Bloomberg — A União Europeia se prepara para intensificar o diálogo com outros países afetados pelas tarifas do presidente americano Donald Trump. O movimento ocorre após uma série de novas ameaças ao bloco e a outros parceiros comerciais dos Estados Unidos.
Enquanto sempre há contato regular com outros países, especialmente entre o G7, o risco de guerras comerciais mais amplas faz com que “haja esse novo senso de urgência”, disse o principal negociador comercial da União Europeia, Maros Sefcovic, a jornalistas nesta segunda-feira (14) ao chegar para uma reunião de ministros do comércio.
Os contatos com países como Canadá e Japão podem incluir a possibilidade de coordenação, conforme a Bloomberg News informou anteriormente.
A medida ocorre em um momento em que as negociações entre a UE e os Estados Unidos se arrastam e continuam travadas em diversas questões, incluindo carros e tarifas sobre produtos agrícolas.
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Com tarifas punitivas prestes a entrar em vigor em apenas duas semanas, e poucos países conseguindo fechar um acordo com Trump, alguns dos aliados econômicos dos Estados Unidos têm repensado sua antiga dependência das barreiras comerciais baixas com a maior economia do mundo.
“Precisamos explorar até onde, até onde podemos ir na região do Pacífico com outros países”, disse a chefe de concorrência da UE, Teresa Ribera à Bloomberg TV, de Pequim, onde participa de reuniões com autoridades chinesas focadas em questões climáticas.
Ela destacou as negociações comerciais contínuas da UE com a Índia, que devem ser concluídas até o final do ano.
O caso mais significativo é o da União Europeia. O bloco trava negociações com Washington ao mesmo tempo em que avança com acordos bilaterais já existentes e considera novas alternativas que estejam em linha com o sistema global de comércio baseado em regras, o que Trump prometeu reconfigurar com medidas unilaterais, incluindo tarifas que favorecem os Estados Unidos.
“Apoio a Comissão em seus esforços para formar parcerias globais, alianças com outros países ameaçados pelas tarifas dos EUA”, disse o ministro do Comércio da Áustria, Wolfgang Hattmannsdorfer, a jornalistas nesta segunda-feira. “Juntos, podemos aumentar a pressão sobre os Estados Unidos.”
No fim de semana, a União Europeia chegou a um acordo econômico preliminar com a Indonésia — um país que enfrenta uma tarifa de 32% imposta pelos EUA, apesar das negociações com Washington para reduzir essa taxa.
O presidente indonésio, Prabowo Subianto, classificou o resultado com a UE como um “avanço” após 10 anos de negociações comerciais, e espera retornar a Bruxelas para a assinatura formal do acordo, conhecido como Acordo de Parceria Econômica Abrangente.
Na semana passada, um representante canadense afirmou que é necessária mais coordenação diante de “um governo dos EUA muito imprevisível”.
“Estamos tentando garantir que, enquanto os EUA se tornam mais fracos, nós ficaremos mais fortes, vamos nos diversificar e direcionar nosso foco para a Europa”, disse a ministra da Indústria do Canadá, Mélanie Joly, a jornalistas na sexta-feira em Ottawa.
“Precisamos garantir que estamos em modo de ação, em modo de solução com outros países, porque não estamos sozinhos.”
Para Trump, que já alertou grupos como o Brics contra a formação de alianças contrárias aos interesses dos EUA, o risco é que o realinhamento comercial que ele tenta promover afaste investimentos e leve outros países a se unirem — uma fragmentação que pode favorecer a China.
“Vamos ter que buscar outros parceiros para comprar nossos produtos”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada, após Trump ameaçar o Brasil com uma tarifa de 50% sobre suas exportações para os EUA por um motivo não relacionado ao comércio.
Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás da China.
No fim de semana, Ursula von der Leyen sinalizou que a negociação ainda é o caminho preferido, afirmando que o bloco de 27 países irá prorrogar até 1º de agosto a suspensão das medidas de retaliação comercial contra os EUA.
Essas medidas haviam sido adotadas em resposta às tarifas impostas anteriormente por Trump sobre aço e alumínio, mas tinham sido suspensas, e estavam previstas para voltar a valer à meia-noite de terça-feira.
“Ao mesmo tempo, continuaremos a preparar novas medidas de retaliação para estarmos totalmente preparados”, disse von der Leyen a jornalistas em Bruxelas neste domingo, ao reiterar a preferência da UE por uma “solução negociada”.
A lista atual de contramedidas atingiria cerca de € 21 bilhões (US$ 24,5 bilhões) em produtos dos EUA, enquanto a UE já tem outra lista pronta, de cerca de € 72 bilhões, além de alguns controles de exportação, que serão apresentados aos Estados-membros já nesta segunda-feira, disseram fontes.
Von der Leyen também afirmou que o instrumento anticoerção da UE, a ferramenta comercial mais poderosa do bloco, não será usado neste momento. “O ACI foi criado para situações extraordinárias. Ainda não chegamos lá”, observou ela.
Em um post nas redes sociais em resposta ao anúncio de Trump, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu a aceleração dos preparativos para contramedidas críveis, o que inclui o instrumento anticoerção, caso nenhum acordo seja alcançado até 1º de agosto.
Na noite de domingo, o chanceler alemão, Friedrich Merz, disse que tarifas de 30% atingiriam os exportadores da maior economia da Europa “em cheio” se uma solução negociada para o conflito comercial não fosse encontrada.
A proposta de tarifa de 30%, juntamente com as tarifas setoriais existentes e uma taxa prevista sobre bens essenciais, elevaria a alíquota efetiva dos EUA sobre a UE em 26 pontos percentuais, escreveram em uma nota economistas do Goldman Sachs, incluindo Sven Jari Stehn.
Se implementada e mantida, a medida reduziria o PIB da zona do euro em um acumulado de 1,2% até o final de 2026, com a maior parte do impacto ainda por vir.
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