Kepler Weber diz que está em novo patamar a despeito de juro e efeito sazonal

Quebra de safra e época do ano ajudam a entender o balanço, com queda de 51% no lucro líquido, enquanto margem Ebitda está mais alta em bases históricas, disse o CEO, Bernardo Nogueira, a jornalistas

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Bloomberg Línea — A Kepler Weber (KEPL) reportou lucro líquido de R$ 25,6 milhões no primeiro trimestre de 2025, recuo de 51% em relação ao mesmo período do ano passado.

Com o resultado, a margem líquida da companhia de silos foi de 7,2% para o período, recuo de 6,5 pontos percentuais em relação ao mesmo trimestre de 2024, segundo balanço divulgado na noite desta terça-feira (29).

O Ebitda foi de R$ 52,9 milhões, recuo de 41,5% em relação ao R$ 90,4 milhões registrados no mesmo período do ano passado.

Na mesma base de comparação, a receita líquida totalizou R$ 357,2 milhões, um recuo de 6,1% em relação ao mesmo período de 2024 (R$ 380,3 milhões).

O CEO da companhia, Bernardo Nogueira, buscou destacar, em entrevista coletiva de resultados, a importância da sazonalidade do agronegócio na leitura do desempenho da empresa.

Segundo ele, há uma concentração dos negócios entre abril e outubro, o que faz com que boa parte da receita seja reconhecida no segundo semestre.

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“Cerca de 80% dos nossos negócios acontecem nessa janela. O agricultor colhe a soja em fevereiro e começa a ter uma noção de como está o milho. Em geral, nesse período temos um plano safra, que é quando o produtor começa a negociar com a gente”, explicou Nogueira.

Fatores como o tamanho da safra e os juros elevados também influenciam os resultados da empresa, disse Nogueira.

Em 2023, a supersafra de soja e os altos preços da commodity impulsionaram as receitas no ano seguinte - o que não se repetiu em 2024. “Quando olhamos para o resultado de 2025, ele foi construído sobre uma quebra de safra, com queda no preço da soja”, afirmou.

O executivo projetou uma recuperação a partir do segundo trimestre deste ano, com impactos positivos na receita de 2026.

“Enxergamos o ano de 2025 encerrando em um patamar acima do que estamos neste trimestre”, disse Nogueira.

Em 2015, quando a Selic estava em 14,25% ao ano, a margem Ebitda da empresa foi de 4,1%. Hoje, mesmo com a Selic em 14,75%, a projeção da margem para 2025 é de 18,4%. Neste trimestre, foi de 14,8%.

“Isso nos mostra que o novo low da Kepler talvez seja mais alto”, disse Nogueira.

O CFO da empresa, Renato Arroyo, chamou atenção para o impacto que o plano Safra tem nos negócios da companhia, sobretudo o segmento de fazendas, que representa cerca de 30% do faturamento da Kepler.

“O que vemos é que vai chegar mais dinheiro na ponta com o plano Safra, mas o juro está mais alto. A demanda está viva. Os produtores querem comprar em muitas vezes e por isso dependem do plano”, afirmou na entrevista de resultados.

Arroyo chamou a atenção para o fato de que no passado a dependência do negócio de fazendas com o plano Safra já foi de cerca de 50% e que hoje está em 14%.

Segundo o balanço, o endividamento da companhia em março de 2025 era de R$ 302 milhões. Desse total, 52,1% são referentes ao contrato de financiamento junto ao International Finance Corporation (IFC).

“Nossa dívida é ultra-alongada, o que nos dá muito conforto do ponto de vista de caixa, o que faz com que a gente continue investimento em capex, distribuir dividendos e fazer todos os investimentos necessários”, disse Arroyo.

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Novos negócios

No segmento de “Negócios Internacionais”, a receita líquida da Kepler alcançou R$ 40,9 milhões, avanço de 5,3% em relação ao mesmo período de 2024.

A empresa comercializa produtos em cinco continentes e exporta para 53 países. Entre eles estão beneficiados pela abertura recente de mercados, como Paquistão, Angola, Ucrânia, El Salvador e Venezuela.

Em faturamento, o Brasil ocupa o primeiro lugar dos negócios da Kepler, seguido pelo Paraguai, pelo Uruguai e pela Argentina.

A receita líquida do segmento de “Agroindústrias” totalizou R$ 100,8 milhões no período, uma queda de 4,9% em relação ao mesmo período do ano passado.

O movimento reflete, segundo a Kepler, a maior sensibilidade do segmento ao ambiente de crédito restrito, às elevadas taxas de juros e aos efeitos da safra do ano anterior, “que limitaram o ritmo de novos investimentos por parte de cooperativas e indústrias”, segundo balanço da companhia.

A receita líquida do segmento “Portos e Terminais” no trimestre somou R$ 10,6 milhões, uma redução de 77,2% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Segundo a companhia, essa queda pode ser explicada pela característica dos negócios no segmento que depende do cronograma de execução e das condições das obras. Além disso, a empresa também cita a alta base de comparação do ano passado.

Enquanto isso, a receita líquida na área de “Reposição e Serviços” chegou a R$ 73,1 milhões no quatro trimestre, aumento de 28,6% em comparação ao ano anterior.

O capex da companhia foi de R$ 17,2 milhões no período, aumento de 120,5% em relação ao mesmo período do ano passado.

A empresa aposta no segmento de biocombustíveis, sobretudo de etanol de milho, como um elemento importante para a demanda. Segundo a Kepler, a empresa firmou o maior contrato dos últimos cinco anos para uma instalação de etanol de milho. Os detalhes da operação serão divulgados em maio.

Outra aposta da empresa, apresentada durante o Investor Day em novembro passado, é a criação de um fundo de R$ 500 milhões voltado ao aluguel de silos.

Sob gestão da Jubarte Capital, o fundo já captou R$ 150 milhões, segundo Arroyo, que avalia que o modelo de aluguel de silos pode ser atrativo para produtores que preferem evitar o investimento total na compra da estrutura.

O coordenador da operação é o BTG Pactual.

A Kepler pagou R$ 18,5 milhões em dividendos obrigatórios em 16 de abril de 2025, além de R$ 51,5 milhões em dividendos adicionais.

“Somos a maior pagadora de dividendos do agro. Temos segurança ao olhar para frente”, disse Arroyo.

Em um ano, os papéis da companhia acumulam queda de 15,95%, a R$ 7,85.

Parceria entre XP e Procer

A Kepler Weber também anunciou nesta terça-feira (29) uma parceria entre a sua empresa de agro inteligência, a Procer, e a XP.

O objetivo da colaboração é ampliar o acesso a soluções financeiras oferecidas pela Procer. A empresa, que teve 51% do seu capital adquirido pela Kepler Weber em 2023, atende atualmente mais de 1.500 clientes e opera com cerca de 2.000 unidades de armazenagem conectadas.

“O primeiro passo dessa colaboração é compreender o mercado e levar nossos serviços aos clientes da Procer, mas temos uma agenda ambiciosa, com potencial de expansão”, disse Felipe Campelo, head de Middle Market no Banco de Atacado da XP, em entrevista coletiva nesta terça.

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