Ativos sintéticos flexibilizam investimentos reais e digitais

Reproduzindo bens reais, tokens gerados por esses ativos permitem que investidor diversifique seu portfólio sem deixar o universo cripto

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Tempo de leitura: 3 minutos

Por Gino Matos para Mercado Bitcoin

São Paulo — Ativos sintéticos ganharam espaço com a popularidade das finanças descentralizadas (DeFi, na sigla em inglês), que explodiu no fim de 2019. Eles reproduzem o valor de ativos reais no meio digital, mas não guardam nenhuma ligação com os ativos reproduzidos, explica Vitor Delduque, Business Owner no Grupo 2TM, controlador do Mercado Bitcoin, maior corretora de criptomoedas da América Latina.

“A grande vantagem desse tipo de ativo é que o investidor pode diversificar seu portfólio sem precisar sair do universo cripto”, diz Delduque. Contudo, lembra o executivo, é necessário ter atenção para a garantia oferecida por trás do token. “É fundamental conferir se ele respeita a regulação vigente e também entender como funciona o mecanismo de liquidação”, fala.

Inicialmente, essa classe de criptoativos representava apenas ativos tradicionais no meio digital. As commodities são um bom exemplo. Foram transformadas em tokens, assim como imóveis e ouro. Não demorou para que também fossem empregados no mercado de criptomoedas, representando ativos nativos de diferentes blockchains.

Os ativos sintéticos tornaram-se conhecidos, além do motivo citado por Delduque, por também flexibilizarem os investimentos em diferentes áreas, até mesmo no mercado de criptomoedas.

Ativos sintéticos aplicados à vida real

A simulação de ativos reais no meio digital foi a primeira aplicação dada aos ativos sintéticos. Nesse caso, o caráter sintético não só permite a diversificação do portfólio sem sair do mercado de criptomoedas como também viabiliza novos instrumentos práticos que beneficiam a sociedade.

Um exemplo é a Agrotoken, empresa argentina responsável por tokenizar produções de trigo, soja e milho. Em parceria com o banco espanhol Santander, a companhia passou a fornecer empréstimo a agricultores utilizando a produção dessas commodities como colateral. O crédito, então, é emitido em tokens.

“No caso de países exportadores de soja, como Brasil e Argentina, há uma grande volatilidade monetária por conta da economia. Fazer transações comerciais em suas moedas locais, como real e peso, ao mesmo tempo em que produzem uma commodity com valor baseado em dólar, cria o risco de uma variação de câmbio para o produtor, a indústria e os comerciantes”, diz Anderson Nacaxe, Head de Operações da Agrotoken no Brasil.

Cada token representa uma tonelada de grãos, computados no armazenamento para comprovar o lastro. Os tokens são: SOYA, CORA e WHEA, correspondendo a soja, milho e trigo, respectivamente.

Ganho de flexibilidade

Nacaxe explica que o modelo de empréstimo baseado em tokens dá flexibilidade ao produtor, que pode usá-los em operações do dia-a-dia, além de permitir empréstimos com menos burocracia.

“Um agente financeiro que aceite o token como colateral vai saber que a legitimidade do lastro foi reconhecida em contrato inteligente e há um comprador comprometido em pagar por ele em um processo garantido pela Agrotoken”, diz.

Há ainda a liquidez em mercado secundário que, atualmente, se dá de forma fechada entre investidores monitorados pela Agrotoken, por questões de segurança e liquidez, conta Nacaxe. O preço dos tokens pode ser verificado de forma transparente, seguindo índices conhecidos pelo mercado de commodities. “A oferta de tokens ao público aberto por meio de corretoras ocorrerá no futuro.”

A solução oferecida pela empresa está disponível neste momento apenas na Argentina, mas há previsão de que esse sistema de crédito chegue ao Brasil em junho de 2022.

Previsão legal no Brasil

No Brasil, a legalidade de ativos sintéticos depende de como eles são classificados, se como valor mobiliário ou não. Isso porque até que a proposta para regulamentação do mercado de criptomoedas seja aprovada no Congresso, o órgão regulador responsável por essa classificação é a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). E, atualmente, a CVM não permite a circulação de tokens rotulados como títulos mobiliários.

“Para que um projeto de tokenização possa vingar no Brasil, ele precisa se distanciar ao máximo da característica de valor mobiliário, como, por exemplo, a tokenização de créditos líquidos e certos, como os precatórios, que já são amplamente tokenizados no Brasil desde 2019″, diz o advogado especialista em criptoativos Rafael Steinfeld.

Tokens sintéticos e versatilidade

Por questões técnicas, uma unidade de Bitcoin não pode ser transferida para a blockchain Ethereum, por não respeitar o padrão desse protocolo. O aquecimento das DeFi, no entanto, criou ferramentas financeiras no Ethereum capazes de gerar ganhos para investidores. Nesse caso, para que o Bitcoin não ficasse de fora, foi criada uma versão sintética da maior criptomoeda em valor de mercado: o Wrapped Bitcoin.

O processo simplificado funciona assim: uma unidade de Bitcoin é transferida por um investidor a uma rede intermediária, conhecida como bridge. Na bridge, o Bitcoin é alocado e trancado em um contrato inteligente, e uma quantidade correspondente de Wrapped Bitcoin é emitida na rede Ethereum.

Assim, investidores em posse apenas de Bitcoin podem se beneficiar das ferramentas desenvolvidas em outras blockchains, dando um exemplo prático de como os ativos sintéticos impactaram o mercado cripto.

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