Influenciadores pet atraem milhões, mas enfrentam desafio no pós-pandemia

Posts pagos chegam a render R$ 100 mil a gatos e cães celebridades, mas reabertura da economia ameaça o ritmo de crescimento em usuários e engajamento

Cachorros da raça Shiba Inu com uma adestradora: mercado de pet influencers atrai milhões de seguidores em redes sociais
06 de Fevereiro, 2023 | 01:17 PM

Bloomberg Línea — Quando alguns usuários do Instagram criaram os primeiros perfis para seus animais de estimação, a rede social ainda estava em seus anos iniciais, não pertencia ainda ao Facebook de Mark Zuckerberg e também não estava disponível para usuários do sistema operacional Android. A ideia parecia um tanto quanto cringe — palavra em inglês usada pela Geração Z para definir algo “vergonhoso”.

Atualmente, no entanto, a criação de perfis para pets em uma série de mídias sociais está longe de ser algo tido como vexatório. E cuidar de um perfil de um cachorro, gato ou papagaio dá dinheiro.

Basta pensar no TikTok: para quem gosta de animais, ao abrir a página inicial, aparecem diversos vídeos de pets, como o perfil de um gato cinza chamado ThatLittlePuff que finge repetir receitas e tutoriais de humanos.

O gato Puff ganha cerca de US$ 26.400 por postagem, segundo o site All About Cats, e tem 26 milhões de seguidores na rede social chinesa, sendo o pet mais seguido e o que mais fatura no mercado consumidor da segunda maior economia do mundo, de acordo com o levantamento. Em seguida vem o cachorro jiffpom, que fatura US$ 20.600 por post, com 21 milhões de seguidores no TikTok.

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São números que chamam a atenção, ainda que estejam muito aquém das celebridades mais seguidas do mundo. Segundo a Fortune, a pessoa mais seguida no TikTok, o ítalo-senegalês Khabane Lame, com 153 milhões de seguidores, ganha em média US$ 750 mil (cerca de R$ 3,9 milhões) por vídeo.

No Brasil, um dos maiores exemplos do setor é o publicitário Leonardo Bagarolo, 33 anos, que criou perfis para suas duas cachorras e para a gata, as influenciadoras animais Mada e Bica e, em uma conta separada, Lola, “a gata superior”.

Os perfis no Instagram têm 1 milhão e 319 mil seguidores, respectivamente. No TikTok, Mada e Bica acumulam 8,5 milhões de seguidores. “Começamos uma conta para a Mada [a bulldog inglesa] em 2019, para conseguirmos coisas de graça. Hoje elas pagam a conta da casa”, disse à Bloomberg Línea.

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Atualmente, segundo Bagarolo, a maior parte do faturamento de todos os perfis vem com publicidade e com a monetização de conteúdo por redes sociais. Para se dedicar aos perfis das influenciadoras animais, ele deixou seu emprego em uma multinacional, em que trabalhava como gerente de e-commerce.

“Nem como diretor ou presidente de uma empresa eu teria a saúde financeira que tenho hoje em dia”, disse. “Eu ganhei no ano passado o equivalente a dez vezes o que recebia no meu emprego”, afirmou. Ele não quis revelar os números.

Há seis meses, a esposa de Bagarolo também deixou seu emprego com carteira registrada para “se dedicar ao futuro da marca Mada e Bica e desenvolver nosso CNPJ”. Em breve, a marca deve ter produtos licenciados, como cadernos e ração.

O cantor e “dublador de cachorros” - como ele se autodefine - Zanq, de 25 anos, é mais um dos humanos que decidiu entrar na onda dos pet influencers: ele criou o perfil de seu cachorro, o husky siberiano Gudan, ou “Gudanzinho”, durante o primeiro ano da pandemia de covid-19, em 2020.

Gudan conta atualmente conta com 8 milhões de seguidores no TikTok e 1,4 milhão no Instagram. O vídeo mais visto, no qual o animal derruba uma prateleira de produtos em um pet shop, o alçou ao estrelato.

Segundo Zanq, um perfil de pet pode faturar de R$ 5 mil a R$ 65 mil mensais, a depender da demanda, do número de seguidores e do engajamento.

Isso porque o faturamento dos pet influencers, assim como das pessoas que trabalham na área, depende dos contratos fechados e da quantidade de visualizações em redes sociais que monetizam conteúdos, como o YouTube.

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Leonardo Bagarolo com sua cachorra Mada, uma pet influencerdfd

Não há renda fixa

“Não existe uma renda fixa quando se atua nesse mercado. A variação é imensa, depende do momento. Já houve momentos em que o Gudan representava 100% da minha renda; em outros, meu trabalho pessoal representava 80%”, explicou. Ele também trabalha como influenciador em seu próprio perfil.

Mas nem todos os pet influencers já ganham o suficiente para bancar as despesas do seu dono.

A bióloga Larissa Vedolin, 23 anos, é a tutora e a voz por trás da cachorra da raça border collie Kurtney. Ela disse faturar, em média, R$ 300 por mês nas redes sociais.

Kurt, como é chamada, tem uma quantidade menor de seguidores: são 380 mil no TikTok e outros 44,5 mil no Instagram. As contas da cachorra têm cerca de um ano. O valor, segundo Edolin, é parcialmente investido em fundos e usado para comprar ração e outros produtos para a cachorra.

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Para se preparar, ela faz cursos de marketing digital enquanto continua a trabalhar em seu emprego principal, de vendedora de bonecas. “Estou fazendo um estudo atualmente das redes sociais, porque elas mudam e surgem nichos. Pretendo estudá-las mais”, contou. Vedolim afirmou que, um dia, espera conseguir se sustentar (e também Kurt) apenas com o trabalho de pet influencer.

Desafio de cão

Em 2021, o consumo do setor pet teve uma alta de 25% em relação ao ano anterior, segundo dados mais recentes do Itaú Unibanco (ITUB4); os gastos online mais do que dobraram, com alta de 143%.

Representantes da Geração Z - nascidos entre meados da década de 1990 e 2010, ou seja, com idade entre 12 e 27 anos - é a que mais gasta com os animais de estimação.

No ano passado, de acordo com estimativas do Instituto Pet Brasil (IPB), o faturamento do setor deve ter crescido 22%, ante um avanço de 27% no ano anterior, sob efeito dos preços mais altos de produtos.

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Essa leve desaceleração do consumo do mercado pet pode ser atribuída também à normalização da rotina das pessoas depois de dois anos mais rigorosos de pandemia, em que milhões de brasileiros passaram mais tempo em casa com seus animais de estimação, segundo alguns dos influenciadores.

“Quando nós surgimos, as pessoas estavam em isolamento e não encontravam amigos e familiares. Isso fez com que focassem mais nos animais, se apegando e se conectando mais com eles”, disse Zanq.

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“Isso mudou com a reabertura da economia. O padrão de consumo em redes sociais de conteúdos que tenham a ver com hábitos de dentro de casa, como os pets, diminuiu, enquanto aumentou aqueles relacionados à vida lá fora, como viagens”, afirmou.

Bagarolo disse entender que a área passa por um novo ciclo. “Hoje temos uma quantidade imensa de conteúdo. Passamos por uma expansão em 2020 e 2021, mas o espaço continua ali. Hoje precisamos trazer algo de novo para os seguidores e esse é um desafio”, afirmou.

“Temos um perfil de duas cachorras, verificado, com quase nove milhões de seguidores. Chega o momento em que o volume diminui, mas não para de crescer. Temos um grande potencial online e um vasto número de pessoas para atingirmos, mas os ciclos trazem alguns obstáculos”, disse.

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Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.