Fugindo da Petrobras: fundos apostam em pequenas produtoras de petróleo

Gestoras apostam em empresas alternativas para pegar carona na alta da commodity sem ter que correr o risco político da estatal líder do setor

Refinería de petróleo
Por Vinícius Andrade - Mariana Durao e Cristiane Lucchesi
16 de Julho, 2022 | 05:00 PM

Bloomberg — Fundos multimercados e outros investidores que buscam lucrar com a crescente produção de petróleo e gás do Brasil estão se voltando para uma nova geração de produtoras como uma alternativa à Petrobras (PETR3, PETR4), estatal que teve quatro presidentes desde o início de 2019 como reflexo da ingerência do governo federal, o seu principal acionista, no comando.

A Gerval Investimentos, o family office do clã Gerdau Johannpeter, está entre as gestoras que têm participação no capital das chamadas produtoras juniores. No mês passado, a Gerval dobrou para cerca de 12% sua participação na 3R Petroleum (RRRP3), uma empresa que vale cerca de 1,5% do valor de mercado da Petrobras. Entre outras casas de investimento que apostam no setor estão Atalaya Capital, Vinland Capital, Mar Asset Management e XP Asset Management.

Com os preços do petróleo ainda perto de US$ 100 o barril, depois que a invasão da Ucrânia pela Rússia estimulou sanções a um dos maiores produtores e estrangulou a oferta global, empresas como a 3R oferecem uma nova maneira de apostar no aumento da produção do Brasil. Nenhum país fora os Estados Unidos e os membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) deve adicionar mais produção até 2026 do que o Brasil.

Desde 2019, quando intensificou seu programa de desinvestimentos (comercialização de ativos), a Petrobras vendeu mais de 100 campos de petróleo e gás para cerca de uma dúzia de empresas juniores, algumas criadas especificamente para comprar esses ativos.

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Embora a Petrobras ainda seja de longe a maior produtora do Brasil, seus últimos presidentes foram criticados pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, que tenta conter a alta nos preços dos combustíveis. As recentes mudanças na empresa e a ameaça de mais convulsões em um ano eleitoral levaram alguns investidores de petróleo a procurar alternativas.

Esses investidores institucionais veem um enorme potencial de lucro nas produtoras menores, que prometem aumentar exponencialmente a produção de campos que são há muito tempo negligenciados pela Petrobras em razão de sua priorização estratégica da exploração no pré-sal. A agência reguladora do setor de óleo e gás do Brasil, a ANP, prevê que a produção desses campos nas mãos das empresas independentes aumentará 122% até 2025, após oito anos de declínio.

“As empresas brasileiras de petróleo são boas alternativas de investimento”, disse Marcos Peixoto, gestor da XP Asset Management. “Essas empresas vão aumentar a produção de maneira relevante e as ações parecem atraentes mesmo assumindo um cenário de preços mais baixos do petróleo.”

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Até 1997, quando terminou seu monopólio oficialmente, a Petrobras era a única produtora de petróleo e gás no Brasil. Ainda hoje, a Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás tem apenas 19 membros, em comparação com cerca de 9.000 perfuradores independentes nos EUA.

Mas, com o dinheiro fluindo de investidores, espera-se que as empresas menores representem 8,8% da produção brasileira até 2024, acima dos 7,2% atuais, segundo a consultoria Wood Mackenzie.

A Petrobras vendeu uma série de campos de petróleo e gás para se concentrar na chamada região offshore do pré-sal, que concentra geograficamente as maiores e mais lucrativas descobertas da empresa. Por outro lado, houve “casos notáveis” de aumento de eficiência de perfuração nos campos adquiridos por produtoras juniores, disse Pedro Medeiros, sócio-fundador da Atalaya Capital.

Os produtores independentes são uma jogada ainda mais convincente em ano eleitoral, dada a rotatividade vertiginosa de presidentes na Petrobras e a pressão política sobre a empresa para subsidiar os preços dos combustíveis. Seu atual presidente-executivo, Caio Paes de Andrade, assumiu em junho depois que Bolsonaro demitiu seu antecessor, que estava no cargo havia pouco mais de um mês.

Mas as produtoras independentes têm seu risco, como mostra o passado recente. A OGX Petróleo & Gás pediu recuperação judicial em 2013, reduzindo a fortuna pessoal do seu fundador e presidente do conselho Eike Batista, que já foi o homem mais rico do Brasil. Mais tarde, ele foi condenado à prisão como parte da extensa investigação de corrupção do país, conhecida como Lava Jato. Suas promessas de aumento de produção de petróleo na OGX foram em ampla medida descumpridas.

Há também a volatilidade do próprio mercado de petróleo. Os preços atingiram um recorde de alta em 14 anos para perto de US$ 140 o barril em março, mas caíram cerca de 30% desde então. Os projetos de exploração e produção de petróleo offshore podem levar anos para serem concluídos, e a demanda pode estar muito mais fraca, à medida que a transição para energia renovável se acelera.

Outro ponto de pressão para os investidores é o baixo volume de negociação das ações dessas empresas, uma característica que pode ampliar as oscilações de preços.

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André Laport, sócio da gestora Vinland Capital, que diz que a 3R é “muito atraente a longo prazo”, mas limita o tamanho do seu investimento na empresa por controle de risco.

Ainda assim, a venda de ativos da Petrobras traz uma série de campos de alta qualidade ao mercado, atiçando o apetite dos investidores nas produtoras independentes. O apoio do fundo Prisma Capital ajudou a Origem Energia a adquirir um campo de petróleo da Petrobras por US$ 300 milhões no início deste ano. Isso a tornou a segunda maior produtora independente de gás do Brasil, segundo a Prisma.

Algumas produtoras independentes, como a PetroReconcavo (RECV3), já têm planos ambiciosos de crescimento. A empresa, fundada por investidores como o banqueiro Daniel Dantas, do planeja adquirir produtoras menores, disse seu presidente, Marcelo Magalhães.

“Há um grande potencial de crescimento” para a produção de petróleo das pequenas empresas em campos adquiridos da Petrobras, disse Amanda Bandeira, da equipe de pesquisa em exploração e produção da Wood Mackenzie na América Latina. “A Petrobras não vinha investindo nesses campos, então pequenos investimentos já trazem aumentos de produção consideráveis em curto espaço de tempo.”

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- Com a Bloomberg Línea.

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