Por Gino Matos para Mercado Bitcoin
São Paulo — Apesar da recente reação iniciada em 4 de fevereiro, o Bitcoin registrou, em janeiro, sua pior performance para o mês desde 2018 – uma variação negativa de 18%. Em relação à máxima histórica, de US$ 68.789,63, de novembro de 2021, a mínima de US$ 33.495,91 vista no primeiro mês do ano representou uma queda de quase 52%.
O recuo brusco pareceu não impactar os investidores de longo prazo (os holders como são conhecidos no mercado financeiro) que, segundo relatório da casa de análise Glassnode, publicado no dia 24 de janeiro, aproveitaram as baixas para aumentar a exposição à criptomoeda.
O gráfico abaixo mostra que o montante de Bitcoin que se encontrava em posse de investidores com perfil de longo prazo, que estavam segurando a criptomoeda há pelo menos três anos, chegou a representar 81,7% de todos os Bitcoins fora de exchanges.

A decisão de não vender o ativo, mesmo com a assustadora perda de preço da maior criptomoeda em valor de mercado, vem, possivelmente, do entendimento de seus ciclos de preço. O trader do mercado cripto conhecido como Rekt Capital fez um levantamento apontando que, a cada quatro anos, é normal que o Bitcoin tenha duras quedas, mas se recupere em poucos dias.
Além disso, vale ressaltar que, exceto pelas compras de Bitcoin feitas nos períodos entre janeiro e abril, e também entre outubro e dezembro, ambos de 2021, a criptomoeda ainda não deu prejuízo para quem comprou e não vendeu.
Um exemplo é a máxima histórica registrada, em dezembro de 2017, quando o Bitcoin atingiu o valor de US$ 20 mil e, menos de um ano depois, perdeu 80% de seu valor. Contudo, quem comprou na máxima e não se desfez dela viu o investimento render bons ganhos em menos de três anos.
Nesse ecossistema cripto, quedas como a de janeiro são comumente vistas pelos holders como oportunidades para adquirir mais Bitcoins a preços mais baixos durante o ‘inverno’ para então colher os frutos na ‘primavera’, que ocorre mais adiante no mesmo ciclo de preço.
Isso é normal?
Para aqueles com experiência no mercado financeiro tradicional que decidem se aventurar no segmento de criptomoedas, a montanha-russa das variações de preço do Bitcoin pode causar apreensão. Henrique Paiva, analista de investimentos da casa de análise O2 Research e do portal BitNada, explica que o comportamento do ativo é normal, porém, somente no mercado de criptomoedas.
“Apenas como referência, a volatilidade do índice S&P 500 é cinco vezes menor do que a do Bitcoin. Não foram poucas as vezes, durante o ano de 2021, em que a volatilidade do Bitcoin ultrapassou os 100%, encontrando-se atualmente na faixa dos 70%, ao mesmo tempo em que o S&P 500 registrou variação de 15% no período”, diz Paiva.
A alta volatilidade, então, é a razão pela qual os investidores não se preocupam com os tombos significativos, na visão do analista. “O Bitcoin passa por recuos de 50% em praticamente todos os anos, podendo chegar a até 80% em alguns casos. É preciso ter em mente que essas quedas são ofuscadas pelas valorizações de 500% a 1000% do criptoativo.”
Fundamentos se fortalecem
Muitos especialistas do mercado cripto consideram que os fundamentos positivos do Bitcoin são a razão por trás das recuperações ocorridas após perdas catastróficas, impulsionando sua longevidade. Paiva avalia que, mesmo durante a baixa em janeiro, eles ficaram ainda mais fortes.
A aquisição de Bitcoin e outras criptomoedas por empresas somada ao investimento recorde em companhias ligadas a criptoativos verificado em janeiro, de quase US$ 5 bilhões, são apontados por Paiva como exemplos de fortalecimento do Bitcoin como ativo. Para os investidores de longo prazo, notícias como essas são significativas.
“Com o aumento na solidez dos fundamentos, fica difícil não esperar uma forte valorização futura, talvez em um próximo ciclo de preço. Mas, se ela acontecerá de fato é algo que ninguém pode prever com certeza nesse mercado.”
Para o curto e longo prazos
Mesmo com os retornos expressivos para os investidores mais pacientes, Paiva defende que o Bitcoin atende tanto os traders – aqueles que buscam ganhos no curto prazo – quanto os investidores que miram no retorno em um período mais extenso. Mas em ambos os casos é necessário ter sangue-frio pelo fato de a criptomoeda estar na classe de ativos mais voláteis.
“As negociações de curto prazo demandam maior disciplina e conhecimento desse mercado, enquanto o investidor holder deve ter estômago para suportar as duras quedas no patrimônio e aguardar com paciência a recuperação. Eu gosto de fazer as duas coisas”, conclui o analista.