Uberlândia inaugura uso do metaverso em reunião executiva

Prefeitura do município mineiro se tornou a primeira no país a promover um encontro dentro do mundo virtual que replica o real

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Por Matheus Mans para Mercado Bitcoin

São Paulo – No final de janeiro, Odelmo Leão, prefeito de Uberlândia, cidade mineira com pouco mais de 700 mil habitantes, se reuniu com Maurício Lemos, um dos fundadores da Sapiens Agro, startup do município focada em inteligência artificial, para discutir as perspectivas do agronegócio local, carro-chefe da balança comercial positiva uberlandense.

A reunião seria mais uma na agenda executiva do prefeito não fosse o fato de ela ter sido realizada dentro do metaverso, o ambiente virtual que replica a vida real por meio de avatares. Com isso, Uberlândia se tornou a primeira prefeitura a realizar uma reunião de trabalho nesse mundo virtual.

O encontro foi possível com o uso do Horizon Workrooms, o serviço online da Meta, dona da rede social Facebook, e reforçou a discussão sobre o interesse de estados na utilização dessa tecnologia.

Avatares

Usando óculos de realidade virtual e por meio de um avatar, Leão contou na reunião com a participação da secretária de governo de Comunicação, Ana Paula Junqueira, que destacou a importância da novidade. “Sempre tivemos o entendimento de que o poder público deve, como rotina, olhar para as inovações e tecnologias que poderão ser incorporadas em benefício da população”, diz.

Ela conta que a prefeitura constatou que a tecnologia “poderia ser utilizada para a realização de reuniões de atendimento a instituições, entidades e empreendedores que precisam conversar com o poder público, já que o metaverso permite contato com maior sensação de interatividade e proximidade, se comparado às ferramentas virtuais de reunião mais usadas hoje”.

Ana Paula avalia que o metaverso tem potencial para ir além de um espaço para bate-papo. Diz que esse ambiente pode ajudar na apresentação de projetos e croquis, por exemplo, facilitando a troca de informações entre os participantes de uma reunião.

Também poderia, no caso do Poder Executivo, segundo a secretária de governo, servir para agendas internas quando houver impossibilidade de muitos participarem de forma presencial. E não descarta que, no futuro, até mesmo a população participe das reuniões da prefeitura voltadas à discussão dos problemas da cidade.

“Estamos falando de ocupar espaços virtuais, com uma experiência de imersão diferenciada, misturando realidade virtual e realidade aumentada. Mas ainda não chegamos aí. Vai depender de muito investimento em pesquisas para produzir hardware e software capazes de realizar aquilo que estamos visualizando”, diz Fabio Lopes, professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Mas pode ser uma mudança de paradigma para muitos contextos das nossas vidas”.

Segregação

Viabilizar o acesso da grande maioria a reuniões no metaverso quando começarem a se tornar realidade no poder público, no entanto, vai além do simples desejo. É preciso vencer alguns entraves. Pesquisa do Comitê Gestor da Internet do Brasil aponta, por exemplo, que 19% da população com idade superior a 10 anos ainda não tem conexão com a internet. Algo que tornaria o uso do metaverso impossível, uma vez que a entrada nesse ambiente requer internet veloz. Mas não é só isso.

Outro problema é o acesso das pessoas aos óculos de realidade virtual, que permitem participar do metaverso. “Muitos estarão ainda mais à margem desse fenômeno, já que hoje já se encontram de fora da tecnologia quando pensamos no número de pessoas que não tem internet. Um óculos de realidade virtual pode custar até US$ 300. Isso já limita o acesso de milhares”, diz Fabio.

Mas, para o professor, um dos pontos que mais o intrigam nessa tecnologia diz respeito ao interesse das pessoas em participar desse novo mundo. “Quanto quero viver em um mundo virtual? Eu posso ganhar novas habilidades que não tenho no mundo real, posso voar, navegar em um veleiro? Ainda assim será um mundo imaginário. O quanto eu quero ser virtual ou real?”.