Bloomberg — O Banco Central Europeu não terá necessariamente que elevar seu programa de compra de títulos anterior à crise quando o estímulo à pandemia for retirado, segundo Peter Kazimir, membro do conselho da instituição.
“As preocupações com o efeito precipício não podem significar automaticamente demandas para aumentar os programas padrão”, disse o presidente do banco central eslovaco em entrevista em Bratislava.
O BCE provou que pode ser “extremamente flexível” na definição da política monetária em resposta a situações extraordinárias, portanto, “não existe uma fórmula automática”, disse. “Vamos decidir de acordo com as condições no momento determinado.”
O programa de compra de ativos de emergência de 1,85 trilhão de euros (US$ 2,2 trilhões) do BCE tem como prazo março de 2022, ou quando as autoridades considerarem que a crise terminou. Um cenário de inflação fraca no médio prazo e preocupações sobre uma transição difícil têm reforçado expectativas de economistas de que o BCE poderia elevar as compras sob um plano iniciado em 2015, que atualmente totaliza 20 bilhões de euros por mês.
O programa da pandemia tem “funcionado muito bem e, naturalmente, está agora no estágio final de seu ciclo de vida”, disse Kazimir. “É uma ferramenta especial criada para uma situação especial e será desativada quando não for mais necessária. O mercado parece entender que esta ferramenta será encerrada com o fim da pandemia.”
Autoridades do BCE estabeleceram a reunião de dezembro como o momento para decidir como remodelar a política monetária e evitar prejudicar a recuperação. Madis Muller, membro do conselho do BCE e presidente do banco central da Estônia, disse que a instituição poderia considerar aumentar o ritmo do programa prévio, embora também tenha afirmado “não ter certeza” de que seria o melhor caminho a seguir.
Riscos de inflação
A presidente do BCE, Christine Lagarde, disse na terça-feira que o fim da emergência pandêmica “está se aproximando” e acrescentou que a zona do euro registra “recuperação muito atípica”, caracterizada por rápido crescimento e gargalos de oferta.
Ela também reiterou que as atuais pressões sobre os preços são transitórias. A inflação acelerou para 3% em agosto, embora deva perder força no próximo ano e ficar abaixo da meta de 2% do BCE em 2023.
Como outros membros do conselho do BCE, Kazimir disse que os riscos para o cenário de inflação tendem para a alta devido ao impacto dos problemas de produção no setor de manufatura, sendo um “risco-chave” para a previsão base.
“Se a inflação continuar elevada no ano que vem por causa de gargalos da oferta, minha preocupação é que isso possa afetar as negociações salariais também no ano seguinte”, disse. Mas “não estamos vendo isso nos principais países até agora”.
Ainda assim, Kazimir disse estar confiante de que as soluções para esses problemas logísticos serão finalmente encontradas e que o impacto sobre os preços ao consumidor não será permanente. Em contraste, a transição para uma economia mais neutra em carbono “provavelmente terá um efeito mais duradouro sobre a inflação”.
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