Bloomberg Línea — O mercado de crédito privado continua saudável apesar de eventos recentes de estresse que levaram à queda de valor de títulos de dívidas de empresas como Ambipar, Braskem e Raízen, de acordo com executivos da BlackRock, do Patria Investimentos e do Itaú, em evento da Bloomberg Línea nesta segunda-feira (27).
Um dos casos mais emblemáticos foi o da Ambipar, que pediu recuperação judicial na semana passada. Suas debêntures são negociadas a cerca de 15% do valor de face, indicando um deságio superior a 85% no mercado secundário.
Esses eventos, no entanto, não significam que o mercado de crédito privado está em crise. A avaliação foi compartilhada por Bruno Barino, CEO da BlackRock no Brasil, Marina Tennenbaum, sócia, COO e Head de Sales no Brasil do Patria Investimentos, e Sylvio Castro, Head de Global Solutions e Fund of Funds no Itaú.
Os três participaram do painel “Tendências de investimentos em 2026″ do Bloomberg Línea Summit 2025, no W Hotel, em São Paulo.
“Esses eventos que aconteceram foram relacionados a empresas mais alavancadas que estavam em um momento de ciclo desfavorável. Não acredito que estamos em um momento particularmente perigoso para a classe de crédito”, afirmou Castro, do Itaú.
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A carteira de crédito privado da Itaú Asset soma R$ 500 bilhões e, segundo o gestor, há “um conforto muito grande” no crédito que já foi concedido. O destaque é que o crédito corporativo continua saudável, diferentemente do que se vê no crédito para pessoa física, segundo ele.
A principal mudança que Castro identifica é o retorno desses produtos, que não está mais tão atrativo quanto em 2024 – ano em que o crédito privado se tornou o grande foco de investidores. O spread foi comprimido ao longo dos últimos meses com o aumento de volume de capital alocado na classe.
“O retorno esperado não é igual ao que foi nos últimos 24 meses – que foi absolutamente espetacular", disse.
Barino, da BlackRock, disse concordar que os eventos de crédito recentes são resultado de eventos específicos, sem prejuízo para a classe.
O executivo fez, no entanto, uma ressalva quanto à estruturação dos produtos, já que alguns fundos têm prazos de resgate curtos enquanto os ativos investidos são de longo prazo.
“Temos observado [uma grande] quantidade de veículos nos quais a liquidez é muito curta, mas com ativos de saída não necessariamente tão rápida. E aí é uma questão muito mais de preço do que de crédito”, apontou.
Tennenbaum, do Patria, também observou um descompasso na estruturação dos produtos.
“Não vemos risco no mercado de crédito, ao menos por agora. Mas existe uma questão de segundo plano de estrutura, é preciso ter alinhamento. A maneira como se estrutura o crédito hoje é muito relevante”, afirmou.
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