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Bloomberg Opinion — A reestruturação é um momento horrível para as equipes de qualquer empresa, mas é também uma oportunidade de focar no que é seguramente rentável. Elon Musk fez tantas demissões no Twitter (TWTR) que sua equipe começou a pedir a dezenas de trabalhadores que retornassem após serem demitidos na última sexta-feira (4). A Meta (META), de Mark Zuckerberg, demitiu milhares de seus funcionários na quarta-feira (9), sendo esta a primeira vez em sua história em que realizou cortes em massa.

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A inflação, o medo da recessão e o fim do boom nas contratações durante a pandemia levaram a este ponto de inflexão para as gigantes de tecnologia – empresas como a Stripe também fizeram cortes em empregos. Mas os cortes na Meta e no Twitter são mais do que uma oportunidade para reforçar seus resultados; é um momento para deixar de lado as obsessões de seus líderes por novidades.

Musk e Zuckerberg lideram empresas com publicidade em seu DNA, e devem focar novamente em serem ser bons negócios de publicidade se quiserem frear sua queda – mesmo que pareça que sua dominância tenha atingido o auge. Em vez disso, o fundador do Facebook está perseguindo a realidade virtual e Musk está ameaçando os anunciantes que boicotarem o Twitter, pois empresas como General Motors (GM), Microsoft (MSFT) e Verizon (VZ) suspenderam seus anúncios no site por preocupações com a moderação de conteúdo inadequado.

Zuckerberg investiu mais de US$ 10 bilhões na construção de um novo negócio baseado na realidade virtual – o metaverso – que inclui um headset de US$ 1.499 que ele está lançando (inexplicavelmente) para reuniões de escritório. Musk está vendendo os selos de perfil verificado do Twitter por US$ 8 e removendo-os de qualquer usuário que não pagar. Ambos os bilionários estão perseguindo insistentemente ideias com poucas chances de render dinheiro em um momento em que ambas as empresas precisam pagar as contas. O Twitter, principalmente, está sobrecarregado com US$ 1 bilhão em pagamentos de juros anuais graças à dívida assumida na compra da empresa pelo Musk.

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Os planos de Musk para levantar o dinheiro necessário não fazem sentido. Mesmo que todos os 400 mil perfis com selo de verificado pagassem a mensalidade, isso ainda renderia apenas US$ 38 milhões por ano. Musk quer fazer com que mais usuários paguem pelo selo, mas sua proposta de valor não é tão atraente: é possível publicar vídeos mais longos, ficar no topo das discussões e reduzir o número de anúncios pela metade, segundo a página atualizada do Twitter na App Store da Apple (AAPL).

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Antes de Musk, as tentativas do Twitter de ganhar dinheiro com um serviço de assinatura, conhecido como Twitter Blue, sempre foram pequenas e experimentais. Isso porque o negócio de anúncios do Twitter sempre foi confiável (e muito maior do que US$ 38 milhões). A empresa trouxe US$ 1,2 bilhão em receita no segundo trimestre de 2022, sendo que aproximadamente 90% disso veio de publicidade. A Meta faturou US$ 28,9 bilhões em vendas no segundo trimestre, sendo que quase todo esse dinheiro veio dos anúncios.

Certamente faz sentido tentar diversificar um pouco. O negócio de anúncios digitais, que cresceu 21% em 2021, provavelmente diminuirá para um dígito nos próximos anos.

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Mas Zuckerberg e Musk estão tentando diversificar muito rápido e muito radicalmente. Eles estão apostando suas empresas inteiras na venda de produtos – as empresas de mídia social geralmente são horríveis na venda de produtos. A Snap (SNAP), por exemplo, nunca transformou seus efeitos de realidade aumentada em um fluxo de receita viável. O próprio Facebook tem uma série de fracassos.

A indústria de tecnologia está entrando em uma era de austeridade, pois várias grandes empresas suspenderam as contratações e fizeram cortes de pessoal. Pode-se argumentar que empresas como o Twitter precisavam ser simplificadas de qualquer forma, e que a mudança de novidades como carros autônomos e criptomoedas para a criação de produtos verdadeiramente úteis é um passo saudável na evolução do setor de tecnologia. Afinal, o boom das pontocom há duas décadas criou um mercado brutal que permitiu que empresas como a Amazon (AMZN) e o eBay (EBAY) finalmente florescessem.

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Mas para que o Twitter e o Facebook continuem sobrevivendo nesta próxima grande tempestade, seus líderes precisam se desvincular de ideias novas e de qualquer impulso para solidificar seus legados como inovadores. Eles devem se ater ao que funciona no momento. Muita arrogância poderia levá-los à ruína.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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Parmy Olson é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia. Já escreveu para o Wall Street Journal e a Forbes e é autora de “We Are Anonymous”.

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