Por Matheus Mans para Mercado Bitcoin
São Paulo – No início de 2022, o segmento de tokens não-fungíveis foi surpreendido negativamente com um dado sobre lavagem de dinheiro por meio da compra e venda de NFTs. Segundo a empresa de análise de dados Chainalysis, a prática criminosa movimentou US$ 2,4 milhões em 2021. Apesar de o volume desviado representar pouco quando comparado aos US$ 25 bilhões de transações do mercado cripto no mundo no período, a fraude acendeu o sinal de alerta entre investidores.
A dificuldade em analisar, compreender, identificar e coibir a ação desses criminosos muito se assemelha ao que acontece no mercado de arte tradicional. “O proprietário de um NFT vende para uma outra carteira dela mesma. Como não tem um nome por trás, é feita uma transação com valor exorbitante. Uma maneira de ‘esquentar’ dinheiro”, explica Andrey Nousi, analista licenciado pelo CFA (Chartered Financial Analyst) e fundador da Nousi Finance.
Também como no mercado tradicional, a grande barreira, no caso dos tokens não-fungíveis, é ter conhecimento sobre o exato valor do item negociado. Será que aquele NFT vale tudo isso? O que justifica uma compra de valor tão elevado?
Some-se à preocupação de como identificar o crime a discussão sobre a lavagem de dinheiro no mercado de criptoativos. A Chainalysis aponta que criminosos virtuais lavaram pelo menos US$ 8,6 bilhões via criptomoedas, em 2021. Um salto de cerca de 30% em relação a 2020, embora tamanho avanço tenha se dado pelo crescimento do mercado. “Ainda é uma porcentagem pequena em comparação com todo o mercado”, afirma Nousi.
Combate à prática
Apesar da preocupação com a lavagem de dinheiro ser algo real dentro do universo virtual dos NFTs, um outro dado da Chainalysis mostra que ele ainda está longe de tirar o sono de investidores e do mercado. Relatório da empresa de análise indica que as tentativas de uso dos tokens não-fungiveis para esse crime nem sempre são bem-sucedidas. Isso porque as plataformas conseguem rastrear o token e descobrir quem está de posse dele.
Para Bruno Milanello, executivo de novos negócios do Mercado Bitcoin, maior corretora de criptoativos da América Latina, essa já é uma movimentação de mercado. “As melhores plataformas de NFTs não diferem das melhores exchanges de cripto e bancos. Elas adotam práticas de KYC (”know your customer”) e de AML (“anti-money laundering”)”, explica. Assim, elas verificam a identidade do cliente, se ele não é alguém politicamente exposto e fazem buscas por diversos canais de mídia.
“Se a plataforma não conseguir comprovar se o cliente é realmente quem diz ser, o risco de lavagem de dinheiro aumenta. Por isso, essas são ações que devem ser consideradas sempre e não apenas quando o cliente abre a conta. Além disso, o apoio das autoridades é fundamental”, diz Milanello sobre movimentações. “Elas precisam se sofisticar do mesmo modo que os criminosos se sofisticaram”, fala, ressaltando que essa melhoria já está acontecendo no mercado.
Com isso, crescem os casos históricos de apreensões. Em fevereiro deste ano, no Reino Unido, pela primeira vez foram apreendidos NTFs no valor de 1,4 milhão de libras numa investigação envolvendo fraude. O relatório da Chainalysis ainda aponta que o vendedor de NFTs que mais teve sucesso com a prática criminosa teria realizado 830 vendas desse tipo, enquanto 262 usuários comercializaram um NFT para um endereço autofinanciado mais de 25 vezes. Entretanto, ao contrário do esperado, a maioria dessas transações criminosas não se mostrou lucrativa.