas um número maior de empresas e setores se beneficia do aumento da demanda com o avanço dessa tecnologia, e isso dado o que se sabe até aqui, segundo apontou a gestora WHG em sua carta aos investidores deste mês.

“Para os investidores, a IA generativa pode representar um momento ‘iPhone’ no ciclo de investimentos - uma oportunidade de investir em uma tecnologia disruptiva que está pronta para redefinir como pensamos sobre diversos negócios”, apontam os autores do relatório, Guilherme Novello e Nicholas Bennett, sócios e analistas de tecnologia da WHG.

É uma alusão ao impacto do celular lançado pela Apple (AAPL) em 2007 não só para a companhia como para o ecossistema de negócios que surgiu em torno, como a indústria de aplicativos, para citar um caso específico.

“O crescimento exponencial da criação e do uso de modelos de IA generativa naturalmente leva investidores a procurar as melhores opções de investimento. Uma pergunta se destaca no centro do desenvolvimento da IA generativa: onde será gerado o maior valor agregado dessa tecnologia?”

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Segundo a carta da gestora brasileira, citando um estudo do Morgan Stanley, durante as grandes transformações tecnológicas dos últimos 200 anos, as maiores empresas no início da revolução tendem a não ser as líderes após a transição.

A WHG (Wealth High Governance) começou a operar há pouco mais de dois anos, liderada pelo CEO Marco Abrahão, ex-head de wealth management do Credit Suisse, junto com outros bankers egressos do banco europeu. Nesse período, a casa atingiu a marca de R$ 37 bilhões em ativos sob gestão, com atuação justamente em wealth e asset management.

Os autores do estudo analisam e dividem o ecossistema da IA em quatro áreas principais: (1) empresas com foco em semicondutores, (2) provedores de nuvem, (3) desenvolvedores de modelos de IA e (4) aplicações que são alavancadas por esses modelos.

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No primeiro segmento está justamente a empresa que, até aqui, provavelmente mais se beneficiou do ponto de vista de valorização de mercado desde o advento do ChatGPT, da OpenAI: a Nvidia.

“A IA generativa depende de intensivos cálculos estatísticos, realizados paralelamente para otimizar o tempo de processamento. As unidades de processamento gráfico (GPUs) são amplamente utilizadas devido à sua habilidade de executar operações paralelas, tornando-as ideais para os cálculos intensivos necessários na IA generativa”, explicam os autores da WHG no relatório, para em seguida apontar: “a Nvidia é a principal fornecedora de GPUs e de conectividade de rede Infiniband que interliga GPUs”.

A empresa deve apresentar nesta quarta-feira (23) o maior crescimento trimestral de sua história - de 62% - ao divulgar os resultados do segundo trimestre.

Mas as empresas que se beneficiam vão além da Nvidia, ressaltam os autores do estudo.

“Há uma tendência crescente entre os grandes provedores de nuvem para desenvolver seus próprios chips customizados para treinamento e inferência de IA, como o TPU do Google e o Trainium e Inferentia da AWS. Os provedores utilizam parcerias, principalmente com a Broadcom (AVGO), para desenvolver estes chips.”

As ações da Broadcom acumulam valorização da ordem de 50% neste ano, acima dos 28% do Nasdaq Composite, mas aquém do hype experimentado pela Nvidia. Para a WHG, os números de crescimento da companhia americana com sede no Vale do Silício merecem ser igualmente observados.

“A Broadcom, como a Nvidia, está vendo um crescimento muito forte de receitas provenientes da IA generativa. Ela estima que, em seu ano fiscal de 2024, essas receitas representarão mais de 25% do total de receitas de semicondutores, um crescimento de quase 100% ano contra ano.”

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Segundo a carta da WHG, há razões objetivas que explicam por que mais empresas vão se beneficiar do impacto da IA generativa. “Essa tendência é menos uma competição com a Nvidia e mais uma indicação da importância desse tipo de demanda computacional. Os provedores de nuvem não conseguem comprar todos os chips que gostariam da Nvidia.”

“Além disso, ao desenvolver seus próprios chips, buscam proteger suas margens no médio prazo dada a elevada margem embutida nos GPUs da Nvidia. A matéria-prima utilizada para produzir o GPU custa perto de US$ 13 mil, enquanto os GPUs H100 são vendidos por mais de US$ 40 mil.”

Aplicações com IA generativa

O relatório da WHG aponta também como oportunidades de investimento empresas que desenvolvem aplicações a partir dos modelos existentes de IA generativa.

“Da mesma forma que a Snowflake [SNOW] se beneficiou dos provedores de nuvem, as novas aplicações modernas estão se alavancando sob a IA generativa. Os usos potenciais são vastos, desde chatbots para atendimento ao cliente até geração de imagens para campanhas de marketing, e até mesmo auxílio a estudantes na busca de informações sobre qualquer assunto.”

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Um exemplo destacado pelos autores é o da Microsoft (MSFT) com o seu Copilot: “Integrado a todos os aplicativos do MSFT 365 (Word, Excel, PowerPoint, Outlook, Teams etc.), o Copilot tem a capacidade de responder a perguntas com base em qualquer fonte de dados disponível no MSFT 365″.

Os autores da WHG lembram que, recentemente, a empresa anunciou um novo plano de Inteligência Artificial que custa US$ 30 por mês por usuário. “Para colocar isso em contexto, a Microsoft possui atualmente cerca de 380 milhões de usuários que pagam uma média de US$ 107 por ano (perto de $9 por mês). Acreditamos que a penetração do novo plano de IA pode alcançar 30% do total de usuários nos próximos anos.”

“Outras empresas também estão vendo o valor de ter um assistente virtual e implementando a IA generativa via copilotos, como a Salesforce (CRM), que lançou o Einstein GPT.”

O relatório da gestora não aponta ações específicas para alocação ou adição em um portfólio, mas faz a recomendação para investidores que desejam “surfar” a onda da geração de alpha que, se espera, seja proporcionada pela IA generativa: “estejam atentos à dinâmica deste setor em rápida evolução.”

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“Isso inclui acompanhar de perto as empresas líderes em IA generativa, manter-se atualizado sobre as últimas tendências e desenvolvimentos na indústria de IA e considerar a diversificação de seus investimentos para incluir empresas que estão na vanguarda dessa revolução em diversos setores.”

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.