Criptomoedas despontam como alternativa ao financiamento cinematográfico

Mogul Productions, do Canadá, é exemplo de como as moedas digitais podem ajudar o mercado audiovisual quando o assunto é falta de recursos; Brasil tem potencial para entrar no jogo

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Por Matheus Mans para Mercado Bitcoin

São Paulo - Não importa a produtora nem o nome dos envolvidos no projeto. Um dos maiores desafios de empresas audiovisuais no mundo, senão o maior, é o financiamento de filmes e séries. Até mesmo para os grandes estúdios a pré-produção se tornou desafiadora após a fuga de investidores, intensificada com a pandemia do novo coronavírus. A boa notícia é que agora o incentivo para o setor de audiovisual pode vir de um novo mundo: o das criptomoedas.

Na Europa e América do Norte, filmes e séries já são subsidiados com o uso das moedas digitais. Um dos melhores exemplos é a Mogul Productions. A produtora, sediada no Canadá, criou uma plataforma descentralizada voltada ao financiamento de filmes. A ideia é a de que qualquer um, ligado ao mercado cinematográfico ou não, participe do projeto de apoio financeiro entrando na plataforma da Mogul e comprando um token próprio, o STAR.

De um lado, a aquisição do STAR permitirá à Mogul produzir novos filmes. De outro, o token - em um modelo similar ao dos times de futebol – dará a seu detentor a possibilidade de participar de algumas decisões que envolvam a produção dos filmes. Como, por exemplo, escolher, por meio de votação, o projeto que receberá os recursos. Ou então opinar na construção de campanhas de marketing, no desenvolvimento de determinada película ou, até mesmo, na remuneração dos sócios da produtora.

“À indústria cinematográfica não será mais possível ocultar custos múltiplos no orçamento ou no marketing de um filme. Cada transação é feita em uma cadeia de blockchain para que todos possam ver o que está acontecendo”, disse a produtora Cindy Cowan, em entrevista concedida por e-mail. Outro ponto, segundo Cindy, é que mais pessoas poderão se envolver no negócio e não apenas alguns selecionados. “Isso sem falar dos contratos inteligentes, também em blockchain, que podem coletar fundos de vários financiadores mais rapidamente do que no passado”, afirma.

O modelo foi usado pela Vision Tree, empresa de tecnologia e mídia dos Estados Unidos, que criou um sistema similar, com o token Bushnell, para o financiamento do filme que conta a história de Nolan Bushnell, o criador do videogame Atari. Em parceria com a Appian Way, empresa do ator Leonardo DiCaprio, a Vision Tree pretende conseguir US$ 40 milhões para a produção.

“Fomos motivados a desenvolver esse projeto para permitir que a comunidade de fãs do Atari e de gamers ao redor do mundo pudesse investir em um filme”, conta J.D. Seraphine, CEO da empresa. “Da minha perspectiva, e eu tenho alguma experiência com crowdfunding no passado, ter uma comunidade investindo em um filme ajuda no marketing da produção. Mas eu queria ir um nível acima. Você não investe apenas seu dinheiro em um filme, você também pode ser dono de um pedaço dessa produção”.

Para Ronaldo Torturella Faria, diretor executivo do Mercado Bitcoin, essas possibilidades podem ganhar fôlego também no Brasil. “É um mercado totalmente factível. Afinal, com a tokenização, a gente consegue usar para praticamente tudo. Só é importante ter atenção para uma estruturação correta do negócio e, principalmente, com a análise regulatória”, diz o executivo. “Isso, afinal, é um non-security token (ativos digitais listados com uso da tecnologia blockchain e que representam um ativo real comum). Não são classificados como valores mobiliários. No final, podemos fazer o fundraising por meio do formato da tokenização para vender uma fatia daquela produção”.

Financiamento via NFT

Outra possibilidade que se abre em Hollywood, neste momento, é o financiamento de filmes por meio de NFTs, os tokens não-fungíveis. Na Europa, esse movimento já é realidade com o documentário The Underground Sistine Chapel, que conta a história de um artista de rua francês que tenta transformar uma área periférica do país europeu em uma nova “capela sistina”. A ideia da produção foi, conforme a estreia do longa-metragem se aproximava, amplificar o financiamento de marketing e divulgação com o dinheiro conseguido com a venda de NFTs do filme, que estreou no final de junho deste ano no Youtube e no InterPlanetary File System, de forma gratuita.

Outro documentário, agora sobre a criptomoeda Ethereum, também teve seu financiamento sustentado pelas vendas de NFTs. As duas iniciativas são incipientes, com um longo espaço a percorrer. Mas Cindy, da Mogul, mantém os olhos no futuro: “Acredito que isso possa ser uma virada de jogo neste setor. Os estúdios agora conseguem atrair os fãs desde a concepção dos filmes, garantindo que os personagens estejam o mais próximo das expectativas dos fãs. Filmes independentes têm a chance de serem financiados por tokens e NFTs e o envolvimento da comunidade ajudará a construir um público sólido que pode se sentir parte do processo”.