Bloomberg Opinion — Se você ainda não comprou os presentes de Natal (principalmente para adolescentes), está tudo bem. Como economista, posso garantir que foi uma decisão responsável e até mesmo cuidadosa. Mas ainda não é tarde para mudar de ideia caso já o tenha feito.
Todo fim de ano, as pessoas me perguntam qual valor gastar com presentes. A pergunta mais importante é: o que é um presente e quanto ele vale?
Normalmente, compramos as coisas erradas e acabamos com nosso orçamento. As pessoas geralmente gastam mais que o esperado com presentes. A média anual é de US$ 650 – e ninguém fica feliz. Muitas vezes, um cônjuge presenteia o outro, que está prestes a romper o relacionamento – ou pior.
No Natal, uma em cada cinco pessoas fica endividada. As editoras me contam que janeiro é uma ótima época para vender livros de consultoria financeira – afinal, as pessoas estão assustadas com seus gastos excessivos.
Quase sempre o presente vale menos para quem o recebe do que o para quem presenteou. Todos sabemos que seu primo vai vender aquela caneca caríssima por muito menos (estima-se que de 10% a 30% a menos), criando um “peso morto” – um prejuízo causado pela ineficiência do mercado. Somando todo esse prejuízo com as lembrancinhas, estimo que um norte-americano tenha cerca de US$170 de prejuízo no Natal. No país inteiro, são US$ 32 bilhões.
Todos os anos, tentamos buscar a solução para esse problema: amigo secreto, limite de preço, avisar que não vai dar presente algum ou doações beneficentes em vez de presentes. Às vezes, cogitamos fazer um presente artesanal, mas não criamos coragem para fazê-lo. Vamos para a Amazon e para o shopping em um frenesi na contagem regressiva para o Natal.
Assim, embora pareça esquisito, economistas afirmam que o presente mais eficaz é o bom e velho dinheiro. Se quiser dar um toque especial, faça seu próprio cartão (lembre-se: gastar com cartões também gera peso morto).
Apesar do conselho de gastar menos em presentes porque eles não valem muito, nesta época do ano, os economistas ficam em segundo plano – são os antropólogos e sociólogos que mandam. Isso é porque presentes representam outras coisas. Normalmente, são o primeiro passo da criação de um laço social. E quando os presentes são recusados ou não correspondidos, os laços se rompem. Mas também se trata de uma pura troca de mercadorias. Não são exatamente presentes.
Em uma das muitas colunas de conselhos sobre como presentear – o que dar a quem e quanto gastar com isso – fica claro que presentes são uma expectativa social, dar algo para receber algo; está mais próximo de uma troca de dinheiro por serviços.
O sociólogo Theodore Caplow estudou a distribuição de presentes de Natal na cidade de Muncie, estado de Indiana, no final da década de 1970, coletando dados sobre 366 jantares de Natal e 4.347 presentes individuais. Os presentes revelaram ser um ritual rígido, e não a troca voluntária e espontânea que as pessoas insistiam ser. Cada participante deu um presente para suas mães, pais, filhos, filhas e cônjuges de cada uma dessas pessoas. Além de ter de presentear o próprio cônjuge. Os participantes esperavam receber pelo menos um presente em troca de cada uma dessas pessoas. E isso foi há mais de 40 anos, antes que a Amazon facilitasse o processo de presentear.
Para ajudar a pagar tudo isso, o site de finanças Bankrate sugere trabalhar mais para aliviar o estresse dos feriados, mas isso parece ser ainda mais estressante.
Este ano, o JPMorgan informou que os gastos cairão, principalmente na área de passagens aéreas e hospedagem (provavelmente por causa do medo da variante ômicron), mas também em compras no varejo, em parte devido às preocupações com a inflação.
No entanto, os relacionamentos abalados pela distância induzida pela pandemia e pelo aumento geral dos preços quase nos condenam a gastar mais do que queremos. O grupo de consultoria PNC calcula o índice de custo do Natal, comparando os preços dos produtos de ano para ano. Desde 2019, o aumento foi de 5,7%. A Internet pode facilitar as comparações de preços, mas também é mais fácil gastar mais que o desejado devido a compras por impulso e ao aumento dos custos de envio.
Será que eu sigo meu próprio conselho? Um dos meus cartões favoritos mostra um sábio monge budista abrindo uma caixa de presente amarrada com uma grande fita. Ao abrir o cartão, a ilustração é de uma caixa de presente vazia. O monge exclama “exatamente o que eu queria: nada!”. A ironia me diverte porque ninguém pensa assim.
Comprei 10 desses cartões por US$ 4,95 cada, e os distribuí ao longo dos anos com um bom presente de aniversário. Não sou idiota; eu valorizo minhas relações sociais (quase) mais que meu dinheiro.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Teresa Ghilarducci é professora de economia Schwartz na New School for Social Research. Ela é coautora de “Rescuing Retirement” e membro do conselho de diretores do Economic Policy Institute.
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