Incógnitas da variante delta dificultam respostas médicas e econômicas

Risco de novas variantes persistirá se o mundo continuar com uma abordagem sequencial e não correlacionada para combater a Covid

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Bloomberg Opinion — O aumento de casos da variante delta em todo o mundo aumentam a preocupação com a robustez do que fora uma recuperação econômica global instável e incerta. Essas preocupações dizem respeito a questões de políticas de saúde e econômicas, que lidam tanto com fatores que conhecemos bem, como com outros que permanecem desconhecidos após 18 meses de pandemia. Só conseguiremos reduzir a exposição ao que não conhecemos se progredirmos rapidamente quanto ao que conhecemos.

Começando pelas duas coisas com maior consenso: primeiramente, a variante delta é muito mais infecciosa que as anteriores; segundo, a ligação entre infecções e hospitalizações e óbitos felizmente diminuiu – embora apenas em países que avançaram significativamente na vacinação.

Também sabemos que o risco de novas variantes persistirá se o mundo continuar com uma abordagem sequencial e não correlacionada para combater a Covid. Uma abordagem sequencial significa que nenhum país parece conseguir dominar as três frentes: manter um nível mínimo de infecções, atingir as massas com as vacinas e possuir uma proteção sólida contra novas variantes. E uma abordagem não relacionada significa que países em todo o mundo estão confusos quanto a esses três parâmetros – desde a Austrália e sua alta eficácia no controle de infecções, porém vacinação vagarosa, até o Reino Unido, com alto índice de vacinação e aumento nas infecções, à África do Sul, com índices baixos nas três métricas.

Sabemos muito menos sobre a força residual da resistência a hospitalizações e dos óbitos em relação às vacinas. Embora as hospitalizações continuem relativamente baixas em país com altos índices de vacinação, como o Reino Unido, existem casos de pacientes vacinados e hospitalizados. Sabemos menos ainda sobre os possíveis riscos da “Covid longa” que os infectados enfrentam – se estes serão hospitalizados ou não. E também não sabemos o suficiente sobre as mutações que podem aparecer em ambientes com muitas infecções, incluindo os riscos à eficácia das vacinas.

Juntos, esses fatores determinam a qualidade e a duração de nossas vidas com a Covid e influenciam as políticas econômicas. Mais especificamente, a eficácia das medidas dos governos e dos bancos centrais dependem das incógnitas conhecidas.

Quanto menos perigosa for a ligação entre infecções e ameaças sérias à saúde, maior o escopo das políticas para aplicar a medida dupla essencial para incentivar o crescimento inclusivo e sustentável. A primeira parte envolve menos confiança na compra de ativos financeiros por parte dos bancos centrais de maneira ampla e previsível e mais confiança em políticas fiscais e estruturais orientadas ao crescimento; a segunda envolve uma transição de menos estímulos emergenciais para uma ênfase maior na melhoria de infraestruturas físicas e humanas.

Se a ligação entre infecções e ameaças sérias à saúde provar ser mais prejudicial, a política terá de lidar com problemas de oferta e demanda que podem, em última instância, produzir pressões para estagnação da inflação – a pior combinação a ser combatida pelas políticas e a mais problemática para a maior parte das avaliações de ativos financeiros. Se a probabilidade de uma situação desse tipo aumentar significativamente, os governos e bancos centrais teriam de se esforçar para fazer duas coisas ao mesmo tempo: tentar contrabalancear uma queda acentuada na demanda privada, tanto no consumo das famílias quanto no investimento das empresas; e, quanto à oferta, tentar contrabalancear ainda mais gargalos e rigidez no mercado de trabalho, o que arriscaria pressões persistentes sobre a inflação apesar da baixa demanda.

Todos querem declarar o fim da pandemia e aproveitar um período de crescimento sólido, durável, inclusivo e sustentável. Fica cada vez mais claro que isso depende de dois conjuntos de problemas: um para o qual ainda não temos soluções, começando com a eficácia das vacinas contra as novas variantes da Covid; o outro, para o qual já temos as soluções, envolve a necessidade de mudarmos rápida e impressionantemente para uma abordagem médica mais simultânea e correlacionada em todo o mundo (incluindo ao facilitar que países atrasados em suas vacinações alcancem aqueles adiantados) ao mesmo tempo em que aceleramos as mudanças nas políticas econômicas.

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