Tesla, que custa US$ 65 mil nos EUA, chega ao Brasil por R$ 600 mil

Automobilística de elétrico de luxo tem apenas 127 veículos circulando no Brasil apesar de BDR ser o mais negociado na B3; confira informações sobre modelos, seguros, blindagem, recarga da bateria e prazo de entrega

Elétrico de luxo já chega ao Brasil mais em conta que veículos de mesmo valor movidos a gasolina
22 de Março, 2022 | 01:34 PM

Bloomberg Línea — Por cerca de R$ 600 mil é possível ter o carro elétrico mais cobiçado do mercado em uma garagem aqui no Brasil. O Tesla (TSLA) Model Y Performance vendido nos Estados Unidos por US$ 65 mil chega ao Brasil pronto para rodar por US$ 115 mil, já com todos os impostos de importação pagos e registros os órgãos oficiais. Com mais R$ 50 mil pagos pelo serviço prestado por um importador e um câmbio de R$ 5, o elétrico é entregue na porta do comprador.

Apesar do preço ainda salgado, o Tesla já não deixa a desejar, pelo menos no preço, a nenhum outro veículo de luxo de mesmo valor. Pelo contrário. O elétrico chega por aqui cerca de 40% mais barato que um importado de mesmo valor. Pelos mesmos US$ 65 mil, um Porshe, Corvette ou similar, chega no Brasil por aproximadamente US$ 160 mil.

A diferença está nos impostos. Enquanto a carga tributária que incide sobre o Tesla é de praticamente 48%, o interessado em ter um importado a combustão paga mais de impostos do que o valor do próprio carro em si. A tarifa aplicada é de 114,55% sobre o valor do veículo. Em ambos os casos estão inseridos nessa carga o IPI, ICMS, PIS e Cofins. Ainda é preciso colocar as despesas portuárias, despesas para o embarque, taxas de nacionalização e o próprio serviço da importadora.

Quanto custam os principais modelos da Tesla no Brasil

“Hoje o processo é mais rápido, todo digital e é feito tudo em nome do comprador. A redução dos impostos para os carros elétricos também é um atrativo e a procura pelo Tesla é crescente”, afirma Daniel Valério, proprietário da Direct Imports, uma das empresas especializadas na importação do Tesla no Brasil. Segundo ele, no ano passado foram importados 13 veículos, mas já existem pedidos para outros 25 carros e a meta da empresa é trazer pelo menos 50 unidades até o fim do ano.

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O Model Y não é a versão mais em conta da montadora. O modelo de entrada é o Tesla Model 3, com tração apenas nas rodas traseiras e autonomia para 437 quilômetros. Ele sai da fábrica por US$ 47 mil, chega no Brasil por R$ 497 mil e é o modelo preferido pelos brasileiros por enquanto. A versão completa do Model 3 tem tração nas quatro rodas gerada a partir de dois motores e uma autonomia de 506 quilômetros.

BDRs da Tesla são os mais negociados na B3, mas veículos rodando no país ainda são poucos. Atualmente, existem apenas 127 unidades, especialmente nos Estados de Santa Catarina e Paraná

Os BDRs da Tesla (TSLA34) são, de longe, os papéis de empresas estrangeiras mais negociados na B3 junto com os do Mercado Livre (MELI), mas o carro mesmo ainda não faz parte dos investimentos dos brasileiros. Atualmente, existem apenas 127 unidades rodando, especialmente nos Estados de Santa Catarina e Paraná.

Se o objetivo da importadora for alcançado, sozinha, ela será responsável por provocar um incremento de 40% no número de Teslas em circulação no país. Atualmente, existem apenas 127 unidades rodando, especialmente nos Estados de Santa Catarina e Paraná. Apesar da vantagem tributária, o prazo de entrega ainda é um problema. Dando entrada no pedido hoje, o carro chega ao Brasil apenas em outubro.

A importadora está trazendo para o Brasil o modelo mais recente lançado pela Tesla. O Model X Plaid é uma SUV com autonomia para 535 quilômetros, atinge 100 quilômetros por hora em apenas 2,5 segundos, tem três motores elétricos e pode ser comprado por pouco mais de R$ 1,15 milhão. Nos Estados Unidos, o valor de tabela é de US$ 139 mil. “A expectativa é que dia 14 o carro esteja por aqui”, diz Valério.

Primeiro encontro de proprietários de Tesla do Brasil aconteceu neste ano, em Camburiú (SP), durante o Carnaval

Seguro, blindagem e recarga

Com um ativo tão caro em mãos, nada mais normal do que buscar por um seguro. Por enquanto, a Porto Seguro tem atendido os proprietários dos Teslas que circulam pelo pais ao valor médio de 5% do valor do carro já nacionalizado. Ou seja, o seguro do Model Y citado acima pode chegar a R$ 30 mil. Para garantir investimento do modelo de entrada, a segurado cobra ao redor de R$ 25 mil.

Um item quase que obrigatório para os proprietários de carros de luxo a gasolina, a blindagem, ainda não é tão presente nos Teslas do Brasil. Para garantir a segurança dos passageiros, o componente aumenta o peso total do carro, o que acaba por exigir mais energia para locomoção e, consequentemente, reduzir a autonomia média do veículo, algo não desejado pela maioria dos proprietários.

O veículo já vem com um carregador de fábrica, mas um carregador de alta performance não sai por menos de R$ 350 mil

Segundo Valério, mais do que o próprio preço do Tesla, o que ainda preocupa os reais interessados neste e em outros modelos é a questão da recarga. O veículo já vem com um carregador de fábrica, mas um carregador de alta performance não sai por menos de R$ 350 mil, apesar de alguns modelos chineses já terem começado a chegar por um valor ao redor de R$ 150 mil.

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Porém, para quem trabalha na infraestrutura de carregamento das baterias de veículos o cenário não é tão crítico. Para Diogo Seixas, CEO da Neocharge, a perceção sobre a disponibilidade de pontos de carregamento de quem não tem um carro elétrico é muito diferente de quem tem ou já teve algum modelo. “Existem muito mais pontos de recarga do que postos de combustível se considerarmos que qualquer tomada é potencialmente um carregador. O que muda é que a infraestrutura oferece maior rapidez”, diz o executivo.

Além disso, ele lembra que pesquisas indicam que 95% dos usuários de carros elétricos rodam até 50 quilômetros por dia. Nesse sentido, para o uso urbano dos veículos, pontos de carregamento são considerados uma conveniência e não uma necessidade, uma vez que o carro poderia ficar carregando durante a noite nas residências.

“Nas rodovias, ainda sim há uma necessidade. Eu diria que as regiões Sul e Sudeste já possuem uma boa infraestrutura de recarga, mas o Brasil ainda não está no Top 10 entre os países com melhor infraestrutura do mundo. Existem hoje cerca de mil pontos públicos de recarga nas rodovias e de fato são necessárias mais estações”, afirma o executivo.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.