(Bloomberg) – Os bancos japoneses estão num beco sem saída – novamente.
Com níveis recorde de dinheiro excedente, eles estão se voltando para investimentos mais arriscados que precisam de hedges cambiais complexos, como os títulos do Tesouro dos EUA, para conseguirem retorno sobre os depósitos que cresceram muito durante a pandemia. Muitos tentam evitar os erros do passado.
Esse excesso, calculado pela diferença entre os empréstimos bancários e os depósitos, está em 323 trilhões de ienes (US$ 2,97 trilhões), segundo dados do Banco do Japão. Os depósitos apenas nos três maiores bancos do país cresceram US$ 375 bilhões no ano encerrado em março, com o Mitsubishi UFJ Financial Group Inc. respondendo por mais da metade.
“O crescimento de nossos depósitos é a prova da confiança que despertamos nos clientes”, disse a jornalistas em maio o executivo-chefe do MUFG, Hironori Kamezawa. “Mas para ser honesto, é um desafio difícil de ser administrado.”
Com famílias do mundo todo aproveitando a pandemia para pagar suas dívidas e segurar os gastos, e as transferências maciças de dinheiro dos governos para os bancos aumentando os volumes de dinheiro nessas instituições, os bancos japoneses não estão sozinhos no enfrentamento dessa consequência indesejada da pandemia – os EUA viram o mesmo indicador atingir outro recorde. No Japão, esse é um problema que lhes é muito familiar.
Agora, alguns bancos japoneses estão se voltando para ativos mais arriscados, como os bônus estrangeiros, na medida em que aumentam as expectativas de uma alta nas taxas de juros em países como os Estados Unidos. As companhias, que sempre dependem dos investimentos internos em renda fixa, agora precisam considerar uma variedade de ativos de rendimentos mais altos – mas isso apresenta riscos potencialmente maiores.
Os bancos deverão investir mais em “áreas não tradicionais” como ativos imobiliários via trustes de investimentos, afirma Nana Otsuki, diretora especializada e analista-chefe da Monex Inc. “Ativos de pouca liquidez apresentam retornos relativamente maiores, mas uma atenção maior será necessária em relação aos riscos. É importante que eles não invistam em ativos com riscos difíceis demais de serem compreendidos”, diz ela.
Risco maior?
O MUFG disse que considerará a possibilidade de investir em ativos alternativos como private equity e fundos imobiliários nos EUA e outros países. O Concordia Financial Group Ltd., um dos maiores bancos regionais do Japão, vai investir este ano em Treasuries e bônus hipotecários, dados os retornos menores dos bônus japoneses, segundo disse no mês passado seu presidente, Yasuyoshi Oya.
Os investimentos mais arriscados nem sempre compensam. O Mizuho Financial Group Inc. provisionou uma despesa de 150 bilhões de ienes em 2019 para absorver as perdas com suas posições em bônus estrangeiros, depois de uma grande alta dos rendimentos dos Treasuries.
O Japan Post Bank Co. atraiu o escrutínio do banco central nos últimos anos por aumentar muito os investimentos em collateralized loan obligations (CLOs), ou obrigações de empréstimos garantidas, e que foram afetados quando a pandemia estourou no mundo no começo do ano passado. O banco postal, que costumava investir a maior parte dos seus cerca de US$ 2 trilhões em JGBs (os bônus do governo do Japão), agora conta com elas em apenas 23% de seu portfólio.
A grande diferença entre os empréstimos e os depósitos não deverá encolher no curto prazo mesmo com a recuperação da pandemia ganhando força. Os depósitos não caem tão facilmente e a diferença poderá até mesmo aumentar mais se as transferências do governo forem ampliadas em meio ao prolongamento da pandemia, segundo afirma Tsuyoshi Ueno, um economista-sênior do NLI Research Institute de Tóquio.
Mais recursos
Otsuki da Monex diz que o grande crescimento dos depósitos é um grande desafio para as equipes gestoras dos bancos e ainda não está claro como elas conseguirão superar isso. Eles precisarão de mais funcionários priorizando o problema, acrescenta ela.
“O papel do gerenciamento de portfólio de títulos deverá aumentar para os bancos. Eles precisam alocar mais recursos para essa área”, afirma ela.
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