Bloomberg Línea — A BrasilAgro (AGRO3) teve um prejuízo líquido de R$ 1,09 milhão no terceiro trimestre do ano fiscal, ante R$ 30,1 milhões de prejuízo no mesmo período do ano anterior, segundo resultado divulgado nesta quarta-feira (7).
Em um cenário marcado por juros elevados, a companhia tem priorizado o controle da alavancagem e adotado uma gestão que considera rigorosa de estoques e financiamentos.
O diretor financeiro e de Relações com Investidores (RI), Gustavo Javier Lopez, explicou, em call com jornalistas, que a empresa costuma financiar cerca de 30% do capital de giro quando a taxa básica de juros está próxima de 10% ao ano - o Banco Central a elevou para 14,75% ao ano nesta quarta-feira.
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Segundo Lopez, o capital de giro da companhia está em torno de R$ 1 bilhão, sendo que R$ 300 milhões correspondem a dívidas de curto prazo.
“Se a companhia precisasse financiar 70% ou 80% desse valor, estaríamos falando em R$ 140 milhões a R$ 150 milhões só em juros. Essa é a realidade de muitos pequenos produtores hoje”, afirmou Lopez.
“Mesmo com o debate sobre o novo orçamento para o próximo ano, vemos margens semelhantes, talvez um pouco melhores que as do ano anterior. Mas o impacto dos juros sobre as margens vai ‘doer’”.
“Esse é um desafio: manter a companhia com baixa alavancagem para tentar enfrentar esse cenário de forma mais favorável”, disse o diretor financeiro.
O Ebitda (lucro antes de juros e impostos) ajustado para o terceiro trimestre foi negativo em R$ 5,08 milhões, contra um resultado positivo de R$ 5,6 milhões na comparação anual.
A receita líquida para o terceiro trimestre avançou 40% em R$ 170,2 milhões, contra R$ 121,7 milhões.
Para mitigar os efeitos do juros elevado, a empresa tem adotado uma série de medidas. Uma delas é o que descreve como controle rigoroso dos estoques: evitar compras antecipadas de insumos e alinhar os desembolsos às datas de entrada de receitas.
Além disso, a empresa busca condições mais vantajosas de crédito junto a instituições financeiras e se beneficia de sua classificação de risco e da possibilidade de oferecer garantias reais, como terras.
“Somos considerados um bom pagador, o que nos garante acesso a crédito mais barato, que é uma vantagem importante neste momento”, disse Lopez.
O CEO da empresa, André Guillaumon, prevê que o atual patamar de juros pode abrir oportunidades no médio prazo para a companhia, especialmente no mercado imobiliário rural.
“Tem muito produtor altamente alavancado que pode ter que vender fazenda”, disse, ao sinalizar que a companhia está de olho em possíveis aquisições.
A companhia comercializou 69,1 mil toneladas de produtos agrícolas no trimestre, um aumento de 27% em relação às 54,4 mil toneladas de um ano antes.
Em valor, a receita passou de R$ 121,7 milhões para R$ 170,2 milhões. A soja liderou as vendas e gerou R$ 104,4 milhões em receita, um crescimento de 21% no comparativo anual.
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Das 16 unidades produtivas da empresa, quatro enfrentaram adversidades relacionadas ao clima. A colheita de soja, por exemplo, ficou 5% abaixo do esperado devido ao excesso de chuvas no Mato Grosso e à seca na Bahia. Em abril, o retorno das chuvas beneficiou culturas como o milho safrinha, o algodão e o feijão.
A receita com a venda de pluma de algodão foi de R$ 37,9 milhões, ante R$ 26,2 milhões no mesmo trimestre do ano anterior. Já no segmento de cana-de-açúcar, a expectativa é de queda na produção nas regiões em que a empresa atua, o que pode sustentar os preços da commodity no próximo semestre.
No setor pecuário, a receita cresceu 65%, passando de R$ 5,5 milhões para R$ 9,1 milhões no trimestre.
Os papéis da BrasilAgro (AGRO3) caíram 2,91% no fechamento desta quarta-feira (7), a R$ 20,38 cada. No acumulado do ano, as ações avançaram 8,40%.
Perspectivas sobre M&A
A BrasilAgro segue apostando na diversificação geográfica, com foco na ampliação do portfólio de terras próprias e arrendadas fora do Brasil, principalmente no Paraguai.
Como citado, a companhia disse enxergar um cenário promissor para aquisições, impulsionado por juros altos, margens mais apertadas e correções nos múltiplos de arrendamento.
“Estamos otimistas com o potencial da região, que ainda oferece terras boas a preços atrativos”, afirmou um executivo durante a teleconferência com analistas e investidores.
Em relação ao arrendamento, a companhia destacou que, embora os preços já tenham recuado em algumas regiões, ainda não atingiram níveis que justifiquem uma expansão significativa.
Atualmente, cerca de 35% da área operada pela BrasilAgro é arrendada, enquanto os 65% restantes são terras próprias.
Segundo o CEO da companhia, em um cenário de juros altos, o arrendamento funciona como uma forma de alavancagem. Além disso, a estrutura legal brasileira, que exige contratos de três a cinco anos, torna mais lento o ajuste de preços nesse tipo de operação.
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